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AssOCIAÇÃO DOs PuPILOs DO EXÉRCITO
Em Memória
Adeus Meu Amigo vermos as garotas. Lembro-me de uma brincadeira que
ambos mantivemos durante os dois anos que por lá andá-
António Romualdo (19460082) mos; sempre que passávamos em frente a uma funerária,
baixávamo-nos para que não nos tirassem as medidas.
Perdi um amigo. Um amigo de
longa data. Ele um pouco mais Deves ter-te esquecido e não te baixaste a tempo. Não
velho do que eu, já estava nos acredito na vida para além da morte, mas no teu funeral,
meu amigo, recordei os nossos belos tempos.
Pupilos do Exército há dois anos Adeus para sempre.
quando eu entrei. Tínhamos os dois Rui Cabral Telo | 19480265
o espírito da caça e ambos gostá-
vamos da natureza. Trepámos a
todos os cedros da mata de São Francisco Parreira de Abreu
Domingos de Benfica e não houve (19400116)
ninho que não tivéssemos visto e referenciado. Andei a
fugir dele para que não me chegasse a roupa ao pelo, por Popularizado (e apreciado) como “Tartaruga”, por
lhe tirar os pássaros que ele tão ciosamente guardava para
si. Mais tarde caçávamos juntos. A amizade perdurou até causa dos seus óculos “à maneira”, o Parreira de Abreu fez
agora. Há cerca de seis anos um implacável AVC atirou-o carreira técnica em Angola onde se notabilizou como
Dirigente desportivo de grande qualidade. Deixou-nos aos
para uma cadeira de rodas. Com um senso de humor que 84 anos de idade, mantendo-se informado da vida e obra
deixava muito a desejar, com um terrível mau feitio, al-
guma misoginia que o fez acabar sem o apoio de uma da APE através do seu vizinho Augusto Dias e também
mulher (teve apenas o de sua filha e netos), mas também do David Sequerra, seus companheiros de tertúlias no
com a manutenção da grande amizade que nutria por “Nova Lisboa”, em Alvalade.
todos nós (Pilões) que o apoiámos até ao fim, lá acabou Cursou Industria, entre Outubro de 1940 e Setembro
deixando-nos um grande vazio mas também algum alívio de 1947. Era natural de Macau (Freguesia de S. Lourenço)
por vermos terminado o seu e nosso sofrimento. Já era e viveu em Luanda até 1975. Uma figura popular do seu
penoso visitá-lo por ver o estado a que estava a chegar tempo, um “pilão” que deixa saudades. À família enlutada
depois de uma vida tão movimentada e sã que tivera na os nossos pêsames.
nossa companhia aquando das boas caçadas que fizemos.
Custa ver partir um amigo, mas mais custa vê-lo entrar
em degradação. Fica a recordação e a saudade. Obrigado José de Oliveira (19390209)
Romualdo (19460082) pela tua amizade.
No dia em que completava 85
anos de idade, deixou-nos o muito
O “Ribeirinho” devotado “pilão” José de Oliveira,
bem conhecido como “Ossos l”,
Luís Severino Lage Faria Ribeiro Engenheiro Técnico (M.E.) de
(19470262) notável carreira profissional. Fale-
ceu na sua querida cidade de
O Faria Ribeiro era pilão de Caldas da Rainha de onde era
47 e eu de 48. Durante sete natural e se fixara após a reforma. Foi finalista em 1948,
anos que por lá andei falávamos nove anos decorridos da sua entrada no Instituto. Recen-
bem mas não muitas vezes. temente, já em 2012, tivemo-lo por companheiro numa
Éramos de cursos diferentes. reunião em São Domingos.
Concorremos ambos à Escola Para sua família, em especial a sua extremosa esposa,
do Exército e entrámos no as nossas sentidas condolências.
mesmo ano. Aí fomos os me-
lhores amigos.
… Augusto F. Carmo (19330106)
Ainda me recordo dos teus pais. A tua mãe, senhora
muito bonita, tocava no piano a Ave Maria de Schubert No final do já distante Verão de 1933, o menino Au-
em trémulo. Era lindo. Na EE saíamos quase sempre jun- gusto, aos 9 anos de idade, trocava a sua rústica Freguesia
tos e com pouco dinheiro para gastar. Andávamos a pé até do Ocidental (Viseu) por São Domingos de Benfica, na
à baixa. Um dia para apreciarmos carros, outro dia para então denominada capital do Império.
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