Page 30 - Boletim numero 256 da APE
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NOTíCIAS DO IPE
O meu percurso nos estabelecimentos militares de ensino não superior
Em setembro de 2011, ingressei como aluna no Institu- to de Odivelas (IO), para o 5o ano de escolaridade, no regime de internato.
No 4o ano, vi na televisão uma reportagem sobre os “Meninos da Luz”, nome pelo qual são conhecidos os alunos que frequentam o ensino do Colégio Militar. Eu disse aos meus pais que gostaria de frequentar aquela escola. O meu pai respondeu-me que eu não poderia ir para aquele colégio e fiquei muito triste, mas, de seguida, explicou-me que o Co- légio Militar e os Pupilos do Exército destinavam-se aos rapa- zes e, para as meninas era o Instituto de Odivelas. Foi desta forma, por minha vontade e com a dedicação dos meus pais, que ingressei no IO, as suas alunas eram conhecidas pelas “Meninas de Odivelas”.
Nos primeiros dias, foram-me incutidas as regras princi- pais da escola, entre elas, os horários, a farda a usar nas vá- rias ocasiões do dia, etc.
A primeira noite no internato foi passada com um misto de emoções, pois tinha saudades de casa, mas estava ansiosa para, no dia seguinte, vestir a farda pela primeira vez, ir co- nhecer as outras alunas da escola e bem como os professores.
O dia no IO iniciava-se com a alvorada, às 07:00, éramos acordadas por um toque específico emanado pela central te- lefónica do instituto. De seguida a monitora de serviço certi- ficava-se que não ficava nenhuma menina deitada na cama e mandava-nos em passo de corrida tomar banho. Os chuvei- ros estavam identificados com os nossos números, cada ca- bine de duche estava destinado a três alunas e cada uma ti- nha cinco minutos para tomar banho, enquanto as outras duas lavavam os dentes. Após termos efetuado a nossa hi- giene pessoal, fardávamo-nos, fazíamos a nossa cama e se- guíamos para o pequeno-almoço que era às 08:00. Todos os dias havia uma aluna de serviço à camarata que tinha como função verificar se as torneiras estavam fechadas, esfregar todos os lavatórios para não haver resíduos de pasta dos dentes nem de cabelos e descarregar todos os autoclismos, como forma de prevenção, porque no meio de tanta azáfa-
Carolina Santos
Aluna 1117/16
ma, para cumprirmos os horários pré-determinados, poderia alguma aluna não ter deixado a sanita nas melhores condi- ções, por esquecimento.
As atividades escolares iniciavam às 08:25 e prolonga- vam-se até às 18:30, às 19:00 tínhamos o jantar, depois estu- dávamos até às 21:30 e às 22:00 íamos para a cama, para descansarmos para um novo dia. Na camarata tínhamos uma caixa plástica onde eram depositados os nossos telemó- veis, que só nos seriam entregues no dia seguinte após o jan- tar, para podermos falar com as nossas famílias.
O Instituto de Odivelas ocupava as instalações do antigo Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas, que alber- gava as monjas que pertenciam à Ordem de Cister, o mesmo foi fundado em 1295, pelo rei Dom Dinis. As monjas estavam dependentes hierarquicamente, dos monges que habitavam o Mosteiro de Alcobaça.
O mobiliário do instituto era muito antigo, as nossas ca- mas e as mesas de cabeceira eram de ferro as secretárias das salas de aulas eram de madeira e formavam um conjunto único de mesa inclinada e banco, no topo das secretárias ain- da existia uma tampa metálica com o brasão de armas da República Portuguesa que servia para tapar um pequeno re- cipiente de porcelana branca, do tempo em que se escrevia com as canetas de tinta permanente, os quadros eram de ardósia e as professoras escreviam com um giz.
Nas férias de verão tínhamos a colónia de férias no Forte Velho de Santo António da Barra, que se situa em São João do Estoril. Do antecedente e durante o mês de agosto o forte estava reservado, ao antigo presidente do Conselho de Minis- tros do governo ditatorial do Estado Novo, António de Olivei- ra Salazar. O qual pagava renda ao IO, pela utilização do forte durante as suas férias pessoais. O forte tem praia privativa.
28 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • janeiro a março
Foto IPE