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Cultura E ConhECimEnto (continuação)
Estátua equestre do rei D. José
dos, desenharam a sua reconstrução), mas que ninguém leva a mal e os turistas (portugueses e estrangeiros, enten- da-se) até agradecem que lhes falem sobre isso. E, nessa perspetiva, é até possível dizer que após o Arco da rua Au- gusta se seguem três fileiras de prédios que correspondem aos três passos do ritual dos aprendizes; que após isso, se seguem cinco fileiras que correspondem aos cinco passos dos companheiros maçons; e que, finalmente, é pela utiliza- ção de um compasso que se configuram, voltando para a esquerda, os oito passos dos mestres. lendas e mitos urba- nos à parte (que só na perspetiva maçónica nos dariam ho- ras de conversa, sobre este e muitos outros locais em lis- boa), a Baixa Pombalina é um local de passagem obrigató- ria em lisboa.
Para quem hoje circula por aqueles lados, torna-se difícil imaginar a amplitude de como terá sido o inferno que se viveu em 01 de novembro de 1755, um Dia de Todos os San- tos, aproximadamente pelas 09h30. Sabe-se que o grande sismo que ocorreu (em grau 9 na escala de Richter) foi ape- nas uma das enormes desgraças da tragédia, que para ser melhor perspetivada, implica necessariamente a compre- ensão do tsunami que depois acorreu, bem assim como dos incêndios que logo se propagaram a partir do rossio (e a que não foi despiciendo a enorme quantidade de velas ace- sas num dia religioso como aquele e que em grande medi- da deram ainda um maior volume aos incêndios que consu- miram uma área muitíssimo significativa da cidade).
Aquela “velha” lisboa, uma cidade feita à moda antiga, com vias estreitas e apertadas que dificultavam em muito a circulação, ficaria para trás. E em muito pouco tempo. se- bastião José carvalho e melo assumiu o comando da re- construção de lisboa e encarregou manuel da maia, Enge- nheiro-mor do reino, de elaborar um plano com vista à re- construção da capital. Embora a proposta escolhida tenha seguido as suas ideias, a intervenção incidiria sobretudo na área da Baixa Pombalina, com o projeto aferido de recons- trução a ficar nas mãos de Eugénio dos santos, e depois, de carlos mardel.
coube, portanto, a sebastião José carvalho e melo to- mar as rédeas e o pulso da nação num momento tão grave quanto aquele (e que, depois, assim continuaria tendo jun- to do Rei D. José uma influência a toda a prova). E desempe- nhou a sua ação governativa brilhantemente, embora não sem vários reparos éticos; aliás, como em muitos outros momentos da sua governação ao longo do reinado de D. José. Ainda assim, foi porventura o homem mais certo numa altura particularmente difícil e a quem lisboa e o País, em sentido lato, muito lhe devem, sobretudo se aten- dermos aos factos e à época em que os mesmos ocorreram.
É claro que não foi o único conselheiro real que, naquele momento de aflição, se manteve firme nas suas funções e no cumprimento do seu dever. o General Pedro de Almei- da, marquês de Alorna, por exemplo, terá sido ele a proferir a famosa frase: “Agora é sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. mas é verdade que foi a sebastião José carvalho e melo que, ao tempo e depois do tempo dele, foram endereçados os maiores louvores e até a titularidade de parte dessa frase proferida pelo marquês de Alorna: “Agora é sepultar os mortos e cuidar dos vivos”.
Planta da Baixa Pombalina de Eugénio dos Santos (1711-1760) e Car- los Mardel (1696-1763)
sebastião José de carvalho e melo foi exemplar na ma- neira como procedeu para se ultrapassarem as dificuldades (e até para ficarmos com vários registos documentais sobre a tragédia, ainda hoje muito úteis para melhor compreen- der o que aconteceu, de forma científica): tenha sido na ver- tente da criminalidade que desde muito cedo deu sinais de que tenderia a alastrar-se nas ruinas da cidade (mas que não alastrou, e talvez as forcas bem altas à vista de todos tenham ajudado ao retorno à calma), tenha sido na verten- te do exacerbamento religioso que poderia colocar em cau- sa a reconstrução da cidade (e que não teve repercussões, a não ser obviamente para os infelizes fanáticos envolvidos nessas teorizações da justiça divina) e tenha sido, ainda, na vertente da necessidade de colocar recursos humanos, ma- teriais, logísticos e financeiros ao serviço da reconstrução da cidade (o que de facto aconteceu, numa reconstrução que foi em grande parte estandardizada para se obter ga- nhos de eficiência de vária ordem, inclusivamente e sobre- tudo, de tempo).
10 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • Janeiro-Março 2018