Page 13 - Boletim numero 260 da APE
P. 13

 BOLETIM APE | JAN/MAR 2021
sono e o estabelecimento de dependências dos jogos ele- trónicos e da Internet. Principalmente, nos jovens adultos podem desenvolver-se dependências de comer ou beber em excesso, consumo de substâncias ilícitas e tranquilizantes. Um conjunto de situações mais dramáticas acontecem quan- do aparece ideação suicida, se fazem tentativas de suicídio que, infelizmente, algumas têm um desfecho fatal. A Organi- zação Mundial da Saúde estimou que a cada quarenta segun- dos alguém morre por suicídio. É de antecipar que, no mes- mo período de tempo, o número de pessoas que pensam na possibilidade de cometerem suicídio ou de o tentarem, feliz- mente, sem sucesso, deva ser ainda maior. Por cada pessoa que comete suicídio vinte outras fazem tentativas. Apesar do panorama da saúde mental ser negro ele só fica completo com as perturbações de somatização e factícias. Estas cara- terizam-se pelas pessoas que, apesar dos testes laboratoriais serem repetidamente negativos, continuam a queixar-se de doenças ou que as simulem para obter benefícios pessoais.
O panorama em termos de saúde mental deve-nos fazer sentir apreensivos, apesar destas perturbações puderem ser adequadamente prevenidas e tratadas. Os recursos que exi- gem são excessivos para as necessidades atuais e, assim, muitas vão-se tornar crónicas. Para a saúde mental existem as vacinas psicossociais, métodos eficazes de prevenção, in- felizmente a sociedade não está, ainda, alerta para estas so- luções. A situação não é nova, no século XXI já passámos por duas pandemias, a Síndrome Respiratória Aguda Grave, SARS, em 2002, provocada pelo vírus SARS-CoV, e a Síndro- me Respiratória do Oriente Médio, MERS, em 2012, provoca- da pelo MERS-CoV. Estamos a experimentar a terceira, a CO- VID-19, que começou no final de 2019 e é provocada pelo SARS-CoV2. Comparada com as anteriores é a mais intensa. Contudo, já aconteceram piores. A Gripe Espanhola ou Pneumónica, que aconteceu no final da I Guerra Mundial em 1918, que infetou cerca de um terço da população mundial e matou 50 milhões de pessoas. Na Idade Média a Peste Bubónica, que assolou a Europa, é considerada uma das pan- demias mais fatais da história da humanidade, com um nú- mero estimado de mortos entre 75 e 200 milhões. Nessa altu- ra Isaac Newton era um jovem estudante que, como todos os outros, teve que interromper os seus estudos e regressar a casa como medida para evitar os contágios. O seu espírito interessado e curioso não desanimou. Continuou os estudos em casa e foi surpreendido pela famosa maçã a cair da árvo- re. Esta levou-o a descobrir a lei da gravidade. Está na mão de cada um, perante as adversidades da COVID-19, desanimar e engrossar as fileiras do sofrimento emocional e da doença mental ou continuar a desempenhar as suas tarefas, a fazer o que gosta e se sente competente, a ajudar os outros e sair desta indesejável experiência mais forte e enriquecido.
* Psicólogo Clínico e da Saúde
Licenciado em psicologia e Doutor em Ciências Biomédicas, especialida- de psicologia. Psicólogo clínico no Hospital Júlio de Matos até 1994. Pro- fessor na Escola de Psicologia e Ciências da Vida. Coordenador clínico da Escola Social O Companheiro. Membro fundador da Associação Portu- guesa de Sexologia Clínica e da Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento, do qual foi antigo presidente. Psicoterapeuta supervi- sor pela Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento. Diretor da Clínica Psicológica de Desenvolvimento Humano e do programa de desenvolvimento da Inteligência Emocional, Inteligência Social e da Posi- tividade ao longo da vida, Mente Activa. Autor de um conjunto vasto de artigos científicos e livros.
  CULTURA E CONHECIMENTO 11
  




























































































   11   12   13   14   15