Page 11 - Boletim numero 257 da APE
P. 11
A Colónia de Cayena
CULTURA E CONhECIMENTO
Cândido Azevedo
e guiana
O maior benefício com esta anexação foi a deslocação da fronteira brasileira mais para Norte. Este território, em quase todo o seu espaço, é dominado por uma floresta tropical den- sa e quase impenetrável, com uma diversidade de mais de 60 000 espécies lenhosas e arbóreas, algumas, como o ébano, com mais de 80 metros de altura. Reunia assim espécies vege- tais que de imediato foram desejadas pelos portugueses, e estas, estavam à disposição em dois centros de plantação fa- mosos que os franceses mantinham em Caiena: “habitation Royale des Épiceries”, mais conhecida como La Gabriele, pela “habitation de Mont-Baduel”, pela “habitation Tilsit” e pela Fábrica de Madeiras de Nancibo. A ideia já existente da cria- ção do Jardim Botânico do Rio de Janeiro vem a ser materiali- zada por iniciativa do governador de Caiena, João Severiano, bem como os jardins de especiaria no Pará e outro em Per- nambuco. Mereceu o apoio do ministro Rodrigo de Sousa Coutinho, que entre diversas incumbências, cargos e designa- ções também foi responsável pelos hortos brasileiros, man- dou providenciar o transporte de Caiena para Rio de Janeiro “da maior quantidade possível de todas as árvores de especia- ria e de todo o género de culturas”. Vieram então para o Brasil cerca de uma centena de espécies vegetativas ainda não exis- tentes, bem como diversas plantas de especiarias e frutos, entre os quais a fruta-pão, o camboeiro, a gamboeira, o aba- cateiro e a cana caiena, muito superior à cana-de-açúcar culti- vada então no Brasil. Outras terão vindo para Lisboa, julga-se para o Jardim Botânico da Ajuda já fundado em 1768. Por de- cisão do Príncipe, para a recolha, manutenção e transporte deveriam seguir para a Guiana “hábeis jardineiros, que não viessem a ser contaminados pela ideologia liberal”.
Em 1814, com a derrota de Napoleão, o novo governo francês reivindica a posse da colónia. A proposta francesa não é aceite pelo já rei D. João VI no, agora novo, Reino unido de Portugal, Brasil e Algarves, pelo que a questão foi discutida no Congresso de Viena. A França acabou por concordar em recuar os limites de sua colónia, fixando a nova fronteira en- tre os dois territórios, no rio Oiapoque. Os portugueses dei- xam a Guiana em 21 de Novembro de 1817, terminando com um domínio de 8 anos.
(Por decisão pessoal, o autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
19600364
Sabia que... a ocupação deste território, possuidor de uma densa floresta, permitiu a criação do Jar- dim Botânico do Rio de Janeiro? E que... os jardinei- ros portugueses para trabalharem em Caiena eram escolhidos, para não serem contaminados Dpela ideologia liberal francesa lá reinante?
ata de 1664 o estabelecimento dos franceses na Guiana a Norte do Brasil, fundando nesse mesmo ano a cidade de Cayena. Rapidamente se iniciaram
as rivalidades entre franceses e portugueses, dado aqueles pretenderem estender as suas fronteiras mais para o Sul de forma a dominarem a margem norte do rio Amazonas. Os portugueses, não concordando, construiriam uma série de fortins para impedir tal pretensão. Será só em 1703 que se estabelecerá definitivamente a fronteira, o rio Oyapock divi- dindo o território francês do português.
O território sul-americano da Guiana foi conquistado à França em 1809 como represália pela primeira invasão fran- cesa a Portugal em 1807. Esta ocupação foi ordenada pelo então Príncipe-Regente D. João (regente porque sua mãe Dona Maria I, foi declarada mentalmente incapaz), quando perante a invasão e por interesse nacional, se havia transferi- do com a corte para o Rio de Janeiro.
O exército invasor de Guiana foi constituído por um con- tingente português de 700 soldados regulares do exército co- lonial, chefiados pelo tenente-coronel Manuel Marques e 550 soldados regulares da infantaria naval da marinha inglesa e vários navios de guerra, para servir como transporte e prestar apoio de artilharia no mar, sendo comandante da expedição naval um experiente comandante inglês, James Lucas Yeo.
Os defensores franceses eram cerca de 1200 homens en- tre a infantaria regular e milícias, muitos da população negra livre do território. Caiena, ilha e capital, caiu no espaço de uma semana, com o governador francês Victor hughes a render-se sem resistência, em 12 de Janeiro de 1809. Agora em mãos portuguesas, passou a ser administrada por João Severiano Maciel da Costa, Marquês de queluz, com a desig- nação de Colónia de Caiena e Guiana.
Caro Associado, a quota de 2020 está a pagamento!
A existência da Associação depende dos seus associados.
Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • abril a junho | 9