Page 7 - Anexo ao Boletim APE 272 Janeiro a Março de 2024
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chegando do cume, pelo que não perdemos a oportunidade
de indagar pelas condições do percurso: “como está a neve?”,
“faz muito frio?”, “qual a parte mais difícil?”, “quanto tempo
demoraram?”. Um misto de ansiedade e impaciência vai
tomando conta de nós enquanto aguardamos.
O dia da nossa saída para o cume, 17-nov, começa com
algum dramatismo, observamos a partir do pátio do nosso
pequeno hotel um salvamento de helicóptero na montanha.
É necessário um resgate de um montanhista (nosso
conhecido) do Campo 3 (6.200m). Este campo, raramente
utilizado por estar exposto a possíveis avalanches, é uma
pequena plataforma na neve. Um helicóptero não consegue
aterrar lá, pelo que o salvamento é feito com recurso a uma
maca encordada. Tudo corre bem e rapidamente as nossas
atenções se viram para o nosso desafio de subir a montanha.
Iniciamos a caminhada às 9:30, chegando ao Campo 1 por
volta das 15:00. Instalo-me na tenda entalada entre rochas,
como qualquer coisa, hidrato-me bem e tento descansar.
Apesar das belas vistas, é um acampamento inóspito e, assim
que o Sol se põe, muito frio. No calor do meu saco-cama passo
o tempo a ler e a ouvir uns podcasts, enquanto não chega o
sono.
No dia seguinte partimos com as mochilas carregadas
(cerca de 10kg) para o Campo 2. O caminho é familiar,
seguimos os mesmo passos da rotação anterior. Antes do
Campo 2 temos novamente de transpor a Yellow Tower,
desta vez pareceu-me mais difícil, talvez por causa do peso da
mochila. Instalo-me na tenda, como, bebo e descanso.
Preparo a mochila para o cume e começo a vestir as várias
camadas de roupa que me vão proteger das temperaturas
gélidas que vamos enfrentar durante a noite. Conhecem o
boneco da Michelin? Pois, fiquei assim um bocado parecido
com ele.
Partimos às 22:30, depois de tomar um café e umas
apressadas papas de aveia. A noite parece boa, mas só
sentiremos realmente as condições meteorológicas quando
atingirmos os 6.200m, pois até lá estamos protegidos do
vento neste lado da montanha.
A primeira parte do percurso é sobretudo em rocha, este
ano há pouca neve. Talvez seja mais fácil à noite, pois não
vemos os enormes precipícios a que estamos expostos. A
segurança é dada pelas cordas fixas, mas é preciso
concentração, pois o cérebro funciona mal com pouco
oxigénio, as luvas prejudicam a dexteridade e o cansaço
acumulado faz-nos cometer erros. Um tropeção aqui ou ali
pode ser fatal.
Chego ao Campo 3 com o sherpa Ang Dawa um pouco
adiantado do resto do grupo. Derretemos neve para fazer um
chá, enquanto esperamos pelo resto do grupo, que chega
cerca de 1h depois. Enquanto eles agradecem a bebida quente
já preparada, eu e o meu sherpa arrepiamos caminho.
BOLETIM APE | JAN/MAR 2024
CRÓNICAS 5














































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