Page 32 - Boletim 267 da APE
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EVOCAÇÕES
BOLETIM APE | OUT/DEZ 2022
viver. Algo tão único e incompreensível. Aliás, nesta data, de um Natal azul-mar, haverá até algo melhor que um “vem aí o sargento-dia”? Desconfia-se da resposta, mas acredita-se que o sargento, de cabelos escuros e olhos azuis, virá ver se todos estão bem-comportados e a cumprir as regras à risca. Contudo, o dito sargento, que descai o ombro direito, talvez das centenas de continências já feitas, decide nada fiscalizar e à sua retirada do internato, brevíssima, eis que surge meia dúzia de pastéis de nata e uma folha a dizer: portem-se bem que o pai natal pode não vir, mas o sargento- dia sim. Ó tempo! Recua! Mete a rapaziada a largar corrida atrás desse dito homem frio, mas estupidamente amável por dentro, e fá-los dizer: obrigado, obrigado, obrigado! Depois,
tempo, abraça-os e fá-los dizer: eternos seremos! E, em boa verdade, eternos serão, mesmo que tudo aconteça como aconteceu: sargento-dia na guarita a ver o Damas a ensinar águias a voar e pastéis devoradíssimos pela rapaziada que, depois, em grupo, já esquecendo o importante Natal, se prepara para desenhar uma nova estratégia de marcha para um tal mês distante, mas tão bem sabido: o Maio. O mês que, a existir nesta data, talvez exista para além da bruma imensa que abraça tudo o que se esconde entre portões da casa azul dificilmente esquecida, mas facilmente, enquanto vida houver, amada. Ó rapazes... sejam vocês mesmos enquanto tudo durar e existir. Sejam o que puderem em memória àquilo que serão sem poder. Sejam simplesmente.
A história da foto ....
Nos dias de hoje, alguém que não apresente ou manuseie um telemóvel ou equipamento portátil similar, é alguém que não existe; é ninguém...
Tiram fotos a outrem e a nós mesmo, comunicam como telefone, funcionam como computador com várias aplicações e funções, localizam onde nos encontramos...
Na realidade é um local de trabalho móvel...e em qualquer local do planeta.
A tecnologia dá-nos essas facilidades, mas mais trabalhos e responsabilidades...
As empresas acabam por disponibilizar esta tecnologia, estes equipamentos, aos seus colaboradores...
Comunicar telefonicamente pelo telemóvel, receber e enviar mensagens, ler notícias verdadeiras, falsas, meias verdadeiras, meias falsas, aceder a redes sociais e “bisbilhotices”, ver vídeos e filmes, ouvir músicas e rádio, ler livros, ler jornais, ler revistas diversas e de várias origens... é estar no mundo, é prova de existência, é tudo...
É ser moderno, é ser pós-moderno... é ser tudo e mais “um par de botas” ...
E estar “on line”...é estar na vida e no mundo...
Pois, há 50/60 anos, as notícias e novidades procuravam- se através dos meios de comunicação que funcionavam à época: jornais em papel de tiragens diárias (alguns com duas edições uma de manhã e outra edição à tarde) poucas revistas, rádios poucas estações e nacionais Emissora Nacional, Rádio Renascença, Rádio Clube Português e Televisão RTP, unicamente com um canal...e a preto e branco.
Ao tempo no Instituto nos anos de 1964 a 1973, os jornais recebidos nas Salas dos Alunos eram o Diário de Notícias, O Século, O Diário Popular, o Diário de Lisboa, A Capital, A Bola, o Mundo Desportivo, o Record...
Eram muito visualizados e apreciados alguns programas de televisão, havendo sérias disputas pelos jornais – a “Bola”, o Mundo Desportivo, o Record , jornais desportivos que eram os mais e muito concorridos – assim como eram disputados os melhores lugares, nas Salas de Alunos, sendo
concorridos os mais próximos dos “écrans”, os melhores para visualizar e ouvir os programas TV...Na rádio também programas como o “Em Órbita” e outros eram procurados para conhecer os novos intérpretes, as novas músicas e canções...
Eram célebres as noites TV, de 2a feira, pelo programa Zip-Zip, as noites de futebol europeu às quartas-feiras, as noites dos Festivais da Canção, dos Festivais de Eurovisão, das tardes de fim de semana ou as noites de semana pelos filmes, e séries de televisão...
Condizente com este tema de todos os órgãos de comunicação e concretamente a comunicação escrita, os jornais, envio a foto em anexo....
Que classifico de valiosa foto artística...
A grande camarata da 3a Companhia, 1o andar do edifício esquerdo, entrada do Instituto da 1a Secção em S. Domingos de Benfica, que comportava cerca de 80 a 100 alunos, no ano lectivo 1968/1969, no meu 3o ano C.G. Indústria (hoje 9o ano), era a minha camarata.
Onde tinha a minha cama ...e vivia os meus sonhos...
O candidato presidencial oposicionista Humberto Delgado nas eleições de 1958, foi assassinado pelo regime da ditadura, em Fevereiro de 1965, num lugarejo em Espanha perto de Olivença e da fronteira Portugal / Espanha....
Este facto permitiu ao tempo confrontar as versões das origens de notícias. Terá sido o regime e seus mandatários ou os oposicionistas e companheiros do assassinado os responsáveis pelo crime??
Nos fiéis de Delgado encontramos vários Pilões, alguns Professores e militares do Instituto, muito enriquecendo a história do IPE....
Com início da década 60 as três frentes de guerra nas Ex-Colónias de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique e o que tinha ocorrido pouco antes nos territórios da Índia Portuguesa igualmente chamavam os portugueses a falar e comentar sobre estes temas.
Manuel Pimenta
19640022
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