Page 2 - Anexo do Boletim 253 da APE
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        Crimes quase perfeitos:
o assassinato de D. João VI e o decreto apócrifo
---------------------------------- David Pascoal Rosado 19850253
“Sua magestade imperial e real teve, no dia sabbado, 4 do presente mez de março, uma indigestão, acompanhada de insultos nervosos, que momentaneamente duravam, e dos quaes, a benefício dos remedios, que se dignou a tomar, se acha melhor actu- almente.
Paço da Bemposta, 5 de março de 1826, ás oito horas da manhã”
“1.o Boletim”, datado de 05 de março de 1826 às 08 horas da manhã, in Documentos para a Historia das Cortes Geraes da Na- ção Portugueza, Tomo II – Anno de 1826, Lisboa, Imprensa Nacional, 1884, p. 9.
D. João teve de aguardar cinco anos para finalmente poder consumar o matrimónio. E muito rapidamente o angustiado marido constatou a têmpera da esposa que lhe havia ca- lhado em sortes. Altiva, caprichosa e matreira, muito cedo revelou a sua maneira muito particular de estar no mundo. Em permanente antagonismo com o seu marido, D. Carlota Joaquina foi-lhe infiel de todas as maneiras possíveis e traiu- o também de todas as maneiras possíveis. Portanto, diz-se sem grande surpresa que a maioria dos nove filhos havidos entre o real casal, não são filhos legítimos do rei D. João VI. Ainda assim, a verdade é que, seja de que maneira for, to- dos esses nove filhos - sem exceções - foram assumidos pelo monarca.
  D. João VI continua a ser, ainda hoje, um dos monarcas mais discutidos da História de Portugal. E muitas razões há para que isso aconteça. Sendo segundo filho varão, D. João não estava destinado a governar, mas a morte súbita do seu irmão mais velho D. José (que tinha o mesmo nome que o seu avô), príncipe do Brasil, acabou por lhe destinar o trono. Importa dizer que D. José era o oposto de D. João. Tinha tantas qualidades a seu favor que o rei D. José e o marquês de Pombal, em seu devido tempo, teriam equacionado mesmo que seria ele próprio a subir ao trono e não a sua mãe, a futura rainha D. Maria I.
Mas é caso para dizer que um azar nunca vem só. E talvez um dos maiores azares da sua vida tenha sido a terrí- vel mulher com quem casou: D. Carlota Joaquina. Quando casaram, ele tinha 18 anos e ela 10 anos apenas, pelo que
Importa também dizer que o destino de vida que ca- lhou a D. João VI não foi nada fácil. Desde logo porque nem
1| Anexo Digital ao Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho
























































































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