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CrÓniCas
Aventuras...
eAmais Aventuras (III)
Jacinto Rego de Almeida 19520049
rotina diária do Posto Indígena de Vigilância consis- A poligamia é bem aceite, desde sempre, pelos nambiqua- te em consertar a camioneta danificada pelos cami- ras. Selvagens, nobres selvagens e à medida que o tempo nhos da floresta, lavar a roupa e secá-la ao sol, pôr foi passando, povos primitivos da infância da evolução
óleo no trator, acompanhar o estado do gerador, preparar humana ou guerreiros orgulhosos, povos oprimidos, exem- a serra elétrica e consertar alguma pequena ponte nas plares dignos de raças em extermínio e, em infinitas varia-
redondezas, cozinhar as refeições, defender-se dos insetos com repelentes, conversar com um ou outro índio que pas- sa e sentar-se na marquise e contemplar ao fim do dia o imponente pôr do sol acompanhado do barulho constante das cigarras. Depois caem sobre nós os mais variados inse- tos, “as emboscadas noturnas para evitar que os insetos estraguem o látex das seringueiras chegam a capturar 20 quilos de insetos por noite numa única árvore”, grandes sapos, “sapo martelo”, invadem a marquise para comer insetos, ouve-se o sussurro noturno da floresta e a única luz no horizonte é a do gerador. O índio Paulo vindo da oca aproximou-se, e atraído pela nossa conversa sentou-se, pouco falava, “o seu português não é fluente”, as ocas são feitas com folhas de açaí, o arco com casca de criva e cor- da de seda de tucum “um tipo de palmeira” e as flechas “são de taquara com penas de gavião e um caçador con- segue flechar animais a 30 ou 40 metros de distância”.
ções, exóticos, humanos esquisitos..., mas sempre olha- dos como “o outro”. “Os brasileiros, em geral, têm uma vi- são romântica dos seus índios, mas as populações que vivem nas regiões limítrofes às terras indígenas têm uma opinião negativa e hostil. Acham-nos sujos, preguiço- sos, violentos, aproveitadores e criticam as facilidades que lhes são conferidas pelas leis em vigor”, disse o chefe do Posto.
No dia seguinte pela manhã, o fotógrafo Gonçalo foi fo- tografar o banho de rio matinal dos índios da aldeia e aca- bou por tomar banho nu junto com a tribo. uma noite, jantámos queixada cozida com cabeça na oca de Paulo e a mulher, o que foi considerado uma deferência e prova de intimidade. um pequeno macaco saltava das costas de um cão para o outro e fugia das crianças (o pai ou mãe desse macaco tinha sido caçado semanas antes, fora comido – os macacos são uma fonte de proteínas para a tribo – e como
Foto de Gonçalo Rosa da Silva
4 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho