Page 29 - Boletim numero 259 da APE
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 OS NOSSOS PROFISSIONAIS
O Importante não é onde
 ePstamos hoje...
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        ediram para falar de mim, do meu percurso profissio- nal, do que tenho feito até chegar onde estou hoje. Não sei se o importante é onde estou hoje...
Tinha certeza de que se ficasse em casa a ver TV não chegaria a lado nenhum e teria de concordar com o meu Avô que achava que as mulheres deviam ficar em casa a tra- tar da família (um à parte curioso, porque a minha Mãe foi “obrigada” a tirar um curso superior).
Então era melhor deixar de sonhar com a Física Nuclear e a Química Atómica e com a Universidade de Coimbra e abraçar esta nova proposta, e porque não a Engenharia?
Em Novembro de 77 entrei então no IMPE com mais 35 meninas, as primeiras a “alegrar” aquelas instalações até então muito masculinas.
Na altura tornámo-nos novidade e hoje somos história.
Quatro anos que recordo com mais saudade do que os oito anos passados no IO.
Depois de ter conseguido terminar o Bacharelato de En- genharia Electrónica e Telecomunicações era altura de ini- ciar uma nova aventura, agora por minha conta e com a mala carregada de ferramentas e de sonhos.
Primeiro, uma breve passagem pela RTP para um estágio de 3 meses no centro Emissor de Monsanto.
De seguida a promessa de um breve estágio na Centrel, antes de iniciar a minha verdadeira vida profissional.
Como promessas leva-as o vento tive de recorrer à minha “costela revolucionária” para exigir os meus direitos e fazer cumprir o prometido e, embora começasse a sen- tir o “bichinho” da indústria, decidi experimentar outros mares.
Ana Cristina Coelho
        Hoje, sei que para chegar aqui me deixei moldar por uma família militar, mas pouco, por exemplos sólidos de uns pais que nunca me disseram o que fazer, mas me mostraram os vários caminhos a seguir, e por duas escolas que em di- versas épocas me ajudaram a ser quem sou.
Olhando para trás, tenho de admitir que a passagem de toda a minha adolescência pelo IO me ensinou muito e me moldou.
Não pelo latim nem pela matemática ou pela costura e bordados, mas porque os tempos que lá vivi não foram fá- ceis, não foram simples. Os meus pais partiram para uma comissão em S. Tomé e eu fiquei sozinha, apenas com as minhas avós e aquela casa.
Uma das coisas que aprendi e pela negativa foi que não devemos tratar as pessoas pela sua posição social ou paten- te dos pais, mas por aquilo que realmente são.
Aprendi que os mais pobres são na realidade os mais “ri- cos” e os mais ricos são na realidade... enfim...
Trago comigo toda essa aprendizagem pelo exemplo, e a rebeldia que me fez crescer e lutar pelo meu querer e não o dos outros.
Uma teimosia em querer ser eu! Teimosia? Não! Eu não sou teimosa, sou persistente!
Vivi o 25 de Abril mesmo antes de ter começado, sem entender muito bem o que se passava, mas tendo a certeza de que seria mais livre e essa nova liberdade começou a sentir-se ainda no IO. Começamos a ser mais “revolucioná- rias” a fazer escutar as nossas palavras e as coisas tornaram- -se mais simples e assim lá aguentei até ao fim...
Um dia... saí do IO e surgiu a questão do que fazer a se- guir.
Eu sabia o que queria, mas para lá chegar só tinha como alternativa, aguentar um ano a ver o Propedêutico pela tele- visão para poder seguir em frente com os meus sonhos.
Era o pós-revolução e a reforma da educação. Já não ha- via serviço cívico. Tínhamos de ficar em casa a ver TV.
Que horror! Sabia que não ia dar em nada...
Heis que uma boa alma decidiu que seria interessante receber no Instituto Militar dos Pupilos do Exército, os filhos e filhas de militares oriundos dos outros colégios e de outas escolas, para, não só concluírem o Propedêutico, mas tam- bém, caso quisessem continuarem a estudar e fazer um dos Bacharelatos já disponíveis.
 Nem olhei para trás!
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro | 27





































































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