Page 11 - Boletim numero 259 da APE
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CULTURA E CONHECIMENTO
A Província Cisplatina
Sabia que... a Província Cisplatina foi portuguesa apenas por um ano? E que... nesse momento o se- cular Reino de Portugal e dos Algarves chamava-se dAe Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves?
Cisplatina foi uma província do Reino Unido de Portu- gal, Brasil e Algarves, o novo nome para o antigo Rei- no de Portugal e Algarves, dado o facto da Corte e da
Família Real portuguesa se encontrar na colónia do Brasil, numa situação politicamente estranha. Com este novo nome procurou-se harmonizar com os princípios do Congresso de Viena de 1814-1815, onde as potências europeias procura- vam redesenhar o mapa político do continente após a derro- ta da França napoleónica.
Entretanto na América do Sul, no vizinho Vice-Reino da Prata (Argentina), os espanhóis, agora com José Bonaparte como rei, irmão do Napoleão Bonaparte, combatem os insur- rectos que alcançam a independência a 25 de Maio de 1810, embora nunca chegando a controlar a totalidade do Vice- -Reino. Em 1811 diversas insurreições na região transplatina levam a que D. João VI envie para a região um batalhão deno- minado Exército de Pacificação da Banda Oriental, visando ganhar adeptos para o partido da sua mulher Carlota Joaqui- na, irmã do deposto rei espanhol Fernando II, para que esta, se aceite como tuteladora da Cisplatina, tornasse mais fácil a integração da região na Coroa portuguesa. Entre gestos ami- gos e hostis muita localidade da região gaúcha, é acrescenta- da ao Brasil. Entretanto em 1814, na margem oriental do rio Uruguai o chefe de um dos grupos insurrectos, o coronel José Gervásio Artigas, criava a Província Oriental já sob o mando do governo do agora chamado Províncias Unidas do Río da Plata. A Província Oriental compreendia o território entre o rio Uruguai e a costa atlântica, e a Norte o território brasileiro do Rio Grande do Sul.
Em 1815, com a restauração dos Bourbons em Espanha, D. João VI pressionado pela rainha Carlota Joaquina, alegando direitos sucessórios da mesma sobre a região e receando a formação de um bloco político espanhol poderoso no rio da Prata, envia para o Sul o general Carlos Frederico Lécor à fren- te da “Divisão de Voluntários Reais”, composta por 10.000 mi- litares. É objectivo a conquista de toda a Província Oriental. Aqui, José Artigas, já em rota de colisão com as “Províncias Unidas del Río de la Plata” e livre do controlo espanhol na área Cisplatina e desejando a independência da margem esquerda do Rio da Prata, promove uma luta de guerrilha, mas é derro- tado pelos portugueses na batalha de Catalán, o que leva a que Montevideu fosse conquistado em 1817. Uma nova vitó- ria portuguesa na batalha de Tacuarembó, em 1820, estabele- cerá em definitivo o domínio português na região.
Em 1820 a região apresentava uma grande devastação pela guerra de alguns anos. As desordens eram uma constante. A fome reinava e os campos estavam despovoados de gado. Mas Lécor conseguira rapidamente restabelecer a ordem, impor o respeito à sociedade local e criar uma política de porto aberto. Tudo isto levou a população, mais num sentimento de pragma- tismo do que ideológico, a aceitar uma solução salvadora e,
Cândido Azevedo
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nessas condições deu-se a incorporação da banda Oriental ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Para formalizar e não querendo dar um sentido de con- quista, mas de incorporação, Lécor reuniu, no que chamou Congresso Nacional do Estado Oriental do Rio da Prata, re- presentantes da região que sancionaram a anexação da Pro- víncia pelo Tratado de 31 de Julho de 1821. Ficou decidido chamar-se Província Cisplatina (prefixo cis, do mesmo lado, e platina do Rio da Prata). Montevideu torna-se a capital. A Co- lónia do Santíssimo Sacramento, perdida para a Espanha em 1778 pelo tratado de Santo Ildefonso, voltava a fazer parte dos domínios portugueses.
A 7 de Setembro de 1822 o Brasil torna-se independen- te de Portugal, declarando-se Império do Brasil, sob a governação do Imperador Pedro I, filho do rei D. João VI. Parte da guarnição de Montevideu, comandada pelo bri- gadeiro Álvaro Macedo permaneceu fiel ao rei de Portugal. O General Lécor, após alguma hesitação, declara-se súbdito do Imperador Pedro I, pelo que cerca e obtém a rendição dos fiéis a D. João VI.
O domínio de Cisplatina sob a bandeira das Quinas dura- ria pouco mais de um ano, ou seja, desde o seu reconheci- mento pelo Tratado de 31 de Julho de 1821 até à indepen- dência do Brasil a 7 de Setembro de 1822.
(Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro | 9