Page 42 - Anexo do Boletim 273 da APE
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A Experiência Portuguesa
Em Portugal há outras formas de aniquilar e trucidar o outro, tão ou mais graves que a morte física. Uma forma de matar, sem o horror de ver o sangue jorrar, que não dá à víti- ma forma de se defender tal o emaranhado Kafkiano que reveste a teia. Do Estado à Igre- ja, não faltam exemplos. Seja o boato, a forma mais rápida e barata de propagar uma mentira, a meia-verdade, a sugestão sibilina com o propósito de aniquilar reputações e evitar desenlaces justos ou diferentes dos desejados por alguns. Portugal tem pergami- nhos e elevado estatuto nesta forma de homicídio, quer ele seja coletivo ou individual. Quantos crimes ficaram sem castigos, quantos inocentes foram encarcerados, quantos pobres surgiram a pretexto de bancarrotas, quantos moribundos morreram sem justifi- cação, quantos jovens marejados em lágrimas se despediram de salas de embarque lu- minosas à procura de dignidade no estrangeiro. Continuamos a uma imensa distância de uma democracia efetiva. O dito Estado de Direito não passa de um mero formalismo com rituais cujo significado passa ao lado dos cidadãos.
A História Portuguesa: da Inquisição aos nossos dias
Porém isto não é de hoje, remonta à Inquisição de que todos acusam a Igreja Católica, mas que é algo mais abrangente e envolveu a hierarquia da Igreja, fonte da verdade, o Estado, fonte da Justiça e do aparelho repressivo e o comum dos mortais, que por inveja ou por ajuste de contas, delatava os seus pares.
A geografia, o tempo e o poder pode revestir as formas aparentemente mais benignas e diversas, mas a estrutura da história não muda: o homem que morre às mãos do próprio homem, lembra aqui o mito de Caim e Abel: o homem é o lobo do próprio homem ou o cordeiro inocente e ingénuo que comete a forma mais grave de pecado que é a omissão de um dever, o dever de denunciar e enfrentar o mal e a injustiça, por maior que seja o medo. Ao longo da história, desde a Grécia Antiga, multiplicam-se os mártires. O século XX foi prenhe fosse qual fosse o lado da barricada: lembro a sanguinária Guerra Civil Es- panhola.
O conteúdo da obra dá muito mais que pensar, pois, podemos questionar, em vez de Se isto é um homem, se isto é a humanidade: não só na capacidade de aguentar as condi- ções humanas mais degradantes, adversas e limite, em termos físicos e mentais; como até onde pode descer o homem no tratamento do seu igual.
A Obra e o Sofrimento
Em suma, o sofrimento é um denominador comum às páginas deste livro. Até ao Livro de Job, Mal e Sofrimento são atributos de Deus, que este lança ao Povo eleito, em resultado da maldade ou falta de compromisso à aliança Consigo, quer seja numa dimensão indi- vidual, quer seja numa dimensão coletiva. David pelo seu pecado vê a sua vida preserva- da, mas a sua existência está cheia de provações.
O Livro de Job inaugura um novo entendimento sobre o sofrimento e sobre o Mal. O sofri- mento não é um resultado da falta de ética ou prática do pecado por parte do homem, nem uma vontade expressa de Deus. O sofrimento é algo antropológico inerente ao ho- mem que percorre os seus momentos de vida. Porém Deus não é de todo alheio ao sofri- mento, mesmo dos justos, porque em última análise, não faz nada em contrário para o evitar e permite, que uma criação sua, seja o veículo da prova do homem, Satan.
  
























































































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