Page 10 - Boletim numero 261 da APE
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CRÓNICAS | VIAGENS
BOLETIM APE | ABR/JUN 2021
Não vamos subir até ao topo porque as pernas já nos doem. Vamos visitar algumas amigas vacas e atravessar al- guns pastos até chegarmos ao topo da falésia.
Daqui a vista perde-se entre o mar e a terra.
Em baixo, a Fajã Grande contrastando o azul do mar com a rocha negra e a manta de retalhos verde.
Ao fundo o Ilhéu de Monchique, o ponto mais Ocidental da Europa.
Se formos junto ao fim do dia, ainda podemos ser presen- teados por um maravilhoso pôr do Sol.
Depois vem a parte “melhor”, a descida até ao Poço do Bacalhau e o vislumbre de pode comer uma bifana de chorar por mais e umas cervejolas bem fresquinhas.
Umas vezes descemos a pé, outras de rabo no chão e nem tempo há para fotografias. Há que olhar bem o terreno e ver onde pomos os pés antes que algum azar aconteça...
São mais de 2 km a descer cautelosamente e a parar para “admirar” a paisagem e respirar fundo para dar mais uns passos.
A bifana é bem-vinda e já sentimos o cheiro... mas os “gêmeos” doem, o corpo doi, o suor escorrega pelo corpo qual cascata da Ribeira Grande, mas a alma, o espirito, a men- te estão cheios e em paz.
Todos os percursos que se fazem por esta Ilha são como uma experiência interior única que nos ajuda a conhecermo- nos melhor, a respirar natureza, e a querer lá voltar, lá viver.
Uma vez fomos ao supermercado e acabámos por estar na amena cavaqueira com a senhora da caixa.
As prateleiras não tinham muito coisa.
Não tinha chegado o barco e, portanto, pouco havia para comprar.
Mas havia a humildade e afabilidade da senhora da caixa que nos foi pondo a par de alguns dos problemas da Ilha, como por exemplo a falta de abastecimento quando havia temporais.
No fim de muito conversarmos e na despedida recebe- mos de uma forma muito simples esta frase: “ Obrigada por terem falado Comigo”.
Não fomos obrigados a falar com ela, foi de coração e aquela frase ficou-nos na mente até hoje.
As gentes das Flores, são simples, são amigas, são sim- páticas, prestáveis e afáveis.
Há Florentinos e Florentinas, mas também há Transmonta- nos, Alentejanos, Lisboetas, Brasileiros, Franceses, Alemães, Açoreanos das outras ilhas. Todos se apaixonam pela Ilha das Flores de uma forma ou de outra e acabam por lá ficar.
Abrem restaurantes, criam outros negócios, trabalham para outros, apaixonam-se e vão ficando por lá.
O Inverno pode ser muito duro, mas o Florentino já sabe e prepara-se.
O verão é maravilhoso, há sol, mas também pode haver chuva e nevoeiro e arco-íris.
Vêm os turistas e há muito trabalho na Ilha. Os restauran- tes não têm mãos a medir. Há peixe bom e fresco, cavacos e lapas.
Há linguiça com inhame e batata doce.
Há boa carne e boa comida transmontana e há bifanas especiais e deliciosas principalmente depois de um dia de ca- minhada.
Há bom leite e boa manteiga.
Percorrer a Ilha de carro é rápido e fácil, mas não é ver a Ilha.
Em todo o percurso há miradouros que nos obrigam a pa- rar e a admirar a beleza do mar, o verde da Ilha, as escarpas para o mar, a Ilha do Corvo, os pássaros, as hortenses, as ro- cas de velha, as pedras, as variadas ilhotas que existiam por toda a costa escarpada das Flores obrigando os barcos a fa- zer gincanas.
Passear de barco admirando as escarpas e as grutas é uma aventura e quem for mais afoito pode experimentar o canyoning ou mergulhar no meio de meros e golfinhos e todo o tipo de peixes que se passeiam nos mares das Flores e no canal com o Corvo.
Uma das diversões no Verão é escutar as cagarras e imitar o seu som que mais parece um riso. Até parece que se estão a rir de nós e a gozar com a nossa cara!
Um dos meus projectos é conseguir fotografar todos os miradouros.
Já comecei, mas falta sempre algum ou está enevoado e tem de ficar para a próxima, mas a pouco e pouco irei fazer um roteiro falando de cada um e mostrando a beleza que se pode observar de cada um deles.
Um dos miradouros a não perder é o miradouro onde se pode observar o outro ex-libris das Flores – a Rocha dos Bordões.
É uma formação geológica única, tendo só semelhan- ças com o Passeio dos Gigantes em Causeway na Irlanda do Norte.
Enormes colunas de basalto que se erguem ao céu e que terá tido origem de um cone vulcânico que ao longo de milhares de anos foi sendo sujeito a erosão. Uma espessa ca- mada de basalto que arrefeceu com rapidez ficando com o aspecto de um enorme conjunto de bordões.
No sopé deste morro que ostenta a Rocha dos Bor- dões uma pequena cascata ajuda a fazer deste local um local especial.
Gostaria de vos falar ainda da Lagoa da Lomba e da estra- da da Pedrinha onde se podem observar as Lagoas Funda e Rasa de uma forma especial.
Gostaria de vos falar das vilas de Santa Cruz e das Lages, e de todas as povoações por onde vamos passando.
Gostaria de vos falar mais da Fajã Grande e da Fajãzinha.
Gostaria de vos falar de Fajã de Lopo Voz e da Praia da Alagoa.
Gostaria de vos falar de tanta coisa que me apaixona nes- ta Ilha e que me faz voltar sempre. Talvez me faça lá ficar um dia...
Gostaria de vos falar do mar do canal, dos golfinhos e dos cachalotes, das praias de calhau e das piscinas naturais, mas este resumo já vai longo e...
Talvez um dia destes eu vos fale de muito mais, mas gos- to pouco de escrever, gosto mais de falar por imagens...
Fiquem bem e visitem a “minha” Ilha das Flores quando puderem.
Podem ver mais fotos através da leitura do QRCode ou acedendo à página da APE www.ape.pt
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