Page 10 - Boletim numero 259 da APE
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 EU, O GENERAL CORREIA BARRETO...
       Nota de Editor: Em 2021 o IPE comemora os seus 110 anos, e iniciamos a comemoração com a publicação de pequenos aponta- mentos e curiosidades que nos irão dar a conhecer o seu fundador, o General Correia Barreto. Este trabalho e os pequenos artigos são de autoria do antigo aluno Rui Santos Vargas (19810132), a quem não podemos deixar de agradecer a preciosa colaboração.
 General Correia Barreto
O Baptismo
Rui Santos Vargas
198110132
Aos desanove dias do mês de Março de Mil oitocentos e cincoenta e três, nesta Paroquial Igreja de Santos o Velho, Baptizei solenemente, e pus os Santos Óleos, a Antonio, que nasceo a cinco de Fevereiro do mesmo Anno, filho legitimo de Antonio Correia Barreto, Baptizado na Freguezia de Nos- sa Senhora da Ajuda, e de D. Ignez Quintina Xavier de Araujo Correia Barreto, Baptizada na Freguezia de Nossa Senhora da Lapa, moradores na Travessa de Santo Antonio, numero déz, Padrinho o Excellentissimo Senhor Conde de Thomar, Antonio Bernardo da Costa Cabral, cazado, e actualmente residente em Thomar, e Madrinha a sua Esposa, a Excelentis- sima Senhora Condessa de Thomar, a Senhora D. Luiza da Costa Cabral, e em virtude de Procuração passada por suas Excelencias, ao Illustrissimo Senh. Francisco Benedicto Ferru- gento, cuja Procuração foi pelo mesmo aprezentada, no acto do Baptismo, e fica no Archivo desta Igreja. E para constar, mandei passar o prezente, dia, mês, Era ut supra.
O Prior Pedro Anto de Sga Gomes
Ressalta neste registo de baptismo a, à primeira vista surpreendente, referência aos padrinhos Condes de Tomar, António Bernardo da Costa Cabral, que ficaria para a histó- ria conhecido como o estadista Costa Cabral, e sua esposa Louise Mitchell Meredith Read Costa Cabral.
Costa Cabral, que como Correia Barreto desempenhou altos cargos no Estado e na maçonaria portuguesa, foi responsável por uma etapa necessária no liberalismo portu- guês. Costa Cabral consoli-
dou o Estado liberal, assen-
te numa forte centralização
e complexa burocracia, e
lançou os alicerces do ac-
tual Estado português, ten-
do chegado aos nossos dias
muitos dos seus traços.
Esta informação, de que Costa Cabral era padrinho de baptismo de Correia Bar- reto, tanto quanto julgo sa- ber inédita, dá-nos pistas para entender, a vivência e o ambiente familiar de Correia Barreto de que pouco se sabe.
              Durante os últimos anos do regime monárquico, os republicanos arvoraram duas importantes bandei- ras, e por elas se bateram. Eram elas: o Registo Civil e a Separação da Igreja do Estado. Estas bandeiras visavam, sucintamente, a laicidade do Estado, a dessacralização dos momentos da vida de uma pessoa – nascimento, casamento e óbito – e ainda gerar um registo que substituísse aqueles que eram feitos nas paróquias. Para a concretização desta militância, realizada através de associações de inspiração maçónica e positivista, criaram a Associação Promotora do Registo Civil, instituída a 18 de Novembro de 1876, a Asso- ciação dos Livres Pensadores, que surge em 1880, e a Asso- ciação do Registo Civil e do Livre Pensamento, fundada a 5 de Agosto de 1895.
António Correia Barreto, que foi membro desta última associação, naturalmente que perfilhava esta maneira de pensar, e é o governo que integra – o Primeiro Governo Pro- visório da República Portuguesa – que vai concretizar estas intenções através do “Código do Registo Civil”, de 18 de Fe- vereiro de 1911, e da “Lei da Separação da Igreja do Estado”, de 20 de Abril de 1911.
Malgrado tudo isto, António Xavier Correia Barreto, que nasceu em 1853, foi naturalmente baptizado. O registo do seu baptismo encontra-se no Arquivo Distrital de Lisboa, no livro de registo de baptismos 1846/1854 (código de referên- cia PT/ADLSB/PRQ /PLSB37/001/B40), e transcreve-se de seguida respeitando a grafia da época:
8 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro
     












































































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