Page 26 - Boletim numero 257 da APE
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 EM FOCO APE
    Nota do Editor: O meu 25 de maio
A comemoração do 25 de maio é a festa maior dos Pupilos, é a nossa festa! Os alunos preparam-se durante o ano para poderem desfilar garbosamente perante familiares, antigos alunos e convidados.
A ginástica, as exposições, o coro e na última década o Batalhão da Saudade fazem parte da festa.
Tempos diferentes pressupõem ações e atitudes também elas diferentes. Considerando que este ano o COVID-19 estragou-nos os planos (tradicionais) das comemorações do 25 maio (que foram muito reduzidas ou nulas), a equipa do Boletim convicta que nada nos impede de festejarmos esta data de uma forma diferente, resolveu lançar o repto e convidar Antigos Alunos de várias gerações, para escreverem um artigo sobre um qualquer 25 de maio, que por alguma razão o possa ter marcado – o meu 25 de maio! Poderá ser o primeiro, o último ou qualquer outro...
            Abdel Camará
19960816
Do nervosismo e ansiedade do primeiro à nostalgia do meu último 25 de Maio como aluno do IPE.
Podia escrever uma série de memórias sobre vários 25 de Maio e confesso que me dá arrepios quando navego no meu baú de memórias Pilónicas. Mas hoje, vou falar de um... ou talvez 2, se me permitirem, mais marcantes 25 de Maio da minha vida como aluno do IPE.
Estava eu no 5o ano de escolaridade e no meu 1o de 12 anos de barretina à cabeça e de crachá ao peito.
Em Setembro de 1996 tudo era novo para mim. Lá esta- va eu, um jovem de 11 anos proveniente da Guiné-Bissau e muito ansioso para conhecer todos os cantos à casa e enver- gar, orgulhosamente, a farda que tanto embeleza e repre- sentava uma causa maior para todos os Pilões.
Os meses foram-se passando e muito se ouvia falar da tão esperada cerimónia do 25 Maio. Com o aproximar do mês de Maio, esta ansiedade aumentava, substancialmente, e com um sentimento de presença muito forte. Eu lembro-me bem de tanto querer participar na cerimónia que tinha todo o cui- dado para não me lesionar durante brincadeiras no internato e/ou atividades desportivas curriculares. Para mim, não po- der representar o meu pelotão e a minha companhia no 25 de Maio, seria um ato de fracasso e de desilusão pessoal. Afi- nal de contas seria o meu primeiro aparecimento no tão es- perado “show” do ano e que movia e canalizava toda a comu- nidade Pilónica para dois lugares muito caraterísticos para esta celebração - o Mosteiro dos Jerónimos de manhã e a parada inferior da 1a secção do IPE à tarde.
Passados tantos treinos conjuntos do batalhão escolar, em que aprumamos e sintonizamos todas as cadências da marcha e perfilamo-nos exemplarmente, chegaria a véspera do tão esperado dia. Os preparativos eram imensos. Desde o engraxar dos sapatos, o montar e alinhar dos designados arreios brancos no dólmen da farda no 1 para que não se perdesse tempo algum na manhã seguinte, até ao arear dos botões das nossas fardas e das dos mais velhos, como man- dava a tradição.
A manhã de 25 de Maio de 1997 foi uma manhã ines- quecível para mim. Come- çou por volta das 6 da ma- nhã, mais cedo que as restantes, mas dormir pou- co nunca soube tão bem, eu estava super empolgado! Lembro-me bem do cheiro fresco e a brisa matinal da- quele dia que se tornaria um dos mais quentes de Maio.
às 9h00 começaram as cerimónias e, sem darmos por isso, o dia chegaria ao fim após a demonstração das activida- des desportivas. Tudo correu super bem e o final do dia trou- xe um sentimento de dever cumprido e um grande orgulho por ter participado naquele que seria o 1o de 11 cerimónias do género durante o meu percurso como aluno. Foi um dia que marcar-me-á para sempre e cheio de boas memórias.
Podia ficar-me por aqui, mas não seria justo não falar do meu último 25 de Maio. Este foi igualmente muito marcan- te pela nostalgia, sentimento prematuro de saudade e dis- rupção com a casa que me viu crescer, de menino a homem. Foi um misto de emoções entre a alegria de terminar um percurso académico superior e o iniciar de uma carreira profissional e, ao mesmo tempo, deixar para trás algo que fazia parte da minha identidade, que era o Pilão. Vivi todos os momentos desse dia especial duma forma MuITO inten- sa. Lembro-me perfeitamente de querer aprumar-me como da primeira vez e ter que lidar com a tristeza que se mani- festava através das lágrimas que lentamente percorriam o meu rosto por ser a minha última vez que, como aluno e adjunto ao comandante de batalhão, estaria a envergar a nossa tão linda farda de gala.
Todas as pessoas que me conhecem, dentro e fora da nossa comunidade, sabem o quão importante foi e é o IPE para mim. É um orgulho enorme pertencer à família Pilóni- ca. Eu acredito que todos tivemos experiências diferentes nas nossas caminhadas, mas a minha foi muito especial e bastante enriquecedora que as palavras nunca poderão descrever na íntegra.
O Pilão deixará, sempre, uma saudade enorme e por isso levo o seu lema comigo para todo o lado...
querer é Poder!
      24 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho
25 de maio de 2008














































































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