Page 11 - Boletim numero 261 da APE
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BOLETIM APE | ABR/JUN 2021 EU, O GENERAL CORREIA BARRETO...
A Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada
Na iconografia conhecida do General António Xavier Correia Barreto, o uso de condecorações não é usual. No máximo, surge-nos o General Correia Barreto far-
dado com as fitas simples das medalhas de que tinha sido credor. Esta aversão, chamemos-lhe assim, ao uso de conde- corações emana do ideário republicano no qual todos os ci- dadãos são iguais perante a sociedade. Por isso, qualquer elemento distintivo é contrário a essa desejada igualdade.
Essa foi uma das razões que levou à extinção das antigas Ordens Honoríficas de origem religiosa (Ordens Militares de Cristo, Avis e Santiago da Espada) pelo I Governo Provisório da República1, do qual Correia Barreto fazia parte. Pela mes- ma razão, o decreto-lei fundador do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército (IPPE) refere explicitamente na alí- nea h) do seu artigo 26o:
h) Será igualmente prohibida a distribuição solem- ne de prémios e de distinctivos que signifiquem mando, ou superioridade moral ou intelectual;2
O que anteriormente expus torna extraordinária a foto- grafia que será alvo da nossa atenção. Trata-se de um docu- mento3 existente na Torre do Tombo – esse manancial ines- gotável de informação – em que surge o General Correia Barreto, entre outros, em traje civil formal com as insígnias da Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada4.
Tanto quanto julgamos saber, esta fotografia é única nes- ta vertente galerística e estava inédita.
A fotografia foi tirada na Nunciatura Apostólica em Lis- boa, a 12 de Fevereiro de 1926, por ocasião de um banquete comemorativo do 4o aniversário da entronização do Papa Pio XI, e no qual participaram as mais elevadas figuras institucio- nais da época.
Sentados estão, da esquer- da para a direita, o Núncio Apostólico Monsenhor Sebas- tião Nicotra, o Presidente da República Dr. Bernardino Ma- chado (sendo visível a Banda das Três Ordens privativa da função presidencial e a res- pectiva placa de peito) e o Ge- neral Correia Barreto, à época Presidente do Senado.
Das condecorações do fun- dador do IPPE, podemos clara- mente identificar o colar e a banda de Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada. Estão ainda visíveis na casaca duas placas de peito, sendo de estimar que se trate das pla- cas de Grã-Cruz de Santiago e da Ordem Militar de Avis, ou
seja, as condecorações portuguesas que recebeu após a im- plantação da República5. Como se encontra perante o Grão- -Mestre das Ordens Honoríficas portuguesas, o Gen. Correia Barreto usa a banda sobre o colete e sob a casaca.
De pé, por trás dos cadeirões, encontram-se diversos mi- litares, eclesiásticos e civis, que a legenda da Torre do Tombo nomeia como Monsenhor Anaquim, Dr. Pedro Martins, Arce- bispos de Évora e Braga, Comandante Pereira da Silva, Gene- ral Vieira da Rocha, Tenente-coronel José Mascarenhas, Dr. Vasco Borges, António Maria da Silva, Dr. Rodrigues Gas- par, Dr. Cardoso de Oliveira, Mr. Finn Koren, Don Alejandro Padilla e Conde de Lichetervelde.
Ao fundo, atentos, pontuam dois grandes retratos de SS. SS. os Papas Pio IX, o último papa-rei, e Bento XV.
1 Seriam reestabelecidas na decorrência da Grande Guerra (em 1917 a Ordem Militar de Avis, em 1918 as Ordens Militares de Cristo e de San- tiago da Espada) pela necessidade sentida pelo Estado de possuir con- decorações com as quais distinguir serviços e acções meritórias.
2 Da mesma forma que as ordens honoríficas foram reestabelecidas, também estas regras foram abolidas pelo Regulamento do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército (Decreto n.o 5142 de 5 de Feverei- ro de 1919) que criou recompensas escolares e graduações para os alunos.
3 Código de Referência PT/TT/EPJS/SF/001-001/0001/0214A
4 Foi agraciado pelo Decreto de 6 de Maio de 1919 da Secretaria de Esta- do da Guerra (publicado na Ordem do Exército 14, 2a Série, 1919) em simultâneo com o General José Rodrigues Lopes de Mendonça e Ma- tos e o General graduado João Maria de Almeida Lima (todos no grau
de Grã-Cruz).
5 Durante a vigência da Monarquia, Correia Barreto recebeu diversas
medalhas militares que tinham no anverso o busto do Rei D. Luís I. Recebeu também diversos graus da Ordem Militar de Avis cujas insíg- nias ostentavam a coroa real.
Rui Santos Vargas 19810132
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