Page 31 - Boletim numero 259 da APE
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 PALAVRAS SOLTAS
                   Ana Oliveira
19781097
Ernâni Balsa
19600300
unca senti qualquer apelo especial para a celebração da passagem de um ano para o seguinte. É apenas um virar de página no
calendário das nossas tradições, melhor seria dizer, hábitos...
Aceito, no entanto, que cada novo ano pode ser visto como uma nova janela que se abre à nossa maneira de estar no mundo. Assim sendo, terei já assistido à abertura de setenta janelas, na minha vida, das quais, apenas me lembro com mais acui- dade, das que se referem aos meus últimos sessen- ta anos...
A minha vivência durante esse espaço de tem- po, permitiu-me experiências múltiplas e diversas, das quais guardo a memória das mais marcantes, e que naturalmente, têm no essencial a ver com pes- soas, esses seres, por vezes enigmáticos e sur- preendentes que serão a cópia mais fiel daquilo que nós próprios julgamos ver no nosso íntimo e assim com elas, as pessoas, nos identificamos, como grupo, espécie ou tribo.
Ao longo da minha vida terei conhecido pessoas das mais diversas condições, origens, índoles e graus de desenvolvimento, tanto humano como cultural. Todas elas contribuíram para o ser huma- no que hoje sou e não me arrependo de nenhuma delas, individualmente ou no seu conjunto.
Vivi histórias e encontros que me confrontaram com as maiores riquezas humanas e também com a miséria mais triste e degradante que aprendi a en- carar com um lato nível de entendimento sobre o respeito que devo à miscelânea de situações por- que uma pessoa pode passar... sem deixarem de ser pessoas, no mais básico e essencial, como eu...
No limiar deste novo ano, quero conhecer mui- tas mais e compreendê-las e aceitá-las, na dimen- são das suas qualidades e defeitos. A vida é isto, saber conviver e tolerar até aos pressupostos limi- tes do intolerável...
Abrirei mais uma janela, a todas elas!...
        Em busca... Do nada?
AN janela...
     Cansaço, tristeza, dor...
As pessoas vagueiam à minha frente, Como sombras perdidas no espaço.
Eu não as vejo e não me vêem
Espectro, espelho, nada!
Nada acontece, e tudo sinto...
Confusão de sentidos
Pensamentos perdidos num olhar distante
E vejo!
Uma nuvem que encobre o sol
Os raios que fogem em busca de liberdade
Procuram uns braços abertos Com sede de luz
De verdade!
A verdade pura não existe Tudo é mentira e falsidade.
Um sorriso de tristeza
Num ápice de esperança
Uma esperança escondida na prateleira vazia... O vazio do dia
Cheio de vidas obscuras
E eu,
Perdida no labirinto,
Busco o caminho desconhecido Por estes espaços verdes Repletos de rosas e espinhos.
Estendo a mão
E de braços abertos e dedos vazios Abraço o ar que me rodeia.
Invade-me a solidão profunda, o nada!
Procuro encontrar-me e vejo a minha imagem
Nas águas gélidas de um lago perdido
Uma imagem turva, que se dissolve lentamente na imensidão da água.
Já nada espero, nada acontece
Emoções descontroladas, lutas no meu ser interior! E continuo em busca, de quê?
 Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro | 29























































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