Page 6 - Boletim Nº 254 da APE
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    Eu fui o maior
         lá do Pilão
(pelo menos o mais alto)
                                    “Because it’s there!” é a frase celebrizada por Ge- orge Mallory, famoso montanhista Inglês que morreu em 1924 quando tentava alcançar o pico dos Himalaias, em resposta à pergunta “Porquê escalar o Evereste?”. quando no dia 22 de Maio de 2019, às 7:00 (hora do Nepal, 2:15 em Portugal) pisei o ponto mais alto do nosso planeta e pensei nas razões que me trouxeram ali,
continuo a não encontrar melhor resposta.
A verdade é que existem muitas razões para escalar uma
montanha, para o Evereste existirão porventura 8848, tan- tas quantos os seus imponentes metros. Digo frequente- mente que não há palavras suficientes para descrever e ex- plicar todas as emoções e sensações que nos invadem na montanha, não há fotografia que faça jus a um nascer do Sol acima das nuvens quando estamos a meio caminho do topo de um destes monstros de rocha e gelo. Chegar ao topo do globo terrestre, depois de 3 anos de preparação, é um sonho tornado realidade, é a alegria infinita de fazer parte de um grupo restrito de 5 Portugueses que tocaram, literal- mente, o céu.
A história desta expedição começa 4 anos antes, quando em Março de 2015 subi o Monte Kilimanjaro (5895m) e que foi a minha primeira experiência em altitude. Sempre fui apaixonado por viajar, na altura escolhi este destino por ser uma aventura desafiante, mas acessível, uma vez que a su- bida, apesar de difícil, não requer equipamento nem conhe- cimentos avançados de montanhismo.
A minha relação com a montanha foi de tal forma mar- cante, que o ponto mais alto de África não me saiu da cabe- ça durante os meses que se seguiram. Até que em Fevereiro
Rui Silva 19830049
de 2016, depois de ver o filme “Evereste” (que curiosamen- te relata a história de uma tragédia), percebi que precisava regressar às montanhas. O Evereste seria um objectivo, mas também a desculpa perfeita para voltar a pisar estes gigan- tes que rasgam o céu, como preparação para o Topo do Mundo.
Desde o primeiro instante que percebi que seria neces- sário ganhar experiência e aprender a técnica, antes de en- frentar um destes monstros de mais de 8000m (existem 14 no total). Depois de algum trabalho de investigação, e com a ajuda de algumas agências comerciais de montanhismo que contactei, elaborei o plano de 3 anos que me levaria ao cume do Evereste. Na verdade era um plano em 4 partes: o plano familiar, uma vez que esta epopeia requeria muito tempo fora de casa; o plano financeiro, pois este é um ho- bby bastante dispendioso; o plano profissional, que depen- dia sobretudo de períodos de licença sem vencimento; o plano de treino, físico e técnico, que me permitiria escalar com eficiência e em segurança.
Como a minha experiência de montanhismo era muito reduzida, esta foi a primeira área de foco. Comecei por um curso introdutório na Serra de Gredos (Espanha) em Março de 2017, onde tive o João Garcia como instrutor (e que de- pois me ajudou durante todo o meu percurso). Seguiu-se o nível I de Escalada Desportiva na Associação SAFE (Maio de 2017), que me preparou para o nível II de Técnicas Alpinas realizado em Chamonix (Julho de 2017) e que incluiu subida ao ponto mais alto de Itália, Gran Paradiso com 4061m. Esta formação foi organizada pela Jagged Globe, empresa sedia- da no Reino unido sobre a qual recairia a minha escolha
   4 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • julho a setembro










































































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