Page 16 - Boletim numero 257 da APE
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CARAS DO PILÃO
fisicamente dos outros miúdos, conheceu aquela que viria a ser uma das suas grandes paixões, até aos dias de hoje.
Sempre foi dos melhores alunos em tudo o que fosse desporto, desde que entrou até sair, e talvez por ser consi- derado um dos melhores na ginástica na altura, foi também escolhido para ser o Adjunto do Comandante de Batalhão e cumpriu essa função durante três anos com o Manso.
Começou muito cedo a treinar na 1a Secção, mas tam- bém cedo o Professor Robalo Gouveia, reconheceu-lhe o talento e chamou-o para treinar consigo. Foi o aluno mais novo de sempre a pertencer e a treinar com a classe espe- cial do Professor Robalo Gouveia. Foram tempos muito felizes. Por ser o mais novo, era gozado e provocado com brincadeiras pelos mais velhos, mas também teve ali a sua oportunidade de aprender com quem sabia.
Já quanto ao Professor Robalo Gouveia para ele (e para todos os alunos em geral) era um NOTÁVEL, todos conhe- ciam a sua carreira desportiva, foi ele que esteve na génese da ginástica acrobática em Portugal. Para além de se ter sa- grado campeão absoluto de ginástica em meados dos anos 50, fez parte também da primeira equipa portuguesa de Gi- nástica a participar nos jogos Olímpicos (helsínquia 1952). Nos anos 70, foi Presidente da Federação Portuguesa de Ginástica e dirigente desportivo internacional nos anos 80.
Talvez por isso o seu orgulho em treinar com os mais velhos fosse ainda maior. A sua paixão sempre foram os apa- relhos, barra fixa, argolas, paralelas, cavalo com arção, etc, etc... Sempre foi pequeno, o seu peso sempre esteve à volta dos 60 kg e no final dos treinos baixava para os 58 kg, ainda hoje o seu peso não varia muito, o que sempre lhe permitiu
ter a destreza física para aquilo que gostava verdadeiramen- te a ginástica.
A Ginástica no IPE no início dos anos 70 era ainda muito militar, mas teve uma evolução muito grande durante os 11 anos que esteve lá, tornando-se numa ginástica moderna e atual, e em termos de exibição, num verdadeiro espetá- culo. Orgulha-se de ter contribuído para isso, e diz que foi um dos que democratizou e desmistificou algumas coisas na altura, como por exemplo as piruetas, mortais e duplos mortais, ninguém os queria fazer, nem se sentiam-se con- fiantes em saltar para umas lonas, a facilidade com que o conseguia fazer e começou a fazê-lo, incentivou outros a segui-lo.
Apesar de termos outros ginastas muito bons, era sempre por ele que esperávamos, como quem espera pela cereja que fica em cima do bolo. Um exemplo de dedicação e de humildade. Será, sempre, a causa de eu poder gritar ao mundo:
– Somos mesmo bons!
Ramiro Nolasco (19740268)
Creio, se a memória não me atraiçoa, que o 17, nas argolas entrava directamente para Cristo, de baixo para cima, quando o normal era estar em cima e ir descendo até Cristo.
João Carlos Cruz (19750043)
14 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho
Ficou-lhe na memória o 25 de maio de 1975, num perío- do conturbado, tinham treinado o ano inteiro para a exibi- ção, mas nesse dia de manhã os muros do IPE apareceram todos pintados, e alguns alunos revolucionários, não que- riam que eles atuassem, para um miúdo de 14 anos (e para os seus colegas), não atuar seria um grande desgosto. Mas, mesmo com toda a resistência da altura atuaram não se li- vraram, no entanto, de serem apelidados de “macacos amestrados” pelos colegas.
Grande ginasta! Os primeiros duplos no tapete, os gi- gantes na barra, o Cristo nas argolas e um mestre no terrível cavalo com arções.
Carlos Carneirinho (19740062)
No princípio dos anos 80, na camarata montada no miniginásio o 17 fez uma prancha no chão e subiu lentamente para um pino perfeito, descendo após uns momentos para recto de pernas juntas. Fiquei sidera- do, não imaginava que um ser humano tivesse tanta força e equilíbrio. Ao grande 17... Salvé, Salvé, Salvé. José Vasques (19770287)
Confidencia-nos que a ginástica não era só dedicação e trabalho, era paixão, fazia parte da sua natureza e de quem era. Em 1977/78 foi eleito para fazer parte da Seleção Nacional de Ginástica artística.