Page 12 - Boletim APE_217
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Evocações PALAVRAS PARA QuÊ?
o Boletim anterior con- oficial bastante correcto e delica- navio. E assim aconteceu. Eu vol-
cluí uma sucessão de do, e por 2 guardas- marinhas, um tei para a amurada do navio e
dez crónicas com a de- deles era eu e o outro o meu amigo continuei a ver o movimento.
signação genérica de Parente que, infelizmente, já nos Passado um certo tempo, apare-
N“No Pilão. Encontro deixou. O navio estava aberto a vi- cem os dois, felizes e contentes.
com o passado”. Cada crónica sitas e o corrupio de gente a subir e O amigo Parente volta-se para
contava numa linguagem simples a descer a prancha, curiosos para mim e diz-me que era uma pena
e compreensível, uma história au- ver o navio por dentro era grande. estar de serviço, pois pareceu-
tónoma, tendo como centro a casa O Parente e eu, que pouco tínha- lhe que a dama o tinha convida-
que nos congregou como comuni- mos para fazer, estávamos encos- do para ir com ela. E eu percebi
dade e nos preparou para os desa- tados à amurada a ver quem pas- que assim era. Disse-lhe para es-
fios do futuro. sava, especialmente as miúdas, perar. Fui ter com o oficial de
As duas histórias que já enviei que nos mereciam os devidos elo- serviço e contei-lhe o que se pas-
para o nosso Bo- gios. A certo momento parou jun- sava. Pedi-lhe para o deixar sair
letim, verídicas, to à prancha um belo carro ameri- que eu faria o trabalho de ambos.
eram passadas cano, descapotável e quando a O tenente riu-se e deu a devida
com vários pi- condutora saiu do carro ficámos autorização. Voltei e disse ao Pa-
lões. Esta, que ambos de boca aberta. Era uma rente para se ir arranjar, pois eu
vou iniciar ago- mulher linda e cheia de “curvas”, faria o serviço dele. Falei com a
ra, só tem um, vestindo umas calças vermelhas e Senhora e pedi-lhe para esperar
que sou eu. To- uma blusa branca, de onde os pei- por ele, que não se demorava
dos os outros in- tos pareciam querer saltar. Nessa nada. E assim aconteceu. Entra-
H. Lola dos Reis tervenientes an- época usavam-se uns cintos lar- ram no carro e desapareceram.
(19410159) daram comigo gos, apertados, que faziam sobres-
na Escola Naval, sair as ancas, que nela eram uma Nesse dia e nessa noite o amigo
mas não são ex- maravilha. Parente não apareceu mais a bor-
alunos. De qualquer modo, é tam- do. No dia e na noite seguintes
bém uma história verídica com O meu amigo Parente nunca aconteceu o mesmo. Varias vezes
alguma graça. teve jeito para falar línguas e por falávamos entre nós, admirados
isso não era capaz de dizer uma com o que se estava a passar. Só na
A minha viagem de guardas- palavra em inglês. Olhou para outra manhã apareceu o carro,
marinhas, foi feita a bordo do Avi- mim e disse: “que
so de 1ª Classe “Afonso de Albu- pena eu não sa-
querque” e, contrariamente à de ber falar inglês
cadete, que já vos contei, foi uma para tentar a
viagem muito longa, até Timor. “sorte”! Eu tam-
Iniciou-se em 15-11-1951 e termi- bém gostaria de
nou em 08-10-1952. Quase um a tentar, tanto
ano! Atravessámos o canal do Suez mais que falava
e cruzámos a linha do Equador razoavelmente o
cerca de 5 vezes. No regresso per- inglês, mas não
corremos a costa africana. Foi uma seria justo fazer
bela viagem! Mas já lá vão cerca de isso ao meu ami-
60 anos. Os locais e cidades que go. Então tive
visitámos, pelo que tenho visto na uma ideia que
televisão, estão agora completa- lha transmiti:
mente diferentes, como é natural. “quando ela chegar ao navio eu com o casalinho, todo sorridente.
Quando eu digo que estive em Goa, falo com ela e pergunto-lhe, como Ela ficou, e ele subiu a prancha, de
Macau, Singapura ou em Hong- é natural, se quer visitar o navio, peito inchado e um sorriso de ore-
Kong, entre muitas outras, não servindo eu de guia. Tu vens lha a orelha. A maior parte dos
tem nada que ver com as cidades atrás de nós sem dizeres uma pa- guardas-marinhas presentes cor-
de hoje. Mas para o que vou contar lavra. Depois, numa esquina reram para ele e lhe perguntaram
não tem qualquer importância. qualquer de um corredor, eu de- como se tinha “desenrascado” du-
sapareço, ela olha em volta, só te rante todo aquele tempo. Olhou
Estávamos atracados em Cape- vê a ti, tu fazes um sorriso encan- para todos, com um olhar de supe-
Town. O serviço de permanência tador e um gesto para ela seguir rioridade e respondeu: NEM UMA
era efectuado por um 2º tenente, e continuas tu a mostrar-lhe o PALAVRA DISSE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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