Page 15 - Anexo Boletim Ape 271
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EM FOCO APE 13
BOLETIM APE | OUT/DEZ 2023
Dediquemos este aniversário a todos aqueles de quem
sentimos a sua falta. Sem a sua presença física não somos
os mesmos, mas, vendo bem, num determinado ponto dos
nossos caminhos, até somos os mesmos porque pela curva
da estrada, a nossa vida a caminho deles vai.
No fim de tudo, eles lá e nós cá, importará sempre o que
fomos no pano de fundo do xadrez do tempo, do tempo
que jugou as nossas almas e rolou as nossas histórias ao
sopro das leis Universais; tal como os astros no espaço,
fomo-nos revestindo aos eventos que vão ficando cravados
na pele e aqui, hoje, ainda logramos a graça da celebração
do que fomos, do que conseguimos ser e para onde ainda
pretendemos chegar.
Todos esses dias, do primeiro dia da entrada para o Pilão
ao último dia do último da nossa geração, só a nós nos
pertencem, precisamente porque foram criados para nós,
foram concebidos à nossa medida, porquanto neles que
foram plantadas as nossas raízes, nesta Casa tão Bela e tão
Ridente, este aquário cósmico no sopé da Serra de
Monsanto.
Desde aqui, crescemos grandes, tão grandes quanto do
tamanho do Mundo: professores, padres, advogados,
engenheiros, sargentos, generais, médicos, pintores,
administradores, políticos, apolíticos, trabalhadores de
todas as outras profissões inventadas, e claro, sem
esquecer os poetas.
Igualmente, não podemos esquecer as nossas Alunas.
Elas vieram em boa hora, tenra que era a nossa
juventude naqueles belos tempos da nossa adolescência
interna, elas vieram e elas nos ensinaram a ser mais mansos,
mais modernos e acabaram por ser as nossas companheiras
de guerra.
Fomo-nos separando.
Se naqueles tempos primórdios já sentíamos a dor no
peito do menino fardado, deixado lá atrás, abandonado aos
fins de semana, entregue à cal das paredes do internato,
hoje, essa dor virada saudade, é tanto maior quanto os
sonhos ali semeados.
Juntos pela cumplicidade do fio do tempo fomos
descobrindo a camaradagem e a lealdade, vínculos que nos
uniam segundo valores que nos convenciam plenamente
que também seria assim do lado de lá do muro, que seria
exactamente assim que poderíamos construir os sonhos das
nossas vidas, mas não, infelizmente vamos sabendo que a
vida de muitos de nós foi severamente traidora no
diluimento dos sonhos com as lições que o destino quis.
Cada vez que nos encontramos, mau grado sermos cada
vez menos, espreitamos entre e por entre os olhares as
aventuras e as descobertas da criança que fomos, com cada
um, rostos de magra inocência, com a Barretina enfiada
testa a eito, a mesma Barretina que agora cravamos ao
peito, do lado do coração, do lado que nos faz chorar.
Igualmente, não podemos esquecer as nossas Alunas.
Elas vieram em boa hora, tenra que era a nossa juventude
naqueles belos tempos da nossa adolescência interna, elas
vieram e elas nos ensinaram a ser mais mansos, mais
modernos e acabaram por ser as nossas companheiras
Cada vez que nos encontramos, mau grado sermos cada
vez menos, espreitamos entre e por entre os olhares as
aventuras e as descobertas da criança que fomos, com cada
um, rostos de magra inocência, com a Barretina enfiada
testa a eito, a mesma Barretina que agora cravamos ao
peito, do lado do coração, do lado que nos faz chorar.
Cada vez que nos encontramos, rimos, relembramos as
aulas daquele professor que nos marcou para sempre e do
fantasma do Cartolas no primeiro ano de entrada, há 50
anos.
Entre abraços regados pelos gritos de guerra das
“Jacarezadas” e pelas despedidas embaladas pelo Hino do
Pilão, quase nem dá tempo para falarmos das rugas que o
tempo fez questão de nos vincar no rosto.
A internet, que naquele tempo era uma miragem
inatingível, voltou a juntar-nos mais vezes, mas nem mesmo
assim consegue superar ao que em nós vai ficando cada vez
mais raro, cada vez mais longe e cada vez mais saudoso.
Bom grado vermos as novas gerações de Pilões
continuarem.
Tal como a ira das ondas do mar, eles e elas marcham
avenidas acima com o mesmo ar marcial do esplendoroso
orgulho que tanta vida nos deu, o mesmo orgulho que está
nas fotos do móvel da sala ou na parede do quadro que nos
olha todos os dias e que nos dá o alento daquela prontidão,
mas que também nos acende no peito a dor por quem de
nós já não está connosco, dor essa aumentada pelo
sentimento de não termos tido a oportunidade de uma
última palavra na despedida, de um pedido de desculpas, de
um agradecimento e de poder limpar tudo isso com um
último abraço.
Nesta efeméride, queremos apenas recordar sobre o
que de bom conseguimos até hoje, mas a saudade é mais
forte, forte como é a corrente de um rio que cava as
profundezas da realidade dos dias e nos puxa às memórias
daqueles com quem aprendemos a amar a vida através da
camaradagem, da gratidão e da entrega total.
Nesta efeméride, queremos voltar àqueles tempos para
redescobrir convosco tudo o que fomos, mas, com certeza,
não queremos voltar a pesar novamente as injustiças da vida
na falência dos laços que nos fizeram lutar por ela.
No final de contas, e mazelas à parte, fomos uns
felizardos por nos termos conhecido.
Duvidamos que seriamos o que somos hoje se não fosse
convosco, e só por isso, hoje, aqui nesta celebração,
estamos gratos à vida pela vossa presença e por termos
aprendido com cada um o que o livre arbítrio da vida nos
reservou.
Salvé, salvé, salvé!
António Santos, 262/73
50º Aniversário da nossa entrada para o Pilão
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