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CrÓniCas
O Convento dos Capuchos e a
CDapela dos Castros
António Teixeira Mota
19720021
iz a lenda que durante uma caçada na serra de Sin- tra, em perseguição a um veado, o 4o Vice-Rei da índia, D. João de Castro, se terá perdido, e cansado
de divagar pela serra, acabou por adormecer debaixo de um penedo. Em sonho, foi-lhe revelada a necessidade de se eri- gir um templo cristão naquele local.
D. João de Castro acabou por falecer em 1548, sem que tivesse tido oportunidade de cumprir essa obrigação. No lei- to da morte, a última vontade deste nobre, de ilustre ascen- dência e brilhante carreira militar no Oriente, foi pedir a seu filho primogénito que concretizasse essa missão.
Desse modo, foi fundado em 1560 por D. Álvaro de Castro, Conselheiro de Estado de Sebastião I de Portugal e adminis- trador da Fazenda, o Convento de Santa Cruz, mais conhecido como Convento dos Capuchos, um convento de frades fran- ciscanos da mais estrita observância da Província da Arrábida.
A pobreza foi levada ao extremo na construção do con- vento. Construído em contacto directo com a natureza e de acordo com uma filosofia de extremo despojamento arqui- tectónico, o conjunto possui dimensões reduzidas sendo também conhecido como “Convento da Cortiça”, dado o uso extensivo deste material na protecção e decoração dos seus pequenos espaços. Várias das suas celas têm portas com altura inferior à de um homem, de modo a obrigar a genufle- xão. Os elementos decorativos são também escassos, tendo sido mantidos ao mínimo.
A sua rusticidade e austeridade são indissociáveis da ve- getação envolvente, numa integração total com a natureza, até ao ponto de incorporar na construção enormes fragas de granito. No refeitório existe uma grande laje de pedra a ser- vir de mesa, oferta do Cardeal-Rei D. Henrique.
Após uma vista ao convento em 1581, Filipe I de Portugal terá comentado: «De todos os meus reinos, há dois lugares que muito estimo, o Escorial por tão rico e o Convento de Santa Cruz por tão pobre”.
O Convento foi ocupado por frades da Ordem dos Fran- ciscanos, também conhecida como Ordem dos Frades Me- nores. A primitiva comunidade era composta por oito frades, sendo o mais conhecido Frei Honório que, de acordo com a lenda, viveu até perto dos 100 anos, apesar de ter passado as últimas três décadas da sua vida a cumprir penitência ha- bitando uma pequena gruta dentro da cerca do convento.
quase três séculos depois, em 1834, com a extinção das ordens religiosas masculinas em Portugal, a comunidade de franciscanos foi expropriada e viu-se obrigada a abandonar as dependências do convento. Posteriormente, ainda no sé- culo XIX, o espaço foi adquirido pelo Visconde Francis Cook, homem que possuía grandes bens na serra de Sintra, sendo um deles, o conhecido Palácio de Monserrate.
Em 1949 o imóvel foi adquirido pelo Estado Português, tendo chegado ao final do século XX em precário estado de conservação. A partir de 2000 passou à responsabilidade da empresa “Parques de Sintra, Monte da Lua, S.A.”, que tem re- cuperado o espaço, estando hoje o Convento dos Capuchos aberto à visitação pública.
Conforme é do conhecimento geral, a família de D. João de Castro está intimamente ligada às instalações do Instituto dos Pupilos do Exército.
D. Francisco de Castro, Bispo e Inquiridor Geral do Reino, (neto de D. João de Castro e filho de D. Álvaro de Castro), mandou com o propósito de albergar o panteão de sua famí- lia, construir no ano de 1644 a Capela dos Castros e o Paço episcopal anexo. A Capela foi edificada dentro do antigo Con- vento de São Domingos de Benfica, junto ao seu Claustro e está classificada como monumento nacional desde 1910.
A sua inauguração data provavelmente de 1648, e tem uma traça maneirista e a fachada apresenta um portal rec- tangular, encimado pela pedra de armas dos Castros que é constituído por seis arruelas, insígnia dos Castros da Galiza.
Os monumentos funerários no seu interior são constituí- dos por urnas de mármore, assentes em pares de elefantes igualmente em mármore, os quais possuem semelhanças com os túmulos da capela-mor do Mosteiro dos Jerónimos.
Encontram-se ali sepultados o Vice-Rei D. João de Castro, sua esposa, D. Leonor Coutinho, seu filho primogénito D. Ál- varo de Castro e sua esposa D. Ana de Ataíde, e os filhos des- tes últimos: D. Francisco de Castro, sua irmã D. Violante de Castro, (Condessa de Odemira) e D. Fernando de Castro tam- bém conhecido por Frei Fernando da Cruz.
Sob esta Capela existe uma Cripta de planta quadrada onde estão sepultados descendentes da família Castro.
Foto de António Teixeira da Mota
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