Page 16 - Boletim APE - 250
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Cultura E ConhECimEnto
 MAIs PErTO DO sOl
  No passado dia 12 de agosto de 2018, foi lançada com sucesso a sonda espacial Parker, construída pela NAsA, que tem o mais improvável dos desti- nos: o sol. Não é a primeira vez que o homem dedica uma sonda espacial unicamente ao estudo do astro-rei, mas to- das as anteriores ficaram nas imediações da Terra. quando a Parker alcançar a sua órbita final, será o objeto construído pelo homem que mais se aproximará do sol: pouco mais 6 milhões de quilómetros, cerca de 4,5 vezes o diâmetro do sol. Como termo de comparação, o planeta Mercúrio en- contra-se 10 vezes mais longe, a 60 milhões de quilómetros do sol. Nos momentos de maior aproximação, a sonda esta- rá tão perto do sol que viajará através da alta atmosfera, chamada de coroa solar.
Para se manter em órbita, a sonda Parker tornar-se-á igualmente o objeto mais rápido alguma vez construído pelo homem, atingindo uma velocidade de 700 mil quiló- metros por hora nos momentos de maior proximidade ao sol. Para poder alcançar uma velocidade tão elevada, a son- da fará sucessivas aproximações ao planeta Vénus, sete no total, que permitirão colocar a sonda na sua órbita final.
Alexandre Correia
Dep. Física Univ. Aveiro
A sonda Parker recebeu o nome em homenagem a Eu- gene Parker, um cientista americano de 91 anos que dedi- cou toda a sua vida ao estudo do sol. Na década de 50 do século passado desenvolveu a teoria do vento solar super- sónico e previu a forma espiral do campo magnético do sol nos confins do sistema solar. Em 1987 propôs ainda que a coroa solar seria fortemente aquecida por um conjunto de pequenas erupções solares que ocorrem em toda a sua su- perfície. Esta foi a primeira vez que a NAsA atribuiu a uma sonda espacial o nome de uma pessoa ainda em vida.
O interesse científico desta missão é evidente, o de aprofundar o nosso conhecimento sobre o sol. Apesar de ser a estrela mais próxima da Terra e absolutamente funda- mental para a nossa existência (ver boletim #222), ainda há muitas coisas que desconhecemos sobre si. Para desvendar um pouco mais os mistérios do sol, vários instrumentos de medida viajam com a sonda, tais como telescópios, senso- res de campo eletromagnético, sensores de partículas ioni- zadas (protões, eletrões, etc.), entre outros. Têm por objeti- vo, por exemplo, mapear o fluxo de energia que aquece a coroa e acelera o vento solar ou determinar a estrutura e a dinâmica dos campos magnéticos.
Os instrumentos a bordo estão abrigados do forte calor e radiação através de um escudo protetor com mais de dois metros de diâmetro e dez centímetros de espes- sura, que está preparado para suportar temperaturas até 1400oC. Os instrumentos encontram-se todos no centro do escudo, onde a radiação direta do sol é totalmente bloqueada. Na ausência de escudo protetor, os instru- mentos ficariam danificados e inoperáveis em apenas al- guns segundos. No entanto, à medida que a sonda se aproxima do sol o ambiente ficará cada vez mais agressivo e o escudo irá sendo progressivamente danificado. Por essa razão, a missão está prevista durar apenas sete anos, até 2025, altura em
que será atingida
a aproximação má-
xima ao sol. Não
sabemos se a son-
da resistirá mais al-
gum tempo, mas
por essa altura o
nosso conhecimen-
to sobre o sol em
particular, e sobre
as estrelas em geral,
terá já aumentado
de forma conside- Prof. Eugene Parker da
  14 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • Julho-Setembro 2018
rável.
university of Chicago










































































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