Page 56 - Boletim APE 269
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  O QUE EU LI...
Ramiro Nolasco
19740268
“O ROSTO DAS METÁFORAS”, de Jorge Alexandre Paulo Pereira, editado pela Editora Labirinto, foi vencedor do Prémio de Poesia Soledade Summavielle em 2018. Jorge Paulo, foi professor na nossa Escola de 2011 a 2018, onde leccionou português, foi director de turma, coordenador da revista dos alunos do IPE e do grupo disciplinar de português.
Apareceu-me, assim, num dia de sorte, um poema que me fez parar e que me motivou à procura de outros, não fosse aquele ser o cume de um amontoado de outros com menos valor. Durante o caminho, a surpresa, a vontade de encontrar mais um. Um dia, como se o tempo me tivesse dado o tempo de amadurecer a vontade, um anúncio apregoava a venda desta obra e eu encomendei-a. Sem grandes expectativas sobre o tempo que lhe iria dedicar, até porque adivinhava o poder, de vez em quando, abrir uma página qualquer e ler um poema, quem sabe, dois, num dia em que tivesse mais avidez, recebi o livro e assim fiz. Li a dedicatória e, sem mais demora, numa página aleatória, um poema, depois outro, com a convicção de ficar saciado. Assim não aconteceu; noutra página, já para o final, li aquele de que tinha a certeza ser o último do dia. E parei! Fui tomar um café, perplexo com a vontade súbita de continuar, logo eu que sou tão preguiçoso, e, no regresso, recomecei, do início, sem a aleatoriedade do primeiro contacto e viajei, página a página, até encontrar a contracapa.
Longe de mim o pretensiosismo de ser um crítico literário, não tenho conhecimento para isso, portanto, esta é só a opinião de um leitor que vive a poesia.
Se tivesse de escolher um tema central, diria que se trata do valor da perda, mas tem mais, muito mais:
A saudade, seja ela do que aconteceu ou do que ficou por acontecer, está sempre presente e a dor não chorada, mas avisada, aprece-nos como um alerta de consequência, incitando-nos a beber intensamente o presente. Os poemas aparecem-nos cheios de ritmo, de múltiplas estruturas, da liberdade de os aumentarmos nas entrelinhas e de palavras meticulosamente escolhidas para que não haja parra no meio da uva, como se houvesse urgência em passar a mensagem. Cada um deles, surge como uma peça de um puzzle que vamos construindo lauda a lauda e que, no final, nos deixa
introspectivos e com a sensação de ter lido um ensaio. Escrever assim, exige coragem e demonstra generosidade.
Grato por esta lição, professor.
Autor: Jorge Alexandre Paulo Pereira Título: O Rostos das Metáforas
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BOLETIM APE | ABR/JUN 2023
  




















































































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