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NOTÍCIAS DO IPE 39
BOLETIM APE | OUT/DEZ 2023
A nossa relação com a natureza, tem sido ao longo da
história predatória e destrutiva.
A produção monstruosa de lixo, resíduos e
sucata é uma realidade provocada por nós, com a qual nos
deparamos e nem sempre lidamos da melhor forma. Cabe a
cada um de nós, despertar nos outros uma consciência social
para este enorme e incontrolável problema que nos assola.
Pensando e abordando estas questões, muitos artistas
criativos espalhados pelo mundo têm feito o seu papel,
transformando o "lixo" em arte. É certo que nem sempre
conseguem, porque o que para uns é arte, para outros
continuará a ser sempre lixo.
Em determinada altura do meu percurso académico, tive
a oportunidade de visitar uma exposição na altura patente
no CCB. Os trabalhos ali expostos, foram realizados no
Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina,
localizado na cidade de Duque de Caxias, Rio de Janeiro,
por um artista plástico brasileiro, Vik Muniz.
Com o tema de “Lixo Extraordinário”, os trabalhos
ali expostos foram realizados exclusivamente com lixo
recolhido no dito aterro, e para além da beleza dos trabalhos,
ela era também um despertar de consciências, uma grande
lição de vida que me marcou e influenciou, tendo até
já usado por diversas vezes o cliché (tema) "Do Lixo ao
Luxo", nomeadamente em algumas exposições que fiz com
trabalhos exclusivamente meus.
Além de vos falar sobre a obra em questão, permitam-
-me que vos fale mais um pouco sobre mim e sobre esta arte,
para vos contextualizar no processo e nas palavras.
Iniciei este processo de trabalhar com materiais usados e
em fim de vida por várias razões.
Em primeiro lugar, porque gosto e porque o faço com
prazer.
Em segundo, para dar continuidade a uma arte que
aprendi com o meu pai, a quem dedico todas as obras que
fiz e farei…
Em terceiro, pela reciclagem, fazendo a minha parte na
consciencialização das pessoas para a reciclagem e combate
ao lixo.
Este desafio que o Exmo. Sr. Chefe do Estado Maior do
Exército, General Mendes Ferrão me fez, foi mais do que
um desafio, foi para mim uma honra e uma oportunidade de
trazer para um espaço público exterior, algo que tem estado
guardado e fechado dentro de quatro paredes.
Diria até que este desafio e utilizando um termo militar,
foi para mim uma “missão” e como bem sabemos, em
contexto militar a palavra "missão" refere-se a uma tarefa
clara e específica atribuída a uma unidade, ou indivíduo. Cada
missão possui objetivos claros e, muitas vezes, está vinculada
a uma operação mais ampla.
Sim, não tenho dúvidas, este desafio foi mais uma
missão e atrevo-me a dizer que esta missão/construção
desta escultura começou há 45 anos, quando o meu pai me
ensinou a mexer na máquina de soldar dando os primeiros
pingos, soldando os primeiros pedaços de ferro, construindo
algumas coisas.
Trabalho no ferro e com o ferro desde miúdo, mas de
uma forma mais virada para a construção civil, construção e
manutenção de máquinas industriais e agrícolas. Maior parte
das coisas que aprendi dentro do mundo da serralharia,
aprendi com o meu pai e com outros profissionais, os
chamados profissionais sem curso que exerciam profissões
quase extintas nos dias de hoje.
Onde estão os serralheiros, os carpinteiros, os
canalizadores, os canteiros, os marceneiros, etc, etc, etc?
Como bem sabemos, são profissões em vias de extinção e
os profissionais que ainda existem são pessoas já com uma
idade avançada (vale a pena pensar nisto).
Foi com estes profissionais que aprendi a alinhar uma
esquadria a desempenar uma peça, a escolher o elétrodo
ESCULTURA CORAÇÃO DE VIENALuís Morais*


























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