Page 26 - Boletim APE_217
P. 26
Crónicas SER PORTA - O AmOR CEGA
ESTAnDARTE nACIOnAL
esde que entrei, nes- trata de um dos 3 Símbolos Na- cada pegada se sucede ou-
ta Casa, o meu pri- cionais (os outros são o nosso tra e mais outra. Caminho
meiro grande objec- Presidente da República e o num deserto despido de
tivo era ter boas no- Hino Nacional). Aparentemen- racionalidade, onde o ób-
Dtas, talvez ganhar te fácil de ser, já numa formatu- Avio, o real, o objectivo e o
algumas “chapinhas”, mas no ra não é assim, pois é o único concreto são secos pelo calor do amor.
fundo, era ter a média que me que não pode cair, e em comba- Entro num estado de desidratação
permitisse continuar a estudar te, deve ser sempre o primeiro plena, é notória uma carência vital de
onde mais quero: nos Estabele- a entrar e o último a sair. racionalidade. Começam as alucina-
cimentos de Ensino Militar. Após tomar conhecimento ções, a visão desfocada da realidade.
Ser Aluno Graduado não do meu cargo, veio-me à me- Os oásis sucedem-se
foi o meu objectivo primordial, mória a história de um Portu- na minha mente, le-
porém após receber em casa o guês cujo seu primeiro nome vando-me para um
telefonema de era igual ao meu, e que também mundo cada vez mais
um Oficial do fora “Porta-Estandarte” de D. distante, cada vez me-
Corpo de Afonso Henriques, Gonçalo nos racional. Deixo-
Alunos, a Mendes da Maia. me ir, eu gosto, afinal
questionar o Mais conhecido por “o (ve- estou no paraíso ou
meu Encar- lho) Lidador”, travou inúmeras Mariana Terra algo parecido.
regado de batalhas com o primeiro Rei de Motta (15 Anos) A fantasia apode-
Educação se Portugal, contra os infiéis (Mu- ra-se de mim, habito
me deixava çulmanos). Reza a lenda, que um mundo distante, um mundo meu,
Gonçalo Cruzeiro ser Graduado, numa batalha, as forças portu- um mundo nosso. A suave brisa do
(20070207) a resposta foi calenses estavam a perder, com deserto rouba-me as memórias da re-
afirmativa. a moral em baixo. Nisto, conse- alidade, enfraquecidas pelo calor in-
Porém, já ao longo do ano, o gue apanhar um “Estandarte” tenso do amor. Leva-as para longe, fá-
meu tio, por sinal ex-aluno e e ergue-o, dando sinal de cora- las desaparecer no tempo.
conceituado militar (João Luís gem e esperança para os seus A temperatura sobe, tudo à nossa
da Fonseca Nabais, 207/1960), subordinados. Nisto, os Mou- volta derrete. Os sobreviventes afas-
me incentivara a ser Graduado, ros cortam-lhe um dos braços, tam-se, aquele local já não é fonte de
caso fosse convidado, pois tal mas, com o outro braço, reer- prazer nem de vida, morreu. E nós lá
como ele fora, Cmdt. Pelotão gueu o “Estandarte”. Os Mou- ficamos, num lugar deserto, despido,
da extinta 4ª Companhia, tam- ros deceparam-lhe o seu outro pobre e isolado, movidos pela força
bém queria ver o seu “suces- braço, e mesmo a esvair-se em inquebrável do amor.
sor” Graduado. Outra pessoa sangue, com as pernas, diz-se Bebo sofregamente um golo de
que me incentivou a sê-lo foi o que continuou a erguer o “Es- água, outro e mais outro. O oásis des-
meu Pai, também militar e en- tandarte”, até que lhe cortaram foca-se, a fantasia foge, saí do estado
carregado de educação, ex-alu- as pernas. De acordo com os re- de desidratação em que me encontra-
no do CM e que lá foi Graduado latos confusos da altura, Gon- va. A realidade começa timidamente
da 2ª Companhia, mas que çalo tentou ainda erguer o es- a surgir, o concreto, o óbvio e o racio-
também andou no IMPE (ago- tandarte, com a boca, mas os nal fazem de novo sentido.
ra IPE), no “Ano Zero”, do cur- Mouros, que estavam agora a Olho à minha volta. Choro. Era fe-
so de Engenharia do Pilão. perder terreno, decapitaram o liz e tu vieste completar essa felicida-
Sendo eles militares, e ex-alu- “Lidador”. de. Porém juntos destruímo- la, afas-
nos Graduado, saberia que po- Porém, o heróico esforço de tando aqueles que gostavam de nós,
deria contar com os seus sábios Gonçalo Mendes da Maia foi isolando-nos. Deixámo-nos seduzir
conselhos, e assim sendo, fui recompensado com a vitória pelo Amor e ele cegou-nos.
aos poucos aceitando ser, caso sobre os Mouros, num dia do
fosse convidado para Gradua- longínquo ano de 1170.
do. Esta mítica personagem é a
Quis o Destino, que o meu minha fonte de inspiração,
cargo fosse o de Porta-Estan- para cada cerimónia que vou,
darte Nacional, uma das posi- pois creio que é um dos muitos
ções mais conceituadas, quer exemplos de patriotismo, mas
no IPE, quer nas Forças Arma- dos poucos que são conhecidos
das, principalmente porque se como “Porta-Estandarte”.
26 | Associação dos Pupilos do Exército