Page 17 - Boletim numero 255 da APE
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Pedagógicas. Casou quase a seguir (também com um mi- litar) e passado um ano, como era de “Bom-Tom” como nos realçou, teve o seu filho mais velho. O seu marido, quase na mesma altura é destacado para uma missão na Guiné, para onde viaja acompanhando o marido e com o filho pequeno, começando então a dar aulas de história em Bissau. Relata-nos que traz na memória desses tem- pos, os alunos mais empenhados que alguma vez encon- trou, via os mais desfavorecidos à noite, sentarem-se de- baixo dos candeeiros da rua a estudarem.
Regressou depois a Portugal e percorreu várias esco- las antes de chegar ao IPE, Estremoz, Almada, Carnaxide, Olivais... Em 1987 ingressa então no IPE, onde ficou até 2014. Entrou para dar aulas ao secundário, mas acabou por dar aulas aos mais pequenos.
quando lhe perguntámos se sentiu algum impacto por ter entrado numa escola só de rapazes e num estabe- lecimento militar de ensino, ri-se e diz que não. A sua fa- mília era muito grande, com muitos irmãos, o pai era um austero militar que impunha disciplina e ela habituou-se desde cedo, conta-nos também que ia muitas vezes com o pai e irmãos ao futebol. O IPE era quase como estar em casa.
Diz-nos que em 26 anos que lecionou no IPE, não se lembra de ter algum aluno malcomportado, ou difícil, tudo se resolvia com uma pequena chamada de atenção, que isso fazia parte da cultura e educação dos alunos. Sempre gostou de lecionar história levando os seus alu- nos a ver “in loco” do que falava e por isso fomentava muitas visitas de estudo, era uma forma de os alunos apreenderem quase sem darem por isso. Conta-nos, re- forçando assim que o seu método tinha razão de ser, que numa determinada festa nos claustros do IPE, foi aborda- da por um Antigo Aluno, na casa dos cinquentas anos, que a esperava para a cumprimentar e para lhe dizer, que muitas vezes trazia colegas seus estrangeiros para conhe- cer monumentos e que se admiravam por ele saber tanto sobre os mesmos e que ele invariavelmente respondia que se devia a professora de história que tinha tido e às suas visitas de estudo.
quando lhe pedimos que nos contasse um episódio engraçado que tivesse ocorrido consigo no IPE, conta-nos que uma vez, numa saída para uma visita de estudo, um aluno aproximou-se dela, antes de ela entrar na TP21 e disse-lhe “ Professora, se for à frente sente-se no banco ao meio entre o motorista e o Sr. Tenente Coronel”, diz que achou piada, não dando muito importância, até por- que quando eram muitos alunos e necessitava de ir a frente, era exatamente o local onde se sentava. Nesse dia a caminho dos Jerónimos a porta da TP 21 abriu-se, e o Tenente Coronel ficou preso pelos braços, enquanto ela gritava de aflição. No final da viagem atribulada, o aluno foi ter com ela e disse-lhe “Eu não lhe disse professora, para se sentar no meio?”, ainda hoje não sabe se aquilo foi uma infeliz coincidência.
Afirma-se como monárquica, respeitando, no entanto, muito os valores dos velhos republicanos que fundaram o
IPE, que sempre se interessaram pelo soldado e também pela educação, e que o IPE ainda hoje honra esses repu- blicanos.
Diz-nos que o lema do IPE “querer é Poder” sempre fez parte da sua vida, mesmo antes de sequer conhecer o IPE e que não podia haver melhor lema para esta escola.
A Professora Maria de Jesus Pessanha Caimoto Duar- te, em 2014 reformou-se e depois da sua saída instituiu um prémio em seu nome, que é atribuído ao aluno do 9o Ano que tenha a melhor nota a história, que seja bom aluno em geral e com bom comportamento.
Foram-lhe atribuídos vários louvores e referências elogiosas durante os 26 anos que lecionou no IPE, sendo que por despacho de 1 de fevereiro de 2014 o Chefe do Estado Maior do Exército atribui-lhe a Medalha de D. Afonso henriques-Mérito do Exército de 2a classe.
quando lhe perguntámos o que sentiu quando rece- beu esta medalha, confidencia-nos que sentiu um misto de alegria e tristeza. Alegria por lhe estar a ser reconheci- do todo o seu trabalho em prol do IPE e dos alunos e tris- teza porque chegava ao fim a sua carreira e ia deixar de ensinar, uma das suas paixões, afirma que teria aceitado dar aulas de graça.
Diz-nos que está neste momento a tirar o mestrado em história Contemporânea na Faculdade de Ciências So- ciais e humanas, da Faculdade de Lisboa e que se ainda cá estiver quando terminar (e faz um grande sorriso), ainda vai tentar o doutoramento. Porque, para além da história ser uma grande paixão, é impensável para si sentar-se à espera que a morte venha!
Longa vida Sra. Professora, a senhora é com toda a certeza um exemplo de vida para todos nós...
CARAS DO PILÃO
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro | 15