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6 CRÓNICAS
BOLETIM APE | OUT/DEZ 2023
Iceland “Jacarés”
Bike Expedition
Paulo Pereira
19790152
Tudo começa numa ideia, num sonho, e quando
sonhamos e queremos, as coisas acontecem…
Se recuássemos a 1979, ano em que eu (19790152)
e o Cardoso Marques (19790086) entrámos no pilão, jamais
nos passaria pela cabeça que 44 anos depois estaríamos a
viajar de bicicleta em autonomia perto do círculo polar ártico,
a explorar a Islândia, a ilha do gelo e do fogo, conhecida
pela sua rusticidade e meteorologia temperamental.
Entre vulcões ativos, glaciares, cascatas, geiseres e lagoas
aquecidas por água geotermal.
Porquê a Islândia?
Em primeiro lugar esta aventura de bicicleta surge no
seguimento de muitas outras que tenho feito desde que
passei à reserva. E também, porque foi o momento em que
senti que adquiri a experiência e a confiança necessárias
para abraçar este desafio.
Em segundo lugar, esta ilha insular nórdica está no
imaginário de muitos viajantes de bicicleta. É uma espécie
de Santo Graal, um paraíso para os bikepackers, não só
pelas suas paisagens idílicas, mas também pelo desafio em
si, pela superação. Viajar de bicicleta em autonomia pela
Islândia obriga-nos a sair da nossa zona de conforto. São
muitos os aspetos desafiantes a ter em consideração, a
imprevisibilidade da meteorologia, nesta latitude (estamos
a 200 quilómetros do círculo polar ártico) a chuva, o
vento, o frio e a neve são preocupações que têm de estar
sempre presentes e acauteladas. As longas distâncias entre
povoações, a logística necessária, etc... Enquanto estudava
esta viagem de bicicleta, deparei-me com vários relatos de
bikepackers que, por questões meteorológicas, geralmente
associadas a queda de neve ou ventos ciclónicos, tiveram
basicamente de parar 2 ou 3 dias, procurar um abrigo ou
improvisar um, e esperar… Tudo isto eram ingredientes que
tornavam esta aventura de bicicleta desafiante. Pelo que,
este misto de fatores, experiência adquirida, possibilidade
de viajar num local de uma beleza natural estonteante,
associado ao desafio, à superação, foram os motivos que
conduziram à escolha deste destino.
Porquê viajar de bicicleta em autonomia?
As viagens em modo cicloturismo ou bikepacking,
permitem-nos uma liberdade e flexibilidade indescritíveis.
São 24 horas, durante vários dias, em contacto permanente
com a natureza. Transportamos na bicicleta tudo o que
necessitamos para a viagem, tenda, saco-cama, alimentação,
vestuário, ferramentas, etc… Paramos onde queremos,
pernoitamos onde é possível, vamos petiscando aqui e ali,
não há horários rígidos para nada, uma sensação de liberdade
enorme. É também uma forma económica de viajar, que
nos permite ir a locais inacessíveis de carro. Com facilidade
entramos em trilhos onde só a pé ou de bicicleta é possível
aceder. Permite-nos também “viajar a uma velocidade lenta
o suficiente para ver o detalhe das árvores, mas rápida
quanto baste para atravessar a floresta”.
Quanto à viagem em si, começou uns meses antes com o
estudo de vários blogs e sites sobre a Islândia.
Feito o estudo inicial, era preciso definir o percurso. Face
ao tempo que tínhamos disponível, optamos por percorrer
uma rota conhecida como Golden Circle (Círculo Dourado)
com algumas variantes, e ainda parte da costa sul da ilha
através da Ring Road (principal estrada islandesa que
circunda a ilha).
Planeamento feito, voos marcados, siga…
Chegámos à Islândia perto da 01H00, através de um voo
direto de Lisboa. A viagem mais barata foi-nos proporcionada
pela flyplay, uma low-cost islandesa. Decidimos não começar
logo a pedalar desde o aeroporto, seria começar com uma
direta em cima. Assim sendo, fomos para o camping em
Reykjavik onde chegamos perto das 03H00. Depois de 3 ou

























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