Page 6 - Boletim numero 261 da APE
P. 6
CRÓNICAS
BOLETIM APE | ABR/JUN 2021
Leitura da Aura
Logo após a morte da minha mãe, fui fazer uma leitura da aura.
A esteticista dela tinha-se aventurado por outros cami-
nhos, apoiada pelo conselho da minha mãe, que em vida lhe dissera para procurar aquilo que a fazia realmente feliz.
E eu, como não gosto nada destas coisas e até tinha um santinho da minha mãe para lhe entregar, marquei uma con- sulta com ela para a ajudar na nova atividade.
Lá fui, num belo dia, ali para os lados do Rato. Tínhamos marcado para as duas da tarde e eu cheguei um pouco antes, bebemos café na cozinha, falámos sobre a minha mãe, entreguei o meu santinho.
Esperei algum tempo para ela se preparar até que me chamou e entrei numa sala ampla e escurecida. Estava calor
e aquela penumbra teve o condão de refrescar as minhas expetativas, que estavam em crescendo.
Sobre a secretária, uma pequena vela acesa. Sentei-me, ela pôs-me à vontade, fez a Oração de Leitura, para permitir que as energias do Universo e da Mãe Terra fluíssem pelo nosso corpo e o tornassem recetivo ao que íamos fazer.
Explicou-me que o fio condutor da leitura era uma plan- ta, cuja descrição correspondia à energia que eu trazia comi- go. Na cultura ocidental é a rosa que está associada à espiri- tualidade, tal como a flor do lótus na cultura oriental.
Respirou fundo.
E começou por ver atrás de mim um enorme sol doura- do, super luminoso e muito redondo, de tal maneira quente que ela própria sentia esse calor nas costas, símbolo de uma
fé e ligação ao espírito e ao divino que eu trago comigo desde sempre e que nos momentos mais difíceis está em pano de fundo. Viu também as palavras “Estás protegida”, és uma filha amada de Deus, confia nis- so e quando confiamos as coisas realmente acontecem, mesmo sem esperarmos.
A rosa surgiu, nítida e bela, se- gundo as palavras dela: era branca, mas não totalmente, quando lhe pe- diu para se abrir revelou pétalas em tons de arco-íris, ela nunca tinha vis- to nada assim, disse-me que eu teria de a pintar numa tela! Foi um símbo- lo claro da enorme criança interior que há em mim, cheia de ideias para trazer ao mundo, através da arte (na altura, eu já pintava), que ela me aconselhou a desenvolver porque fazia parte do meu propósito. O branco da rosa está associado à pro- teção, é como um anjinho da guarda que me acompanha e diz “OK, po- des seguir, eu acompanho-te”.
As pétalas da rosa eram delica- das, como se um sopro bastasse para as desfazer, o que indicava al- guma vulnerabilidade energética, que se poderia vir a repercutir no corpo físico, dores, emoções. Reco- mendou-me que olhasse mais para mim, dizendo mais vezes Não aos outros e Sim à vida.
De repente apareceu a imagem dum piano de cauda castanho-dou- rado, no meio duma pétala. Estáva- mos a falar do karma e ela associou
Maria do Rosário Pires 19771001
4