Page 17 - Boletim nº 251 da APE OUT a DEZ de 2018
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ERA UMA VEZ UM CAçADOR DE PLANETAS...
Cultura E ConhECiMEnto
Alexandre Correia
Dep. Física Univ. Coimbra
possível detetá-lo. Se descontarmos às estrelas observadas o efeito geométrico do alinhamento das órbitas, concluímos que pelo menos 50% das estrelas possuem planetas.
No passado dia 15 de novembro de 2018, reformou- -se o maior “caçador” de planetas de todos os tem- pos, o satélite Kepler Space Telescope (NASA). Como o nome indica, trata-se de um telescópio colocado no espa- ço. Lançado no dia 7 de março de 2009, tinha um período de vida inicialmente previsto de apenas três anos e meio, mas esteve ao serviço da humanidade por quase dez anos. No entanto, o combustível terminou e o satélite teve mes- mo de ser desativado.
O telescópio foi batizado em homenagem ao matemáti- co alemão Johannes Kepler (1571-1630), que foi um dos grandes astrónomos do passado, o primeiro que compre- endeu corretamente o movimento dos planetas do sistema solar. Devem-se a ele várias leis sobre o movimento dos pla- netas, por exemplo, a de que as suas órbitas são elipses (e não círculos como se julgou durante milénios). Johannes Kepler não descobriu nenhum planeta, mas as suas leis do movimento são válidas para qualquer sistema planetário, e uma correta interpretação das observações requer uma aplicação direta das leis de Kepler.
Durante a sua vida, o telescópio Kepler observou mais de meio milhão de estrelas e descobriu em torno destes mais de 2600 planetas. Aliás, o número de planetas descoberto pode vir ainda a aumentar, porque muitos dos dados reco- lhidos pelo telescópio antes de se reformar ainda estão a ser analisados. Na maioria das estrelas observadas não foram
detetados planetas, não por estes não existirem, mas devido às limitações da observação. A técnica empregue pelo Kepler consiste em medir varia- ções do brilho das estre- las quando um planeta passa em frente destas (método dos trânsitos). Assim, só quando a órbi- ta do planeta está perfei- tamente alinhada entre a Terra e a estrela é que é
Para além de ter descoberto mais planetas do que qual- quer outro instrumento precedente, entre estas descober- tas encontram-se vários sistemas com planetas únicos. Por exemplo, planetas que rodam em torno de duas estrelas, como o planeta fictício Tatooine, planeta natal da família Skywalker na saga Guerra das Estrelas. Descobriu igualmen- te planetas do tamanho da Terra na zona habitável das res- petivas estrelas, locais onde a temperatura é amena e pode permitir a existência de água no estado líquido. Estes pla- netas irão ser alvo de vários estudos futuros para averiguar- mos se existe lá vida.
Apesar do legado do telescópio Kepler ser enorme, já existem outros telescópios espaciais substitutos. Usam exa- tamente a mesma técnica de deteção de planetas, mas olham para zonas diferentes do céu e com mais precisão. Entre os mais promissores estão o satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite, NASA), a operar desde o dia 7 de agosto de 2018, e o satélite CHEOPS (CHaracterising ExOPla- nets Satellite, ESA), com lançamento previsto para 2019. Para além de descobrir novos mundos, esta nova geração de telescópios irá medir com precisão as dimensões dos plane- tas. Esta informação permitirá determinar a densidade dos planetas, e assim também a sua composição aproximada.
Planeta fictício Tatooine, da saga Guerra das Estrelas
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • Outubro-Dezembro | 15