Page 14 - Boletim nº 251 da APE OUT a DEZ de 2018
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Cultura E ConhECiMEnto (continuação)
D. Jaime II por este não o reconhecer como rei de Aragão em consequência do Compromisso de Caspe, vindo este a morrer passadas duas décadas com muitos sofrimentos e privações).
O infante D. Pedro desempenharia as funções de regente numa perspetiva de centralização e fortalecimento do po- der real, o que conviria certamente ao rei D. Afonso V, logo que este assumisse o governo. Trabalhou em prol do pro- gresso de Portugal, sendo que para isso teve de confrontar alguns dos grupos de pressão e grupos de influência de en- tão, que o mesmo é dizer que foi contra alguns dos poderes instalados. O fim do direito de aposentadoria, que prejudi- cava claramente os interesses da nobreza, é um dos exem- plos dessa confrontação, onde cabem também a publicação das Ordenações Afonsinas e a reforma da universidade.
A outorga do título de duque de Bragança ao seu meio- -irmão D. Afonso, conde de Barcelos, justificava-se pelo ra- cional de querer serenar a índole de alguém que era um opo- sitor direto das suas políticas, defendendo o reforço do po- der senhorial (ou não fossem as imensas posses e as inúmeras benesses que D. Afonso tinha). Mas D. Pedro avaliou muito mal o caráter de D. Afonso, ou melhor, a falta dele. Para agra- var a situação, o rei D. Afonso V casaria com D. Isabel, que era filha do infante D. Pedro, antigo regente e duque de Coim- bra. Isso só aumentou o ódio visceral que lhe tinha o duque de Bragança (que, recorde-se, só era duque porque D. Pedro o tinha feito quando era regente), pois que ele também tinha a ideia de casar a sua filha com o jovem monarca (viria a casar-se com seu meio-tio, o infante D. João).
Afastado que ficava agora o infante D. Pedro da regên- cia pela entrega do poder ao seu sobrinho e genro, o jovem rei D. Afonso V, logo os conselheiros que estavam alinhados numa política diferente daquela que havia sido seguida pelo antigo regente, não perderam tempo. As hostilidades com os nobres terminaram e iniciou-se um longo período em que a nobreza seria beneficiada. Mas o ódio da nobreza ao infante D. Pedro não tinha sido apaziguado. Continuava em todos aqueles que sentiam que tinham sido prejudica- dos pelo antigo regente. Queria-se vingança e no topo dos insatisfeitos aparecia o habitual duque de Bragança e o seu filho, o conde de Ourém, que também tinha umas contas a ajustar com o infante D. Pedro por motivo de o cargo de condestável não lhe ter sido atribuído, mas antes ao filho do duque de Coimbra. Segundo esta gente mal-intenciona- da, o infante D. Pedro era um déspota e mantinha-se nas rédeas do poder, justamente por ter a sua filha casada com o rei e por ter o seu filho a ocupar o cargo de condestável.
O jovem rei D. Afonso V, sendo muito influenciável, ten- do pouca ou nenhuma maturidade, revelando uma exaspe- rante fraqueza de espírito e evidenciando, ainda, de forma continuada, estar completamente nas mãos dos detratores do duque de Coimbra, rapidamente se deixou convencer pelas intrigas, maledicências e mentiras que campeavam na sua Corte e dela afastou todos aqueles que partilhavam do ponto de vista do infante D. Pedro.
Vendo a sua dignidade colocada em causa, o infante D. Pedro pediu ao seu sobrinho e genro que esclarecesse
aquela situação e se pro- nunciasse sobre a palavra que, enquanto rei, tinha dado. Sem grande surpre- sa, isso foi considerado in- subordinação pelos conse- lheiros de D. Afonso V, o que levou a que, em pouco tempo, o infante D. Pedro se visse proibido de fre- quentar a Corte, estando confinado aos limites das suas terras.
Livres do infante D. Pe-
dro na Corte, aumentaram
exponencialmente as in-
trigas e as calúnias sobre o
antigo regente, chegando
a proferirem-se falsidades
gravíssimas, como foram
os casos de dizerem que o
infante D. Pedro havia sido um usurpador e que até havia assassinado o rei D. Duarte (pai de D. Afonso V). Tudo era admissível para denegrir a imagem e ultrajarem a honra do duque de Coimbra. E acreditando em todas aquelas hipo- crisias, o rei D. Afonso V exigiu que o infante D. Pedro entre- gasse todas as armas que tinha nos seus domínios, por jul- gar que ele se queria revoltar. O duque de Coimbra não acedeu, embora estivesse disponível para entregar o mes- mo valor em dinheiro.
Finalmente, jogou-se a perfídia final. E foi jogada pelo mesmo pérfido de sempre, o ingrato duque de Bragança. Chamado a apresentar-se na Corte, o duque de Bragança ameaçou entrar nas terras do seu meio-irmão D. Pedro para atalhar caminho (situação que o duque de Coimbra não autorizava). Ameaçou, mas o que fez mesmo foi contorná- -las. Ainda assim, isso foi o bastante para que o infante D. Pedro movesse o seu pequeno exército. Embora não te- nha havido um confronto entre as forças dos dois meios-ir- mãos, houve uma aproximação das forças do infante D. Pe- dro ao exército real que, então, estava sediado na zona de Santarém. A estratégia do duque de Bragança tinha resulta- do e o seu jogo sujo, ainda mais.
O incompetente e imaturo rei D. Afonso V, sobrinho e genro do infante D. Pedro, não perdeu tempo em afirmar que o seu sogro e todos aqueles que o acompanhavam lhe eram desleais. O duque de Coimbra regressou às suas terras e a sua filha, mulher do monarca, tentava chamar o seu ma- rido à razão. Mas o absurdo raramente tem limites e D. Afon- so V foi de mal a pior, dizendo agora que o seu sogro tinha apenas três opções: o desterro, a prisão perpétua ou a morte.
Depois de se aconselhar com os seus mais fiéis amigos sobre as soluções que tinha para resolver aquela situação, o infante D. Pedro tomou a decisão de seguir aquela que era defendida pelo seu mais leal amigo, o conde de Avranches, D. Álvaro Vaz de Almada, que era um homem com uma in- tegridade de caráter muito acima de qualquer suspeita,
12 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • Outubro-Dezembro 2018
Infante D Pedro, duque de Coimbra