Page 13 - Boletim APE 248
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  Perdemos naquele fatídico dia não só imensas igrejas, não só o Palácio real, não só a monumental Ópera do tejo (que se dizia ser um dos edifícios mais bonitos e luxuosos da Europa), não só outras variadíssimas edificações de rele- vo histórico em lisboa, mas também perdemos, de forma inexorável, várias bibliotecas e arquivos, naquilo que cons- tituía um espólio de documentos históricos importantíssi- mo e que nunca mais se recuperará. Ganhámos, contudo, a governação do futuro marquês de Pombal. E Portugal bem necessitado estava dela.
sebastião José de carvalho e melo trataria de colocar a andar em frente um Portugal que insistia em manter-se no passado, numa História que, como sabemos, nunca anda para trás. muitas das reformas que fez, nos mais diversos níveis e áreas da governação, foram absolutamente essen- ciais para a modernização e desenvolvimento do País, pese embora o centralismo do Poder que protagonizou. Pode-se mesmo hoje dizer que sebastião José de carvalho e melo materializou um novo terramoto, mas agora, naquilo que foi a sua ação de governação do Estado, espraiada numa sociedade portuguesa que estava estagnada e que persis- tia em estar desligada das novas ideias iluministas e racio- nalistas que emergiam na Europa.
Quando à meia-noite do dia 24 de fevereiro de 1777 to- caram a finados os sinos da sé Patriarcal de lisboa, anun- ciando a morte do rei D. José, em lisboa, houve muita gente que se abraçou nas ruas, com legítima satisfação, sobretudo porque honestamente sentiram que com a morte do monarca, o poder e a tirânica crueldade de se- bastião José de carvalho e melo não teriam mais lugar. E, com efeito, não levou muito tempo para que os insultos ao antigo ministro subissem de tom, agora levados a cabo por gente socialmente mais estratificada e dominante, che- gando até ao ponto de arrancarem o medalhão do mar- quês de Pombal no pedestal da estátua equestre do rei D. José, e substituindo-o por um outro, com a imagem de um navio de velas cheias. É claro que quando se luta contra os poderes instalados, contra aqueles que tendem a ser sempre os donos e os senhores da verdade, e se lhes retira poder e influência, não é raro ganhar-se, em consequência e em retorno, o seu ódio pessoal e a sua sede de vingança. E foi de facto isso que aconteceu com sebastião José de carvalho e melo.
Ainda assim, o marquês de Pombal acabou por ser per- doado no processo que foi movido contra ele. na verdade, bem entendido, ao culparem o marquês, estariam a culpar e a denegrir a própria memória do rei D. José, que pese em- bora toda a sua responsabilidade enquanto monarca, não havia deixado de ser, tal como todos nós, também um ser humano com fraquezas. E, sobretudo por causa do mar- quês de Pombal, o rei D. José passou à História com um reinado que, no computo geral, foi bastante positivo. tam- bém por essa razão, é com satisfação que podemos hoje em dia contemplar o medalhão do marquês de Pombal na está- tua equestre do rei D. José. É lá que ele pertence, por muito que alguns, por vezes, queiram mudar a História.
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • Janeiro-Março 2018 | 11






























































































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