Page 31 - Boletim numero 256 da APE
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Quando cheguei ao Instituto de Odivelas, o seu diretor era o excelentíssimo Coronel de Infantaria Bernardino Serra, que se esmerou imenso para enaltecer o nosso instituto e com a colaboração de outras pessoas tentaram que o mes- mo não fosse extinto, mas apesar de tanto esforço e dedica- ção, não conseguiram. O Sr. Coronel Serra era um Pai para nós e soube transmitir-nos o código de honra do IO e eu ain- da me recordo do no 10 “Ser amiga é ser irmã“.
As Meninas de Odivelas eram educadas para serem umas Senhoras no futuro: era-nos incutida disciplina e organiza- ção; não nos podíamos sentar no chão, o comprimento da saia era pelo joelho, a nossa roupa tinha que estar devida- mente arrumada e engomada no nosso armário pessoal, fo- mos ensinadas a gerir o nosso tempo, tínhamos aulas de culinária e puericultura porque seríamos futuras esposas e Mães e também tínhamos instrução militar, para quem queria ingressar nas fileiras das Forças Armadas.
O IO foi fundado a 14 de janeiro de 1900, pelo Infante Dom Henrique, irmão do rei Dom Carlos e na data de aniver- sário do instituto, nós desfilávamos pelas avenidas principais de Odivelas, muito aprumadas e briosas, ao som da banda do Exército. Nos dias festivos era confecionado, o prato tradi- cional do IO, amarelo de carne, que consistia em batata frita em formato palha, carne desfiada e tudo envolvido em ovo batido, que era maravilhoso.
O Instituto de Odivelas encerrou no final do ano letivo de 2014/2015, após 115 anos de ensino de excelência, por des- pacho no 2606/2014 de 18 de fevereiro, do Ministro da Defe- sa Nacional, José Pedro Correia de Aguiar-Branco.
Eu fui durante três anos “Menina de Odivelas”, depois in- gressei no Colégio Militar (CM) onde deixei de usar farda fe- minina e comecei a vestir farda masculina, com botas da tro- pa. A cultura do CM era completamente diferente da rea- lidade a que eu vinha habituada.
No ano letivo 2015/2016, o meu irmão João Carlos in- gressou no Instituto dos Pupilos do Exército (IPE), no 5o ano.
Aos fins-de-semana partilhávamos as vivências acontecidas na semana transata e ficava muito curiosa sobre o que acon- tecia no “Pilão”.
Depois por iniciativa dos meus pais e por se aperceberem que enquanto aluna do CM, que a minha apetência era para os cursos profissionais, transitei para o IPE. Neste momento somos três irmãos (Carolina, João Carlos e Bernardo), a estu- dar neste nobre instituto e encontro-me a frequentar o 11o ano do curso profissional de Técnico de Manutenção Indus- trial.
Este ano letivo 2019/2020 fui convidada para ser gradua- da, papel que assumi após ter terminado a escola de gradua- dos e desempenho orgulhosamente a função de Adjunto para as Atividades de Complemento Curricular (ACC). A partir do momento em que passei a ser graduada comecei a ter per- ceção de duas realidades: a dos alunos e a dos professores, o que me fez crescer, porque sirvo de fiel da balança, quando um aluno tem uma determinada atitude explico ao professor responsável da ACC em causa, a razão por determinada situa- ção ter acontecido e vice-versa, ou seja eu sirvo de ponte en- tre o corpo docente e discente, no caso específico das ACC.
Eu sou a única aluna que conhece a vivência dos três es- tabelecimentos de ensino militar não superior; Instituto de Odivelas, Colégio Militar e Instituto dos Pupilos do Exército. As três escolas por onde passei têm valências diferentes, neste momento a grande diferença entre as duas escolas existentes é que no CM, se ministra o ensino regular e no IPE o ensino a partir do 10o ano disponibiliza quatro cursos pro- fissionais, com estágio prático em contexto de trabalho. Os cursos ministrados no IPE são:
Curso técnico de eletrónica, automação e comando; Cur- so técnico de gestão e programação de sistemas informáti- cos; Curso técnico de gestão e o Curso de técnico de manu- tenção industrial.
No meu percurso académico e na passagem pelas três escolas fiz Amigos para a vida.
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Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • janeiro a março | 29