Page 40 - Boletim numero 256 da APE
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À espera
de acontecer
Ramiro Nolasco
19740268
Pomar de laranjas doces,
amendoeiras em flor,
promessa de um beijo, amor...
ou, então, paixão anunciada,
revelada pelo fulgor de um olhar. Presente adiado por um futuro promissor que o agora, por não ter nada,
deixa os sonhos entrar. Monte de uma árvore só, sombra ansiada,
seara tocada pelo Sol, terra gretada,
feno ao vento,
dança do pensamento...
mar chão, de um lado,
do outro, sem nada ter premeditado,
vagas em turbilhão,
penhasco quase a cair,
vida a fugir,
muralha de areia esquecida por um menino, como a pá que a ladeia,
lembradas à distância, ao deitar...
Chocolate quente,
a derreter, aberto ao devaneio:
uma pitada de sal,
um cálice de aguardente,
pimenta moída na hora
e segue-se em frente:
mistura-se tudo em lume brando,
como brando é o avanço do ponteiro
e põe-se, no tacho, o mundo inteiro
em pressas travadas, calma aparente...
que o presente é espera e espera é nada, enquanto não acontecer.
André Gil
Só hoje, sou tu...
Vesti-me de ti!
Hoje excecionalmente, calcei os teus sapatos e percorri com eles o teu mundo.
Olhei em redor todas as pessoas que passavam em desenfreada vida; para os seus empregos, para as suas casas, para os seus destinos.
Hoje estendi a tua mão e pedi o pão, pedi a água, pedi a moeda.
Ninguém me ouviu. Só a soberba.
Hoje, excecionalmente hoje, levei as mãos, as tuas mãos ao rosto; senti a barba que cresce sem impedimento, o cabelo oleoso e os olhos cansados.
Não senti alegria, não senti tristeza, não senti emoção. Embalsamaram-se os sentimentos da alma.
Consumiram-se os sonhos e aspirações.
Por hoje ser hoje, apenas por isso, olhei o reflexo teu que é meu numa montra qualquer.
Vi o que nunca vi, como se nunca tivesse passa- do por mim, como se nunca me tivesse visto; aquele era eu, sem nunca o ter sido! A tua pele assentava- -me bem, reconhecia, sem nunca te ter visto, as fei- ções no meu rosto.
Hoje, dia de nada e de coisa nenhuma, deitei a mão ao casaco que é teu e tirei a côdea minha de pão; Alimentei-nos sofregamente e aconcheguei o estômago.
Saboreei a dádiva da digestão.
E por ser hoje um dia qualquer, mas sendo o dia em que te vi, hoje montei o cartão no chão e dormi na tua casa. Abracei o vazio do meu corpo e fechei os teus olhos, para afastar o frio em mim.
E por hoje não ter ainda acabado, de olhos fecha- dos, ouvi as gargalhadas no ar, a indiferença da compaixão. Que de nada valeu às minhas emoções, que adormeceram na tua cama, na minha caixa de papelão...
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