Page 9 - Boletim APE 253
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  Cultura e ConheCimento
Messier 87
              Foto retirada de Mhttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4f/Black_hole_-_Messier_87_crop_max_res.jpg
essier 87, ou simplesmente M87 para os amigos, é uma galáxia supergigante, a maior que se encontra na vizinhança da Terra, a uns “meros” 53 milhões
de anos-luz (ou seja, a sua luz leva 53 milhões de anos a chegar até nós). É tão grande que a luz demora cerca de um milhão de anos a viajar de uma ponta à outra da galáxia. De outra perspetiva, a M87 encontra-se “somente” a 53 vezes o seu tamanho de nós. A título de comparação, a Via-Láctea, galáxia onde se encontra a Terra, tem um diâmetro de ape- nas 150 mil de anos-luz.
O nome de Messier 87, deve-se a Charles Messier, um astrónomo francês que a observou pela primeira vez em 1781, e a catalogou juntamente com 86 outros objetos des- cobertos previamente. Inicialmente foi identificada como sendo uma nebulosa, só em 1926 se compreendeu a sua verdadeira natureza. É uma galáxia de forma esférica e aver- melhada, o que indica que é essencialmente composta por estrelas “velhas” (ver Boletim no 225). Possui cerca de mil milhares de milhões de sóis (1,000,000,000,000 estrelas), daí ser considerada uma supergigante.
A M87 é ainda uma forte emissora de ondas rádio. Ob- servações com modernos telescópios (como o Hubble) mos- tram jatos de matéria a serem emitidos do núcleo da galáxia e que se estendem por milhares de anos-luz. Este fenómeno é observado em muitas outras galáxias, denominadas por “galáxias ativas”. Acredita-se que no centro destas galáxias existe um buraco-negro gigante, e estes jatos são o resulta- do da queda de estrelas no seu interior. Antes de serem “en- golidas”, as estrelas são despedaçadas, formando um disco em torno do buraco-negro, onde a matéria é acelerada até velocidades próximas da luz.
Alexandre C. M. Correia*
Os buracos negros são os objetos mais maciços que exis- tem no universo. Por definição, é tudo aquilo que tem uma gravidade tão forte, que nem a luz consegue escapar (ver Boletim no 245). Como não emitem luz, não se conseguem observar diretamente. Além disso, são objetos muito com- pactos e de reduzidas dimensões (um buraco-negro com a massa do Sol tem menos de 6 km de diâmetro), pelo que também não podem ser facilmente observados pela “som- bra” que produzem sobre outros objetos luminosos. Assim, até bem recentemente a existência de buracos negros podia apenas ser inferida de forma indireta, pelo efeito que a sua gravidade produzia em objetos que se encontram na sua vi- zinhança.
Mas, no dia 10 de abril de 2019 tudo mudou. Foi revela- do ao mundo a fotografia do buraco-negro gigante existente no centro da galáxia M87. Pela primeira vez tivemos a con- firmação de que estes objetos, previstos pela Teoria da Re- latividade Geral de Einstein em 1915, são uma realidade. Foi possível observar este buraco-negro devido às suas dimen- sões: com uma massa de cerca de quatro mil milhões de vezes a massa do Sol, tem um diâmetro de cerca de 240 ve- zes a distância da Terra ao Sol, ou seja, é maior do que o sistema solar. As observações mostram um disco de matéria quente e brilhante em torno do buraco-negro, que só é visí- vel devido à sombra que projeta sobre este disco.
É apenas uma imagem, mas levou vários anos a ser pre- parada e meses para ser conseguida. Foi necessário conju- gar as observações de 9 rádio-telescópios distribuídos por vários continentes, de forma a formar uma “antena” com o tamanho da Terra, apelidada de “Event Horizon Telescope”. Com este rádio-telescópio do tamanho de um planeta, é possível observar um objeto do tamanho do sistema solar a 50 milhões de anos-luz, é como que tirar uma fotografia de uma laranja na superfície da Lua!
Mas, os cientistas não querem ficar por aqui. Após esta primeira imagem histórica, as antenas vão virar-se para o cen- tro da Via-Láctea. Acredita-se que existe aí igualmente um buraco-negro gigante, conhecido por Sagittarius A*, devido a fortes emissões de rádio que provêm dessa região. Não será tão grande como o da M87, mas como está mais próximo, está igualmente ao alcance do “Event Horizon Telescope”.
(*) Professor Associado – Departamento de Física – FCTuC
Grau: – universidade de Lisboa 1997: “Licenciatura” (B.Sc) em Física;
– universidade de Paris VII / Observatório de Paris, 1998: “DEA” (M.Sc) – Astrofisica;
– universidade de Paris VII / Observatório de Paris, 2001: PhD – Di- nâmica do Sistema Solar;
– universidade de Genova / Observatório de Genebra, 2003: Pós- -doutoramento – Exoplanets;
– universidade de Aveiro, 2014, “Agregação” (Habilitação) em Física.
       Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho | 7
















































































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