Page 28 - Boletim numero 257 da APE
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 EM FOCO APE
               O nosso Instituto fazia cinquenta anos de existência, quando me preparava para o deixar rumo à Escola Naval ou à Academia Militar ‒ foi nesta última que entrei, em Outubro.
Cinquenta anos, para trás ou para a frente, quando se é bastante jovem, corresponde a uma imensidade de tempo. Eu achava que o Pilão era velhinho. Recordo-me de ter feito contas e dizer, de mim para mim, que não ia assistir ao cen- tenário!
Era comandante de pelotão da 3.a companhia de alunos e chefe de uma camarata nessa mesma companhia. No dia 25 de Maio desfilámos, como era habitual, na avenida da Li- berdade, vindos da rua Barata Salgueiro até à Sé de Lisboa. Estávamos num tempo em que, ainda, o trânsito parava para deixar passar uma formatura militar. Pedi cagança aos meus condiscípulos (rapaziada entre os quinze e dezasseis anos de idade), especialmente quando passámos frente ao monu- mento aos mortos da Grande Guerra, local onde se encon- travam as entidades oficiais e fazíamos olhar à direita. Fo- mos impecáveis!
Mas, para se compreender este estado de espírito é ne- cessário recuar até Outubro de 1954, data da minha admis-
Mariana Baptista
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As memórias são inúmeras, mas escolhi uma que consi- derei engraçada partilhar convosco. Os momentos são úni- cos e quem os vive é que os entende, mas espero que com esta minha memória se possam sentir na minha pele, como se vocês mesmo tivessem vivenciado aquele momento.
25.05.2018
Após ter reunido com o Batalhão no internato para umas breves palavras antes da grande cerimónia do aniversário do pilão, dei indicações aos respetivos Comandantes de Companhia para encaminharem os miúdos para a parada inferior (já estava tudo pronto). Começou-se a formar o ba- talhão, tudo apresentado e pronto. Foi então que me aper- cebi que estavam todos prontos menos eu. Estava tão preo- cupada com o batalhão que me passou mesmo ao lado, não tinha o fiador da espada. Normalmente este fiador já se encontra na espada quando o aluno graduado a levanta do armeiro, mas como a minha tinha chegado há breves horas
Luís Alves de Fraga
19540282
são no Instituto; as condições de vida dos alunos estavam longe de ser boas, desde um inapropriado uniforme interno até a à palamenta do refeitório, passando pelas camas e col- chões. No final de 1955, foi colocado como subdirector o, então, tenente-coronel Alfredo Ferreira Gonçalves que, já no posto imediato, no ano seguinte, assumiu a Direcção do Ins- tituto e iniciou uma reforma completa nos hábitos e costu- mes bem como nas infraestruturas da nossa Casa. Aos pou- cos, ganhámos comodidades e qualidade de vida.
Recordo, com saudade, que, nesse ano lectivo de 1960/61 fui protagonista do primeiro passo de um acontecimento cultural notável e que trouxe delegações do Instituto de Odi- velas e do Colégio Militar a assistir aos célebres Serões Cultu- rais, verdadeiros espectáculos de luz, som e cor. A ideia par- tiu do capitão Pedro Alves Cabral, comandante da minha companhia, que, apoiado em mim e na habilidade pictórica do José Maria Barata Feyo de Oliveira, com apoio de mais dois outros jovens, pôs de pé o primeiro Serão cuja temática versava a acção da Legião Portuguesa na invasão napoleóni- ca da Rússia. Dado ter sido um sucesso, avançou-se para a montagem de algo inédito entre nós.
Essas actividades tinham, em 1960/61, um ambiente ex- celente, pois festejava-se o quinto centenário da morte do Infante D. henrique, O Navegador.
Tornou-se um ano inesquecível, porque foi perceptível que estávamos a atingir o auge do desenvolvimento pedagó- gico da nossa Casa; haviam sido lançadas as bases para os tempos áureos, que se prolongaram até depois de 1974.
ao IPE não tinha o seu fiador em virtude da sua reparação. Para quem não se recorda, o fiador é um género de “pul-
seira” para segurar a espada ao pulso.
Foi então que o Sr. Capitão Lopes Martinho, passando
por mim já formada, me pergunta se está tudo pronto. De imediato lhe repondo que me falta o fiador. qual é o meu espanto quando ele tira do seu bolso exatamente aquilo que me fazia falta. Foi a minha salvação!
25 de maio é sinónimo de aprumo, azáfama, nervosismo e muito orgulho. Poderia ter escolhido escrever sobre isso, mas, há pequenos gestos que fazem a diferença...
                  26 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho
1961 – Comando do pelotão desfile de 25 de maio
25 de maio de 2018











































































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