Page 38 - Boletim Nº 254 da APE
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 NOTíCIAS DO IPE
MÃE de dois alunos do IPE...
               Os cantares desafinados das solas dos sapatos e os gritos de alerta dos miúdos fizeram-se ouvir assim que entrámos no edifício. Os meus filhos, indigna- dos, apenas olharam para mim ...
Não sabiam muito sobre aquele dia, apenas que iam vi- sitar uma escola diferente, uma escola que a mãe admirava. Muitos amigos da mãe já tinham ouvido falar daquela escola. A maioria sussurrava ao perguntar em tom de repro-
vação, como poderia a mãe pensar em inscrevê-los ali.
O “guia” que nos acompanhou era um senhor alto e bem parecido, muito simpático por sinal. vestia uma “roupa ver- de”. Por cada sítio que passávamos, ele lá o ia identificando,
olhando para os pequenos com um sorriso intrigante.
Ao chegarmos ao primeiro andar, o senhor vestido de verde pediu-nos que aguardássemos um pouco, ia verificar se os miúdos estavam decentes para que pudéssemos ver um dos quartos. Rapidamente nos fez sinal para avançar-
mos. Fiquei atenta... queria ver a reação deles...
Era um quarto grande, havia armários estreitos e altos; camas individuais todas muito bem arranjadas, vestiam uma coberta azul muito esticada e toda ao mesmo nível e na parte de cima fazia-se notar o alto do travesseiro tão perfei-
to como se de uma escultura se tratasse.
Era sexta-feira, os miúdos ali presentes: uns a fazer as
malas, outros a verificar o brilho do calçado, foram inter- rompidos por aqueles dois pares de olhos muito curiosos. um deles, mais atrevido, veio ao pé de nós e perguntou ao Henrique: “vens para cá?”. Este, meio envergonhado, solta um sorriso e encolhe os ombros olhando para mim à espera de uma resposta. Foi então que dei uma ajuda.
– Olá, eu sou a Marina, este é o Henrique e tem 8 anos, esta menina mais pequenita é a Margarida que ainda só tem 5. Eu gostava muito que um dia viessem para cá, por isso viemos visitar-vos. E tu? Gostas de cá andar?
– Gosto muito! – disse em tom confiante.
– Então e diz-me uma coisa, o que podes dizer aqui aos meus filhos sobre esta escola? – perguntei. E foi aí, que me emocionei pela primeira vez dentro daquelas instala- ções. O miúdo olhou para o Henrique de cabeça erguida e
Marina Ferreira
com um olhar triunfante e uma voz forte e firme respondeu: – Aqui, aprendemos a ser Homens!
Passados 7 anos aqui estou eu, a contar o que me vai na
alma e no coração. à procura de palavras que tenham força suficiente para vos fazer entender o que sinto enquanto mãe de 2 Pilões... e é difícil.
O Henrique entrou para “A Casa Tão Bela e Tão Ridente” em 2013, sempre como aluno interno. A Margarida, entrou em 2016. Ambos para o 5o ano.
Enquanto pais, sabemos que quando os nossos filhos terminam o 1o ciclo muita coisa muda. Normalmente há uma nova escola, as disciplinas são outras, as responsabili- dades aumentam, há afastamento de alguns amiguinhos e o aparecimento de novos, mas... quão intensa será essa mu- dança para nós?
Desde aquele mês de setembro de 2013, a minha vida tem sido uma descoberta constante. Procuro sempre estar presente nas atividades promovidas pelo Instituto dos Pupi- los do Exército, seja a Imposição de insígnias, Abertura Sole- ne do Ano Lectivo, Apadrinhamento, entrega de Distintivos de Mérito, reuniões, bailes ... e tive também o privilégio de privar com imensos antigos alunos e alunas.
Nos primeiros tempos, no final das aulas, ficava apenas atenta ao comportamento do Henrique para tentar perce- ber se a decisão havia sido bem tomada e se ele estava a adaptar-se ao IPE, depois, quis integrar-me e ficava a escu- tar as novidades que o Henrique tinha para contar, bem como as coisas que ele aprendia. Nunca foi um miúdo que falasse muito, mas falava o suficiente. Com a entrada da Margarida, 3 anos depois, a coisa ficou mais fácil, o que eu não sabia passava a saber, ela não conseguia guardar uma coisa nova só para ela. Se é novo e interessante então tem de ser partilhado e como devem perceber, a Margarida quando entrou já conhecia os cantos à casa, bem como 1 menino e 2 meninas que iam estudar com ela.
Eu nunca andei numa escola assim, não por falta de von- tade. Ainda me lembro de em criança dizer aos meus pais que queria ir para um colégio interno, mas eles nunca me deram ouvidos. Na altura pensariam que eu queria ser como
    36 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • julho a setembro









































































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