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hISTóRIAS à LUPA
Há cem anos - Os Pupilos do Exército na defesa da República em 1919
António Ribeiro da Silva
19600093
Oagravamento da crise económica e social decorren- te da participação de Portugal na I Grande Guerra bem como a experiência semi-ditatorial do Governo de Sidónio Pais, em 1917, criaram o ambiente de instabilida- de que Paiva Couceiro e seus apoiantes aproveitaram para tentar impor uma solução militar de regresso à monarquia em 1919.
Esse movimento levou à implementação em 19 de Janei- ro de 1919 da chamada “Monarquia do Norte” também apelidada de “Monarquia do quarteirão”, por ter durado apenas 25 dias, até 13 de Fevereiro de 1919.
Para defesa da causa republicana, muitos estudantes, sobretudo universitários, manifestaram vontade de pegar em armas, voluntariam-se e constituíram “batalhões acadé- micos”, aquando da tentativa de restauração do regime mo- nárquico (Dicionário de História de Portugal, 4 volumes, SERRãO, Joel, (ed.lit.), 1aedição, Lisboa, Iniciativas Edito- riais, vol.I, p.316).
O “Batalhão Académico de Lisboa”, de que fizeram par- te, entre outros, Dias Amado (médico, investigador e profes- sor universitário) e José Ferreira Gomes (licenciado em Di- reito e poeta), participou no assalto às forças monárquicas instaladas junto ao forte/prisão de Monsanto, ali bem perto da 1a Secção dos Pupilos do Exército, área que no meu tem- po (anos 60) bem conhecíamos, pelas marchas e outros exercícios no âmbito da instrução militar que nos era minis- trada nas tardes de quarta-feira.
A matriz republicana da nossa Escola está indelevelmen- te ligada à data da sua fundação – logo nos alvores da im- plantação da República, e encontra-se plasmada no seu de- creto fundador de 25 de Maio de 1911.
Nesse início do ano de 1919 o efectivo escolar dos Pupi- los do Exército era constituído por 265 alunos, embora a capa do mensário “Pupilos do Exército” de Maio de 1926 refira 270.
à data só se atingia a maioridade aos 21 anos, razão pela qual o Regulamento Interno em vigor nos Pupilos do Exérci- to só permitia alunos até essa idade.
Esses 265 alunos tinham a seguinte representação etária: • 20 alunos tinham 18 anos ou mais (1 aluno com 20
anos; 4 com 19; 15 com 18);
• 142 alunos tinham mais de 15 anos e os
• 123 restantes estavam abaixo dessa idade.
Todos eram considerados menores, não gozando de au- tonomia nas suas decisões, dependendo assim do consenti- mento dos pais ou encarregados de educação.
Estando a República em causa, os Pupilos do Exército não podiam ficar indiferentes.
Não sei se estes e outros alunos da nossa Escola se pro- punham integrar o “Batalhão Académico de Lisboa” acima referido, porém, as duas Declarações que seguidamente se transcrevem, subscritas pelos pais/encarregados de educa- ção e entregues no Instituto, tornam bem evidente a sua vontade de participar no combate contras as forças monár- quicas, na defesa da República.
Declaro que autorizo meu filho, aluno no 107 (a) desse Instituto, a fazer da parte da Companhia de alunos que for combater os revoltosos do Porto. Lisboa, 4 de Fevereiro de 1919.
Júlio José Lage – Oficial de Infantaria (Governador da Comarca de Bolama – Guiné em 1910/11 no posto de Capitão, toma posse como Co- mandante do Regimento de Infantaria 10 – Bra- gança, no posto de Ten-Coronel em 24Abr1919)
(a) 19130107 – LUÍS OLIVEIRA LAGE, nascido em 28Ago1901 em Leiria
Eu abaixo assinado, declaro que meu filho José Matias, no 42 (b) e meu primo António Miguel, no 71 (c), alunos desse Instituto Profissional dos Pu- pilos do Exército de Terra e Mar, possam partir para o Norte em defesa da República, a quem tudo devemos. Por isso, como pai e primo do se- gundo – por este ter o pai prisioneiro no Porto –
10 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho