Page 8 - Boletim 273 da APE
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   À CONVERSA COM FERNANDO MATOS SILVA
Fernando Matos Silva (19520131), é apresentado pela Cinemateca Portuguesa como uma “figura seminal do Novo Cinema português” e “um dos cineastas essenciais para compreender o cinema de Abril”. Fomos falar com ele, tendo a conversa, agradável e bem disposta, decorrido, num lindíssimo recanto de Lisboa, a Praça das Flores. Assim que nos sentamos e antes de qualquer pergunta, aparece com toda a naturalidade o inevitável “contador de histórias” que é o Fernando Matos Silva. Relembra a dureza de alguns professores e de algumas praxes, mas também o nome de bons professores; Moleirinho do Carmo e Tamagnini!
Porque vais para os Pupilos?
Os meus pais separaram-se e eu e o meu irmão ficámos com a minha mãe. Estudei no Passos Manuel até aos 12 anos e depois, para aliviar as dificuldades em casa, fui para os Pupilos. O meu irmão estudou sempre no Pedro Nunes.
Foste sempre bom aluno...
Sim. O meu raciocínio foi, “se tens que cá estar, aproveita o que podes e leva isto sem te chateares”. Mas mesmo assim ainda me meti em sarilhos, como quando fiz um abaixo-assinado para tirarem os crucifixos das camaratas. Fui castigado por um capitão que vim depois a encontrar na Guiné e que aí se portou bem comigo! Acabei como comandante do 3.o pelotão da 3.a companhia, o mais difícil de todos!
Que desportos fazias?
Era da “Especial”, com o Robalo Gouveia e fazia Remo. O Robalo gostava de mim! Tive como professores, e gostei deles, o Moura e Sá, o Fernando Ferreira e o Moniz Pereira! As aulas com o Moniz Pereira acabavam sempre 10 minutos mais cedo, porque, como na altura existia umpianonoginásio,pedíamosparaeletocar qualquer coisa e ficávamos deliciados a ouvir.
Isto lembra-me um disparate que fizeram naquela altura, acabaram com a música. Uma decisão disparatada, muito má do ponto de vista da formação cultural dos alunos!
Como é que o cinema surge na tua vida?
Eu morava em Campo de Ourique e desde novo que eu e o meu irmão íamos às matinés do cinema Europa e a outras salas de cinema. Gostámos sempre de cinema.
E nos Pupilos?
Lembro-me de ter visto e de ter gostado do “Chaimite” do Jorge Brum do Canto.
Acabaste o curso de Contabilidade em 1958 e concorreste à Academia Militar?
Porque era obrigatório naquela altura. Mas fiz por chumbar, nas provas escritas e nas provas físicas. Nestas, estava lá um capitão que me conhecia dos Pupilos e que ainda fez uns comentários por eu não estar a fazer certas coisas! Ele sabia que eu era da Especial! Mas correu bem e chumbei!!!
Safaste-te à tropa?
Não! Chamaram-me e fui três vezes! Até parecia castigo pelo episódio da Academia!
Com a formação dos Pupilos sou chamado como oficial, como aspirante miliciano. Como tinha sido bom aluno a Organização Militar nos Pupilos e a Contabilidade (lembro-me de ser elogiado pelos professores pela facilidade com que fazia o “Balanço de Carnet”) peço e consigo ir para o Quartel em frente à Sé de Lisboa onde se controlavam as contas das unidades militares. Só se trabalhava de tarde o que me dava tempo para outras coisas, como estudar, pois tinha entrado para “Económicas e Financeiras”.
Terminado o serviço militar , sou promovido a alferes e saio. Vou para a CUF e fico responsável pelos serviços mecanográficos. Em 1961, chamam-me outra vez. Apresento-me na EPAM.
 














































































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