Page 33 - Boletim numero 260 da APE
P. 33

BOLETIM APE | JAN/MAR 2021
EVOCAÇÕES
 – Vou ajudá-lo! – dizendo, de seguida, o no pelo qual ele me conhecia: 21
Resposta pronta do Sargento Velez, acompanhada de um suspiro, arrancado do mais fundo do seu Ser:
– Oh 21, eu tratava-te como um filho!
Depois de uma longa e animada conversa, ficou acordado que, na minha próxima deslocação a Lisboa, iríamos almoçar juntos para matarmos saudades um do outro. Se assim o pro- gramamos, assim o executamos.
Combinei com o Sargento Velez ir buscá-lo a casa. Deu- -me o seu endereço nos Olivais, e parei a viatura próximo da porta do seu prédio. Depois de sair do carro e vestir o casaco, telefonei-lhe e disse que, quando quisesse descer, o podia fazer, porque eu já me encontrava na via pública à sua espera. Fiquei atento à porta para me aperceber da sua chegada.
Passados alguns minutos, saiu do prédio e, com o seu an- dar firme de militar, deslocou-se na minha direcção. Fiquei quieto a contemplá-lo, apenas a vê-lo caminhar como o tinha visto tantas vezes antes, e a lembrar as enormes ajudas que me deu no tempo em que fui aluno dos Pupilos do Exército.
Quando já relativamente próximo de mim, desloquei-me também na sua direcção, tendo sido dado um forte abraço para selarmos o nosso reencontro.
Depois daquele momento, já com alguma emoção à mis- tura, levantou a meia altura um dos seus antebraços. Trans- portava na mão um pequeno saco, o qual me foi entregue, com a frase:
– Guarda, são para ti! São dois chouriços caseiros que trou- xe do Alentejo. Da próxima vez que vieres cá, levas mais...
O Sargento Velez tratava-me como se eu fosse seu fi- lho... e em sua casa toda a família me conhecia pelo meu número: 21.
Por sugestão sua, fomos almoçar ao Restaurante O Car- do, onde estivemos até meados da tarde a colocar a prosa em dia, tendo os Pupilos do Exército, a nossa vivência e con- vivência sido temas obrigatórios de conversa.
Sargento Velez,
Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem an- tes de nós, por isso, onde quer que o senhor se encontre, quero que saiba, que apesar da Vida nos ter separado, continuo imensamente grato por tudo aquilo que fez por mim, e também a si, o recordarei com imensa saudade. Descanse em paz.
   Tempo de Memória
  Fomos envelhecendo, quase sem dar por tal... mas, ele o tempo, dá por nós. Vivemos memórias inesquecíveis e estas, constroem a saudade.
Putos dos anos “50”, não tinham computador, vídeo, play station, etc... tinham isso sim amigos para sempre.
Pilão, aquele “Portão” de entrada (histórico), ensinou- -me a não ser refilão, mesmo quando após despedir-
-me da zelosa mamã, dava uns passos para lá do
portão e, (surpresa)...um dos matulões da 4a Com-
panhia, dizia...”ó puto, que embrulho é esse”...lá se volatilizava a caixinha das bolas de Berlim.
Cheirou e não bufa!!
Tudo a correr bem, menos quase tudo.
Quanto mais envelhecemos mais as memórias
nos acompanham, mas, o que realmente temos é o presente, o momento, hoje. Não há espaço para o esquecimento.
Recentemente tive por notícia que, “o Manel” faleceu. Manuel Monteiro, 19550370.
Recebi a triste notícia, pela voz da sua esposa. Num silêncio “audível” não consegui suster as lágri- mas.
Manel, foi o irmão que eu não tive. Ao longo de anos partilhámos alegrias e tristezas, uma infância
de sonhos. Olhando as estrelas de um céu, luzes das minhas memórias, reparo que uma dessas luzes se tinha apagado, negando-me a sua existência. Fica a saudade de um tempo que não mais volta, amigo Manel.
P.S. Entre valores que o Pilão nos ensina e educa, é o de ter e reconhecer que, a amizade é para Sempre!
Fernando Cristo
19550373
    31

































































   31   32   33   34   35