Page 9 - Boletim numero 261 da APE
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BOLETIM APE | ABR/JUN 2021
VIAGENS | CRÓNICAS
E sabem? O xisto não era xisto, mas sim musgo de tons cinzas esverdeados que refletiam a Luz como se fossem es- pelhos e nos dificultavam a vida na nossa ânsia de guardar o registo de tamanha beleza.
Pois é, grande parte do verde da Ilha deve-se ao musgo, às mil e uma espécies de musgo que forram a ilha e que, cres- cendo lentamente, vão cobrindo a rocha e retendo a água que vai correndo.
Há quem chame às Flores a Ilha Esponja pela sua enorme abundância de água que vai ficando retida na “esponja” de musgo que a cobre.
A propósito de água, a ilha tem cerca de 302 ribeiras de água doce que serpenteiam por todo o seu interior e se dei- xam cair livremente em bonitas cascatas quer para as lagoas quer para o mar.
No verão vemos pequenas linhas prateadas que escor- rem pelas falésias e pelas escarpas. Quando chove o espectá- culo começa com grandes caudais de água a caírem pelas paredes da ilha, quedas de água fabulosas por todas as en- costas e falésias costeiras.
Gostamos de ficar na Fajã Grande, uma das zonas balnea- res das Flores.
Aí criámos laços e amizades para a vida.
Quando começamos a descer para a Fajã, do lado direito, assistimos a um dos maiores espectáculos da Ilha e também um dos seus ex-libris – dezenas de quedas de água e cascatas por toda a encosta do Morro Alto como se a Terra chorasse copiosamente.
Aqui fica também um dos pontos obrigatórios de visita, a Alagoinha ou poço da Ribeira do Ferreiro ou Lago das patas. Deixamos o carro perto da ponte da Ribeira do Ferrei- ro, entre esta ribeira e a Ribeira Grande, e, mochila às cos- tas, máquinas fotográficas em riste percorremos por entre a floresta de Laurissilva cerca de 900m até chegarmos ao
Paraíso.
É difícil explicar o que se sente perante tanta beleza, tan-
ta paz, tanta natureza e tanto silêncio. Um silêncio que fala por si.
Este local é um Santuário...
Dezenas de cabelos de água que escorrem pela verdejan- te parede do morro.
Se formos ao fim da tarde, o sol ilumina esta parede dan- do-lhe tons diversos de amarelo, verde alface, verde escuro a contrastar com o brilho da água.
Se tivermos a sorte de estar sós, o silêncio é só quebrado pelo murmurar da água e algum garajau que esvoaça por aí.
É uma beleza de nos encher a alma.
Tentamos absorver todo o local.
Tiramos algumas fotos, mas nenhuma consegue trazer
aquilo que os nossos olhos veem e que os nossos sentidos absorvem.
É uma experiência única a não perder.
Um dia decidimos fazer o percurso das Lagoas e da Re- serva do Morro Alto. Aliás, toda a Ilha, junto com a Ilha do Corvo, fez parte da Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.
Um percurso de 7,3 km que pode começar junto ao Poço do Bacalhau ou junto às Lagoas Negra e Comprida.
Dizem que demora 3h a fazer, mas isso é só para quem quer andar e não pára de 5 em 5 minutos para tirar umas fo- tografias, ao musgo, à abelha, à borboleta, ao passarinho, às lagoas...
Quem gosta de começar o percurso a subir a falésia, co- meça no Poço do Bacalhau, quem, como nós, prefere descer um declive de 70%, começa nas lagoas.
O percurso é “simples”. Começamos no miradouro das lagoas onde se pode ver uma lagoa de águas negras ao lado de uma lagoa mais verdejante e comprida. São a Lagoa Ne- gra e a Lagoa comprida.
Contornamos a Lagoa comprida até chegar à estrada que vai para Ponte Delgada e podemos visitar a Lagoa seca.
Uma lagoa sem água, mas com uma flora espantosa.
Em todo este percurso vamos tendo vegetação baixa em especial sanguíneo, bucho do mato e musgão.
Depois da Lagoa seca vamos passar perto da Lagoa Bran- co por caminhos bem molhado cobertos de água, lama e musgo antes de começarmos a subir a estrada de gravilha que vai até ao ponto mais alto da Ilha, o Morro Alto.
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