Page 15 - Boletim 267 da APE
P. 15

 BOLETIM APE | OUT/DEZ 2022
CULTURA E CONHECIMENTO
 Vencida a Serra do Mar, ali já com o nome de Serra da Bocaina, a comitiva chegou à Fazenda Olaria, atualmente submersa por um reservatório de água, onde a comitiva pernoitou. Nesse local, Dom Pedro recebe o apoio dos proprietários locais e segue no rumo da localidade de Bananal, já no dia 16 de agosto. Em Bananal, onde pernoita, igualmente, consegue apoio e meios, humanos e materiais, para o reforço de sua intervenção local.
No dia 17 de agosto, a comitiva, reforçada, almoça na histórica Fazenda Pau D´Alho, uma das pioneiras na produção de café no Vale do Paraíba, indo depois pernoitar na localidade de Areias, na residência do Capitão-Mor Domingos da Silva.
De Areias, no dia 18 de agosto, seguiu para o porto de Cachoeira Paulista, onde almoça, seguindo então para a vila de Lorena (antiga Vila de Nossa Senhora da Piedade), onde pernoita, mas antes, manda dissolver a Junta Governamental da província, e assume, de modo efetivo, o Governo da mesma. Na sequência, no dia 19, em Guaratinguetá (onde já se trilhava pelo caminho desbravado pelos bandeirantes paulistas, desde meados do século XVI, na busca por acessos às Minas Gerais, desde São Paulo de Piratininga) recebe formalmente uma Guarda de Honra de milícias formadas por proprietários do Vale do Paraíba, o que reforça o sucesso político de sua viagem.
No dia 20 de agosto, o Infante Dom Pedro, rumo à Vila de Pindamonhangaba, onde dorme na residência do comandante de sua Guarda de Honra, Manoel Marcondes de Oliveira Melo, futuro Barão de Pindamonhangaba. No caminho, o Príncipe Regente passa por uma pequena ermida de madeira, onde já havia uma devoção à Nossa Senhora, datada dos anos 1700, e que havia “aparecido” das águas do Rio Paraíba. Reza a tradição que Dom Pedro, orou na capela prometendo consagrar Nossa Senhora Aparecida como a padroeira do Brasil.
De Pindamonhangaba, de onde saiu no dia 21 de agosto, o caminho para São Paulo, passava por vilarejos então de escassa população (hoje importantes cidades como: Taubaté, São José dos Campos, Jacareí e Mogi-Guaçu), quase sempre às margens (ou próximas) do Rio Paraíba do Sul, e que hoje em dia se tornaram, praticamente, uma densa conurbação centrada na moderna Rodovia Presidente Dutra. Antes da chegada em São Paulo, havia ainda, a Vila da Penha, hoje um bairro da cidade de São Paulo, mas que no passado quedava isolada em torno da Igreja de Nossa Senhora da Penha de França.
São Paulo de Piratininga, onde a comitiva real chega em 25 de agosto, tinha seu núcleo urbano intercalado entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú (afluente do primeiro). Na cidade, o Infante Dom Pedro e sua comitiva são recebidos com júbilo, o que culmina com um Te Deum, rezado na Igreja da Sé, em agradecimento à pacificação da Província. Durante a estadia de Dom Pedro, por sinal, São Paulo estava longe de parecer que ia se tornar, graças à produção de café, e posterior industrialização, a maior metrópole do Brasil, como veio se tornar ao longo do século XX, estando ainda seu núcleo urbano bastante diminuto.
Após passar alguns dias deliberando, despachando e recebendo comitivas e homenagens, na capital paulista, o Príncipe Dom Pedro decide ir à cidade litorânea de Santos.
Entre São Paulo e Santos, viagem feita no dia 05 de setembro, o trecho foi realizado através campo, a chamada “Borda do Campo”, passando por alguns vilarejos (Santo André e São Bernardo), que hoje também são grandes
cidades geminadas à atual cidade de São Paulo. Feito isto, chegava-se até a o alto da Serra do Mar, onde havia o começo do “Caminho do Mar”, cujo cerne era a “Calçada do Lorena”, que era o único caminho entre o planalto paulista e a chamada Baixada Santista, planície litorânea irrigada então centrada na localidade portuária de Santos.
A Calçada do Lorena era um caminho que, em terreno acidentado, era todo calçado com pedras, obra esta realizada por Bernardo José Maria de Lorena, o Conde de Sarzedas, capitão-general governador da então Capitania de São Paulo, entre 1788 e 1797. Graças a essa obra, a primeira estrada foi viabilizada a ligação regular entre Santos e São Paulo de Piratininga, possibilitando a integração econômica inicial da Capitania: a exportação de açúcar e café do planalto e a importação de bens de consumo, duráveis ou não, de origens variadas. Tudo pelo porto de Santos.
Na localidade de Santos, onde chegou proveniente da vila de Cubatão, por via fluvial, e onde deixou o grosso de sua escolta, o Príncipe Dom Pedro, no dia 06 de setembro, teve a chance de inspecionar as defesas do porto da cidade, e seus arredores, bem como costurar a pacificação da política local, que era dominada pela família Andrada.
No retorno, de Santos a São Paulo, no dia 07 de setembro, quando a viagem rotineira se transforma num evento histórico, o trajeto é relativamente bem conhecido. Destaca-se que o trecho inicial, fluvial, foi feito logo depois do amanhecer, novamente, até a região de Cubatão, no sopé da Serra do Mar, onde a Escolta de Honra o aguardava. A partir daí, a comitiva ascende pela Calçada do Lorena, um trajeto que é feito em poucas horas, avançando, logo depois do almoço, no rumo da “Borda do Campo” e de São Paulo de Piratininga.
Pelas 16 horas, quando a comitiva fazia um alto horário, para descanso, nas proximidades do Riacho Ipiranga, hoje dentro do município de São Paulo, o Príncipe recebe correios urgentes, a cavalo, do Rio de Janeiro. A história conta que eram despachos das Cortes de Lisboa, mas também cartas da Princesa Leopoldina, então respondendo pela Regência, e de José Bonifácio de Andrada e Silva, principal ministro da sua Regência. Justamente após tomar conhecimento do que diziam essas cartas pessoais que o Infante teria se decidido por confirmar a Independência do Brasil, o que proclamou a sua comitiva, ainda nas margens do Ipiranga.
Na sequência, o Príncipe retorna para São Paulo, onde, naquela mesma noite, no Teatro local, onde se mostra sem as fitas com as cores da Monarquia Constitucional portuguesa (azul e vermelho), apresenta uma obra musical, por ele mesmo composta, que, posteriormente, com o acréscimo de uma letra, hoje é conhecida como o “Hino da Independência do Brasil”.
Nos dias seguintes, o Príncipe Dom Pedro retorna ao Rio de Janeiro, após uma estupenda marcha diária a cavalo, que teria levado cerca de cinco dias. Tal retorno, certamente, foi realizado com a certeza de que poderia contar com o apoio dos paulistas para os desafios que estavam no horizonte.
Deste modo, decidida a Independência, com o forte apoio popular reunido, tanto na Corte, quanto nas principais regiões do nascente país, no mês seguinte, Dom Pedro é aclamado Imperador (12 de outubro), tendo sido realizada a sua Coroação no começo do mês de dezembro (01 de dezembro) daquele mesmo ano de 1822.
*O Coronel Hermes é o Oficial de Ligação para Assuntos Culturais e Doutrinários do Exército Brasileiro junto ao Exército Português.
 13















































































   13   14   15   16   17