Page 27 - Boletim APE_219
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Associação APE Associação dos Pupilos do Exército
dos Pupilos do Exército
Morreu o “Patriarca”!
Viva o “Patriarca”!
Pois é, mas para todos nós ele era o Pai, o Avô e o É lógico que os nossos familiares mais próximos nos mar-
“Bivô”. cam a todos, mas no caso do meu avô Augusto, tenho a
Acima de tudo fica a figura de um grande homem, sobre absoluta certeza de que todos os membros da família concor-
o qual tenho o infinito orgulho de escrever estas linhas. O darão comigo, quando digo que foi com ele que aprendemos
problema é que não se pode resumir uma vida tão cheia; os valores, a palavra, a rectidão, a honestidade, o compromis-
além do mais, não podemos so, a amizade, a irmandade, o
tão pouco resumir 92 anos papel na sociedade e tantos
em escrita. outros mais.
Ele era para nós família, É indiscutível o papel que
o porto de abrigo, a cola que o “Pilão” teve em todos nós; o
nos unia a todos. Grande pro- “Querer é Poder” nos mais va-
vedor, não só dentro do nos- riados momentos. Confesso a
so pequeno universo familiar, todos vós que, se me esforçar,
mas também fora dele. ainda consigo trautear o hino
Como neta, tudo o que ou mesmo cantar algumas es-
necessitei ao longo da minha trofes.
curta vida, ele sempre soube Quero também, com estas
dar. Ombro de apoio, amigo, linhas singelas, e faço-o em
companheiro e até confiden- nome de toda a família, agra-
te. Recto, seguro, honesto, decer todo o carinho sempre
sempre atento às necessida- demonstrado para com o Au-
des de todos. gusto Dias, e com todos nós,
Haveria de certeza muitas claro está.
pequenas histórias a contar, Augusto Dias com sua família, em homenagem realizada na APE A todos vós digo, podem
mas se não se importam ter a certeza que uma parte
gostaria que ficassem para mim. Deixo aqui lugar aos restan- daquilo que somos, tem também a ver com o “Pilão”.
tes membros da família para que se inspirem... Fica a saudade... “Salvé! Salvé! Salvé!” querido Avô, para
Mas, acreditem ou não, muita coisa fica na minha memó- sempre nos nossos corações!
ria. A memória mais presente e também mais recente, é a
imagem dele sentado na mesa da sala, de volta dos “escritos” Mercedes Dias “Cheché”
e das fotos, tanta vez a escrever, com aquela letra tão, tão (Neta de Augusto Dias)
bonita a que nos acostumou.
Augusto Martins Dias - Uma Luz que se apagou
A notícia chegou por E-mail abrupta e pungente. O Au- falando com ele ao telefone se queixou de a sua saúde não
gusto Dias tinha falecido! Que ingénuo fui quando pensei estar bem. O dever de discrição impediu-me de o questionar
que aquele espírito luminoso, de raro vigor anímico, afável sobre a sua patologia, mas pelo que me deixou crer, tratava-
e educado que dedicou grande parte da sua vida aos ide- se de um problema menor. Tentando voltar ao seu contacto
ais do Pilão e da Associação jamais nos deixaria! Presencial- telefónico algum tempo depois, já não obtive resposta. Este
mente muito pouco convivi com o Augusto Dias. Estive com silêncio levou-me a admitir que algo pudesse continuar mal
ele uma vez há cerca de vinte anos quando ocasionalmente com a saúde do Augusto Dias, para mais tendo em conta a
passei pela Associação, onde me detive não mais de uma sua veneranda idade. Ainda assim, acalentei a fagueira espe-
hora. Depois seguiu-se um longo silêncio entre ambos. E eis rança de que tudo acabaria pelo melhor e ele viria a recuperar
que há cinco ou seis anos iniciámos uma amistosa relação, do mal-estar que eventualmente o tivesse acometido. Assim
essencialmente telefónica, que esteve na origem da minha não terá sido, infelizmente.
retomada colaboração no Boletim, por ele solicitada com em- Perdemos um companheiro e um amigo inesquecível. O
penhamento. Assim nasceu uma natural e salutar empatia seu decesso foi uma luz que se extinguiu para todos os pi-
entre nós. Por vezes o nosso diálogo telefónico alongava-se lões. Mas a marcha do tempo tudo consome e a ninguém
um pouco. Ele falava-me do Pilão do seu tempo, o que eu perdoa. Estas pobres linhas são um humilde tributo à me-
escutava com todo o agrado, e também da sua vida profis- mória e um sentido adeus à saudosa presença entre nós da-
sional, com relevo para aquela que decorreu nas minas da quele pilão emérito que marcou de forma indelével a vida e
Panasqueira. Reciprocamente também eu lhe contava como a obra da nossa Associação. De adeus em adeus decorre a
senti e vivi o Pilão nos quatro anos em que fui aluno. vida até chegar esse outro desafio – o da eternidade. Para os
O Augusto Dias cultivava uma enternecida paixão por tudo que ficam é um “até breve!”.
quanto ao nosso Instituto e à Associação respeitasse. Já de-
pois de ter deixado a actividade editorial efectiva do Boletim, Licínio Granada
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