Page 15 - Anexo do Boletim 253 da APE
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• EM FOCO APE 87 anos é muito tempo! É mais do que a actual esperança de vida à nascença de um português. Muito o mundo mudou neste
período e Portugal também.
Dizia Camões que “a vida é feita de mudança”, e é um facto que as pessoas e as instituições a tal terão de se ir adaptando.
Das mudanças ocorridas no período destes 87 anos na sociedade portuguesa, recordarei algumas das mais significativas.
Poucos anos de vida tinha a APE, quando Portugal mudou significativamente de regime político, em 1926, com a emergência do chamado “Estado Novo”.
Ocorreu depois a IIa Guerra Mundial (1939-45) e após o seu término, Portugal, embora não tenha participado como belige- rante, não deixou de sentir as suas repercussões, envolvendo-se nas iniciativas que imediatamente se lhe seguiram para se inserir nos esquemas de segurança colectiva da Europa Ocidental, entrando para a OTAN em 1949 e na criação de organizações de cooperação económica entre os vários Estados da mesma Europa, através da criação de uma área de comércio livre, a EFTA, em 1960.
Porém, a partir dos anos 60´s a manutenção das nossas colónias, que a política portuguesa considerava inalienáveis e, portanto, inegociáveis quanto a uma possível autodeterminação ou independência, não acompanhando os ventos da história que iam conduzindo à inexorável independência das colónias dos países europeus, contribuiu para um isolamento progressivo do país no contexto internacional.
Particularmente o ano de 1961, foi repleto de acontecimentos no plano político-militar que iam progressivamente pondo em questão o regime então vigente. Refiro como dos mais relevantes do ano o início do conflito armado com os movimentos de libertação das então nossas possessões africanas, em 15 de Março em Luanda, e a invasão do Estado Português da Índia pela União Indiana, em 18 de Dezembro.
Desencadeada a luta armada, foi ela tão desgastante como inglória e muitos de nós que por lá passámos, no cumprimento do que nos tinha sido definido como dever, bem o sabem. Só terminou com a revolução de 25 de Abril de 1974 que, derrubando o antigo regime e implantando um outro, de cariz democrático, conduziu à independência dessas possessões e a uma maior aproximação à Europa.
Anos mais tarde, em 28 de Novembro de 1975, Timor Leste declarava unilateralmente a sua independência, após o que foi imediatamente ocupado pela Indonésia. Em 1999, sob patrocínio da ONU, Portugal e Indonésia negociaram e assinaram um acordo sobre a questão de Timor-Leste, promovendo a realização de um referendo para resolver o problema da sua indepen- dência, que assim foi finalmente conseguida.
O último reduto sob administração portuguesa fora da Europa, Macau, acabaria por passar para a soberania da China, em 20 de Dezembro de 1999, após a assinatura da Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a questão de Macau em 1987.
Entretanto em 1972 Portugal havia assinado já um acordo comercial com a Comunidade Económica Europeia (CEE) e em 1977 pediu a adesão a esta organização tendo acabado por entrar em 1986, “europeizando-se” e tentando aproximar-se dos mode- los sociais e dos níveis de bem-estar da restante Europa Ocidental.
Em 1992, pelo tratado de Maastricht, a CEE viria a dar origem à União Europeia (UN), com a tripla intenção da criação:
• de uma moeda única,
• de uma política externa comum,
• e a longo prazo de uma união política.
Portugal acompanha todo o processo e em 1999 adere à moeda comum, o Euro, que em 2002, substituiu a moeda nacional, o escudo, facto que só por si implicou, para o bem e para o mal, uma revolução na economia portuguesa.
Em 1996, cuidando juntamente com o Brasil de manter laços com os novos países de língua oficial portuguesa, integrou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), transformando o antigo império colonial numa rede de colaboração com as suas antigas colónias.
Em 2007, desencadeou-se uma grave crise financeira no mundo ocidental que, iniciando-se nos EUA depressa contagiou a Europa. Os países economicamente mais débeis, entre os quais se encontrava o nosso, foram os mais duramente atingidos. As ajudas financeiras concedidas a estes países, impuseram-lhes como contrapartida pesadas metas a atingir, particularmente no tocante às suas dívidas externas e défices orçamentais.
No aspecto positivo, são inegáveis as melhorias sociais e económicas ocorridas ao longo deste período de tempo, como o foram as políticas do Bem Comum extensíveis a todas as camadas sociais na educação, saúde, consumo e no que respeita à condição
Anexo Digital ao Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho | 14