Page 29 - Boletim numero 257 da APE
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 EM FOCO APE
                  Manuel João Mourato Talhinhas
19560169
Dia do aniversário do Pilão, da nossa festa principal. Dia de desfile na Avenida e missa na Sé.
Dia de bife com ovo a cavalo.
Tarde de saída geral e ida ao cinema.
O Batalhão com quatrocentos e trinta alunos, a quatro com- panhias, em frente de nove, tinha de treinar bem os alinhamen- tos pela frente e laterais, muito treino de parada sob o olhar atento dos instrutores, do Maj. Marques Lopes (o Vávura) e do Cap. Ataíde.
Eram horas e horas de treino.
Alinha bem... cobre pela frente... assenta a planta do pé no chão com força até o alcatrão gemer... mais cagança... marchar à Pilão.
E no dia 25 de Maio, manhã cedo, os carros elétricos apa- nhavam-nos na estrada de Benfica, levavam-nos à Barata Sal- gueiro onde se iniciava o desfile Avenida da Liberdade abaixo, Rua do Ouro e Calçada da Sé.
O nosso desfile despertava a curiosidade dos lisboetas, era acompanhado por muitos Pilões que gritavam as “jacarézadas” avenida abaixo.
E lá íamos todos nós, muito vaidosos, farda azul, luvas e ar- reios brancos, barretina nas cabeças com o penacho bem pente- ado, Maneliker na mão e ombro esquerdos, cabeça erguida, peito para fora ao som das marchas militares e da fanfarra.
Ao entrar na Sé íamos diretos para os claustros, depois do “funeral armas” ocupávamos os nossos lugares para a cerimó- nia religiosa. A malta do canto coral subia as escadas e agrupa- va-se, contraltos ao meio, tenores e baixos de cada lado.
O nosso coro cantava missa a três vozes sob a direcção do nosso maestro, por todos os da minha geração conhecido por “Trombone”, Dr. Luís Cerqueira.
Durante os meus dez anos de Pilão, nove anos cantei missa.
A malta cantava bem, vinham muitos lisboetas assistir à mis- sa só para ouvirem o coro do Pilão.
Depois da missa seguíamos em formatura até ao Terreiro do Paço onde embarcávamos de volta à casa mãe.
Eram horas de almoço, invariavelmente bife com ovo estre- lado e batatas fritas, seguia-se um pudim de ovos, um bolo e um cálice de vinho do Porto. Era um fartar vilanagem.
Depois do belo almoço a tarde era livre, a malta mais velha zarpava para Lisboa, aproveitavam para lavar a vista, eu e o meu grupo zarpava para o Jardim Cinema, por quinze tostões assistí- amos a um bom filme, eu era dos frequentadores da sala, foi lá que me iniciei no bilhar.
Acabada a sessão era tempo de regressar a penates, apa- nhar o elétrico até Benfi- ca, jantar e ir prá sala jo- gar ping-pong até ao
toque de recolher.
E assim passava o 25
de Maio nos meus tem- pos.
Canto Coral
Vítor Grilo
19700301
           Foi em Maio de 1968 que tive pela primeira vez con- tacto com o que era a comemoração do aniversário da Escola que sabia que um dia seria a minha. E assim foi.
Três anos depois estava a viver por dentro o que era um “25 de Maio”. um sentimento ainda hoje intransmis- sível por palavras. Só quem o viveu pode avaliar o arre- pio que se apodera de nós quando lá voltamos para co- memorar mais um aniversário.
Lembro-me bem, quando da primeira vez, a sensa- ção de receio de que algo corresse mal. O passo trocado, o manejo de arma dessincronizado. Mas também do or- gulho que foi participar em tal evento. Desfilar primeiro, fazer parte da classe de ginástica do parafuso e ficar a assistir à exibição da classe do prego, aqueles “homen- zarrões” que desciam em slide do topo do ginásio até à pista de obstáculos que se estendia ao longo do muro, ao tatoo militar e finalmente à exibição da classe espe- cial de ginástica com uns rapazes com uns peitorais e uns abdominais bem definidos vestidos com uns calções pre- tos com uma risca lateral branca, a demonstrar a sua for- ça e destreza primeiro nos pares e depois o arrojo dos saltos de tapete, mini trampolim, cama elástica e final- mente a mesa alemã em que saltavam por cima de espa- das desembainhadas e mannlichers com o sabre tam- bém desembainhado e que havia sempre um “cromo” que fazia mais uma pirueta ou um duplo mortal.
Não me lembro, honestamente, quem era o cromo nesse anos, mas para um miúdo de 10 anos com uma falta de jeito para a ginástica atroz, aquilo era sublime, terminando, ainda por cima, desfilando a cantar o hino do Pilão.
Mal sabíamos nós que alguns daqueles rapazitos que marchavam ao meu lado viriam a fazer parte do nosso generalato.
Eram, e são dias, que não esquecemos. Todos os anos lá estamos a assistir com orgulho às exibições dos actuais alunos e alunas e a participar no desfile do Bata- lhão da Saudade.
Mesmo que este ano estejamos confinados, vamos estar lá em pensamento.
Ao Pilão, Salvé, Salvé, Salvé É jacaré?...
    Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho | 27
  25 de maio de 1968
25 de maio de 1981






























































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