Page 47 - Boletim da APE 270
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OS NOSSOS PROFISSIONAIS 45
BOLETIM APE | JUL/SET 2023
cimas dos outros, todos entulhados em papéis escritos pela
nefasta pressão das linhas vermelhas dos números, números
inventados, números que escravizados, dariam sempre um
qualquer alimento salobro ao final dos dias.
E como já desde criança a construção era o objectivo, em
1998 com os meus 35 anos de idade, arranco para aos EUA
em Las Vegas, durante um mês e pouco, sozinho, de mochila
às costas, como se fosse a primeira vez que tivesse saído do
Pilão, para uma convenção sobre “aço leve”, diga-se, LSF
(Light Steel Framing) e assim fui, novamente em busca do
ar livre, mas desta vez para trazer para Portugal um novo
método construtivo de estruturas metálicas.
Comprei terrenos, construí casas para vender, os clientes
apareceriam, construí para eles e eles me traziam mais
clientes e a minha empresa crescia reconhecidamente no
mercado.
Fiz seminários nas Universidades, fiz exposições nas
feiras de construção e criei outra empresa com outros
parceiros estratégicos europeus com vista à disseminação
do método construtivo na Europa.
E ia crescendo, facturando e criando riqueza com uma
boa dúzia de empregados fixos e também com uma rede
de subempreiteiros para aqueles trabalhos adjacentes às
estruturas.
Em 2008 dá-se a maior crise mundial no sector da
construção. Indemnizei o pessoal e mantive a empresa como
consultora especializada em “aço leve”, só eu.
E, como se fosse a primeira vez que tivesse saído
do Pilão, sozinho, peguei na mochila e fui correr os
quatro cantos do mundo, onde quer que a minha
ajuda pudesse trazer o dinheiro para viver.
E.U.A, Brasil, Uruguai, Espanha, França, Angola,
Moçambique, Dubai, Arábia Saudita, Abu Dhabi e
Maurícias, foram lugares por onde passei e lá deixei
o meu testemunho visível, o fruto do meu esforço
edificado e puder dizer hoje, e sempre que lá passar,
que ali está à vista um pouco de mim.
Claro, a minha casa fui eu que a construi. Ela é
estruturalmente aquilo que sempre sonhei para ela.
Ela já estava no mesmo sonho que em pequenino,
em Angola, eu tinha prometido à minha mãe que
ia para aquela escola da Metrópole para estudar
muito, estudar tanto que iria ser um engenheiro
capaz de fazer tantas construções, tantas quanto
era o meu amor por ela.
Belos tempos aqueles de Angola!
Hoje, aos 61 anos de idade, como sempre, como
se fosse a primeira vez que tivesse saído do Pilão,
tenho projectos em curso e outros em conversações
dentro da mochila, sempre pronta, que, se Deus
quiser, me levarão de avião às terras que continuam
a chamar pela minha experiência.
Montagem de operações para construção de
grande escala, bairros sociais, condomínios de luxo
e prédios de média altura, assim como, montagens
de fábricas móveis para a construção de casas em
zonas de maiores condicionantes, tudo isto com o
“aço leve”.
Nunca exerci o que aprendi no Curso de Fortes
no Pilão.
Não era aquele curso a faculdade da minha
vida. O que eu aprendi no Pilão, o que eu realmente
trouxe comigo para a vida, foram os valores
expressos e partilhados com os meus companheiros de
camarata durante o dia a dia no exercício das actividades
circum-escolares no Pilão.
São valores que não se aprendem em mais lado nenhum:
chegar antes da hora marcada; respeitar o espaço dos outros
como se fosse o seu; não permitir a invasão de ninguém;
qualquer que fosse a tarefa era para a acabar até ao fim; o fim
de alguma coisa já não tem qualquer retrocesso; o empenho
deve ter um resultado evidente; qualquer resultado atingido
é um degrau ao objectivo seguinte; um laço cortado equivale
a uma eternidade; a lealdade é um vínculo definitivo; ao
que quer que nos arrisquemos, há sempre uma saída boa; e
para aqueles que como eu lá tiveram vislumbres de poetas
amadores, a única certeza que temos é a de que o amor é
a sua própria procura, e, há sempre uma espécie de fé que
a Escola nos incute de que depois que tudo acaba, não foi
afinal o resultado que contou, mas o afecto do aprendizado
da lição que aprendemos com quem o caminho nos deu,
porque a vida é por triz.
a sua própria procura, e, há sempre uma espécie de fé que
a Escola nos incute de que depois que tudo acaba, não foi
afinal o resultado que contou, mas o afecto do aprendizado
da lição que aprendemos com quem o caminho nos deu,
porque a vida é por triz.










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