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BOLETIM APE | JUL/SET 2023
CRÓNICAS 3
Crónica de Viagem à
Índia Portuguesa
(Fev-Mar 2023)
Parte 1/3 – Damão, Dádrá e Nagar Haveli
António Ribeiro
da Silva
19600093
Duas viagens anteriores à Índia tinham-me
despertado os sentidos para a gesta lusitana pelo
Oriente:
– Em Novembro de 1982, uma deslocação de caracter
profissional a Bombaim (quando trabalhava no Iraque),
permitiram-me uma passagem fugaz por Goa.
– Em Novembro / Dezembro 2009, integrado num grupo
organizado por uma Agência de Viagens, que acabou por
se cingir a duas pessoas (a minha cara metade e eu), onde
para além de Goa e Bombaim, passamos por Delhi, Samode,
Jaipur e Agra, pois não podíamos perder a visita ao icónico
Taj Mahal.
Desta feita fui viajar com quem conhece a terra, não
só porque a estudou, mas, sobretudo, porque a tem
impregnada na alma por lá ter nascido e a amar: Cândido
do Carmo Azevedo (19600364), meu contemporâneo Pilão,
nascido em Damão. Disso já deu sobeja prova nas crónicas
com que nos deliciou no facebook e na dezena de livros que
já publicou.
Partimos de Lisboa a 21 de Fevereiro, na senda do Preste
João, mas sem dispor de tanto tempo como o Vasco da
Gama. Viagem de 12 horas e meia na Turkish Airlines até
Bombaim, incluindo escala de 1H30 em Istambul.
O plano traçado, estritamente votado à história de
Portugal, incluía Damão (4 dias), Bombaim (3 dias) e Goa
(8 dias).
Ainda em trânsito no aeroporto de Bombaim deixei-
me impressionar pelas cornucópias da alcatifa dos seus
corredores de acesso, decoração seguramente inspirada
nas penas do pavão, que é a ave símbolo icónico de alguns
estados da União Indiana
Um táxi previamente contratado em Damão, conduzido
pelo Ahmet, foi buscar estes dois Pilões ao aeroporto de
Bombaim, que na madrugada de 22 de Fevereiro, ao entrar
em território de Damão (170 Kms a norte de Bombaim),
pararam para uma foto ao atravessar a porta (modernizada)
da antiga fronteira portuguesa, que ainda hoje identifica
o início do “território de Damão e Diu” (organização
administrativa em tudo equivalente a um dos estados da
União Indiana). Viagem de cerca de 3 horas em estradas de
piso razoável e trânsito caótico.
O território de Damão deve o seu nome ao rio Daman-
Ganga que divide a cidade capital em duas partes distintas,
ligadas por uma ponte rodoviária pejada de tráfego: Nani
Daman (Damão Pequeno) e Moti Daman (Damão Grande),
cada uma com sua ancestral fortaleza.
Dirigimo-nos a casa do Bernardo Noruega em Nani
Daman, um rapaz septuagenário da nossa idade, filho mais
novo do padrinho do Cândido, que acordámos e nos foi
ajudar a encontrar um Hotel onde nos instalámos, ali bem
perto (Nana’s Palace – 2.200 rupias por dia), a 5 minutos da
costa, agora bordejada por amplo passeio e larga avenida.
Não obstante a herança cultural portuguesa estar ainda
bem vincada em Damão, visível no nome das ruas (Visconde
Ourém, etc.) e nos imóveis de raiz colonial (incluindo o