Page 38 - Boletim numero 255 da APE
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EVOCAÇõES
a minha “mesa”...
em 1965/66
Manuel Pimenta
19640022
Nesses tempos da década 60, o Bata- lhão Escolar era constituído por cerca de 400 alunos repartidos por 4 Companhias e estas por 2, 3 ou 4 Pelotões. Cada Pelo- tão tinha cerca de 30 alunos. As 2a e 3a Companhias eram as que tinham maior números de alunos.
Em termos escolares os alunos esta- vam inseridos pelos diversos Cursos: Cur- so Preparatório, Geral de Indústria, Geral de Comércio, Médio de Contabilidade, Médio de Electrotecnia e Máquinas, de Electrónica, de óptica e Instrumentos de Precisão, de Mecânica. Nos Cursos eram enquadrados nos diferentes anos e nes- tes em Turmas, em que nos maiores Cur- sos eram denominadas por A, B e C.
Mas a mesa sendo a “célula” menor em quantidade de alunos era a que mais particularidades e singularidades possuía e a distinguia das Turmas, dos Pelotões,
das Companhias.
O chefe de mesa era verdadeiramente um chefe no lo-
cal; punha e dispunha, tinha e fazia cumprir rituais e sendo o líder tinha várias outras responsabilidades: distribuía as refeições e garantia que todos comiam por igual.
Nas mesas aprendíamos a saber esperar e aguardar pe- las ordens e indicações, a combater a ansiedade de logo ini- ciar a refeição e para quem não soubesse ainda utilizar os diferentes talheres a mesa era a escola, o chefe o professor. Os protocolos de educação e boa postura à mesa também eram ali transmitidos e aperfeiçoados e as conversas e dis- cussões na mesa eram “superiormente” controladas pelo chefe.
O chefe também se preocupava com o aproveitamento escolar dos membros da mesa e muitas dúvidas ou explica- ções suplementares eram ali resolvidas e tratadas.
O chefe sendo habitualmente o mais velho e conhece- dor do Instituto era o “filósofo”, o “doutrinador”, que incutia a “chama”, o “carisma”, o “apego” ao Instituto e evocava as “lendas” do passado e do Instituto.
As histórias do “Jacaré”, do “Perdigão”, da “fonte da Ma- dalena”, as histórias sobre os Professores e alunos, as proe- zas dos alunos nas vidas profissionais pós-Instituto e outras histórias do Instituto... eram enaltecidas na mesa....
Igualmente os jogos e os resultados de futebol de 11 en- tre o Instituto e o Colégio Militar, os resultados e classifica-
No Instituto a “mesa” era um conjunto de 7 alunos colocados numa mesa no refeitório, devidamente identificada e previamente designados pela Secre- taria da Companhia a que pertenciam esses alunos.
A “mesa” era a mais pequena “instituição”, a mais pe- quena “célula”, quanto ao número de alunos que existia no Instituto. Dos 7 alunos o chefe de mesa era o mais velho e/ ou mais graduado.
Faziam parte os 7 alunos e mantinha-se inalterável tanto no local do refeitório como nos alunos durante todo o ano lectivo. Três alunos nas duas partes laterais, o chefe num dos topos.
Cada aluno tinha o seu lugar e nele encontrava identifi- cado com o seu número de aluno o seu guardanapo de teci- do branco, colocado no interior de “envelope” igualmente em tecido branco e os respectivos talheres metálicos identi- ficados também com o número de aluno.
Nos pequenos-almoços, almoços e jantares lá nos en- contrávamos então todos com os prévios rituais e desfrutá- vamos das refeições. Pequeno-almoço 7.30h. Almoço 12.30. Jantar 20h.
Na década seguinte, década 70, com o implementação do “self-serviçe” a mesa como “instituição” deixou de fun- cionar, pois depois de recebermos o tabuleiro com a refei- ção e os talheres, os alunos procuravam os lugares vazios das mesas existentes para tomarem a sua refeição.
36 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro