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Cultura e ConheCimento
AMergulho com Tubarões!
relação entre homem e tubarão desde sempre, vive de medo e equívocos.
Apesar da imagem negativa dos tubarões, existem
culturas que reverenciam os tubarões como um animal sa- grado. Os antigos havaianos viam o tubarão como um ani- mal sagrado, um receptáculo que abrigava o “deus” família ou ancestrais deificados chamados “ Aumakuas”. O espírito do membro da família podia aparecer a qualquer momento sob a forma de tubarão.
Ao longo da história e noutras partes do mundo, no en- tanto, os tubarões foram demonizados como monstros cru- éis que seguem embarcações no mar e abocanhavam víti- mas infelizes.
Nos últimos anos a imagem negativa dos tubarões tem sido perpetuada e alimentada exageradamente como forma de entretenimento. O filme de Steven Spielberg de 1975 bem como as suas sequelas criaram com o passar dos anos uma falsa imagem de assassino, destes estupendos animais. quem não morre de medo ao pensar na ideia de poder ser comido por um tubarão?
Algumas pessoas dizem que um Oceano sem tubarões seria óptimo porque não teríamos que nos preocupar quan- do fôssemos para a água!
A verdade é que os tubarões mantêm outras populações sob controle; quando eles são aniquilados, o equilíbrio do ecossistema é alterado e mudanças imprevistas podem ocor- rer. Os biólogos chamam este fenómeno de «efeito cascata», que acontece quando uma cadeia imprevista de eventos se desenrola com a remoção ou introdução de uma espécie.
Hoje em dia, a pesca ao tubarão corre a um ritmo desen- freado. Reproduzem-se lentamente e não conseguem acom- panhar a reposição dos seus números face ao actual ritmo da sua captura. Estima-se que 4065 milhões de tubarões são mortos todos os anos por causa das suas barbatanas. São capturados no mar, cortadas as suas barbatanas, e são pos- teriormente deitados ao mar para sofrerem uma morte len- ta. É uma prática cruel alimentada pela procura de sopa de barbatana de tubarão, uma iguaria cultural na Ásia. É um
Carlos Martins*
19800216
8 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho
símbolo de estatuto de riqueza poder comprar uma tigela de sopa de barbatana de tubarão.
Felizmente, através das inúmeras campanhas de sensibi- lização, a procura da sopa de tubarão está a sofrer um declí- nio considerável.
Apesar do valor inquestionável dos tubarões para o ecos- sistema, os encontros com humanos nem sempre são positi- vos, Todos os anos ouvimos ou lemos relatos de ataques nos EuA, Austrália, África do Sul, etc., onde estes animais nome- adamente os «comedores de homens» abundam. Desde meados de 1500 até aos dias de hoje existe registo de 614 dentadas, não provocadas, a pessoas das quais resultaram cerca de 153 mortes no mundo inteiro. Estes dados são for- necidos pela «American Elasmobranch Society” e do Museu de História Natural da Flórida. através da manutenção do Ar- quivo Internacional de Ataques de Tubarões onde são compi- lados por estas entidades todos os ataques registados.
Das mais de 500 espécies de tubarões são conhecidas cerca de 30, aproximadamente, por terem atacado seres hu- manos. Entre estes estão os famigerados Tubarão Branco, Tubarão Tigre e Tubarão Touro.
Nos últimos 433 anos houve 78 mortes provocadas por grandes Tubarões Brancos, 28 por Tubarões Tigre e 26 por Tubarões Touro.
Todo o registo de ataques se altera quando falamos sim- plesmente em mergulho com estes extraordinários seres.
Actualmente tenho a felicidade de mergulhar ao largo de Moçambique e costa Sul Africana, em zonas em que um en- contro de caras com um tubarão Tigre ou um Tubarão Touro é algo perfeitamente banal e nada inesperado. Tanto em Moçambique como na África do Sul estes encontros são nor- mais e fazem as delícias de quase todos quantos praticam
Foto de Carlos Martins