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em grandes descrições, nem grandes nem pequenas, mas por hora apenas citar algo que se passou meses antes. Acontece que pela mesma consciência e temperamento aquando da conspiração que levou ao histórico 25 de abril, tomei parte ativa na sua preparação, devidamente
Manuel Duran Clemente
(19530030)
Estava nos Deuses. Nunca pensei tal
distinção que o nosso Povo já me tinha
conferido. Festeje-se a simbiose Povo/
Estado agora vivida. Não fizemos o 25 de
Abril para recebermos condecorações.
Quisemos a liberdade, a democracia,
uma maior igualdade e fraternidade.
Que fossemos participantes no nosso
futuro. Quisemos um desenvolvimento
democrático sem o “condicionalismo
industrial” que existia a favor das oito
famílias do salazarismo e que, neste
domínio, se ajustasse a uma justiça
laboral e de investimento de acordo
com as conclusões unânimes do 3o
Congresso da Oposição Democrática de
Abril de 1973. Quisemos o fim da guerra
fratricida entre seres humanos europeus e africanos. Que as suas populações fossem autoras dos seus destinos. Quem merece condecoração é o Povo sofredor e os resistentes à ditadura opressora salazarista. Em boa verdade e, mais vale tarde que nunca, compete-nos compreender e agradecer ao Presidente da Associação 25 de Abril - Coronel Vasco Lourenço, camarada de conspiração e de acção desde sempre - o seu empenho pela justeza da distinção a militares
EM FOCO APE
BOLETIM APE | ABR/JUN 2023
enquadrado por camaradas mais íntimos que militavam, tal como eu, nas forças armadas. Foram meses, semestres, até anos, para germinar aquele grande acontecimento, de transcendental importância para o nosso país e, aconteceu e, cresceu, com altos e baixos, como é lógico, com traições, abusos, medos, enfim, mas o certo é que quem entrou nas operações inerentes o fez sem perseguir benesses ou louvores de qualquer espécie. Dir-me-ão que houve exceções, arrependimentos, traições até, mas isso existe sempre, infelizmente...
Depois de uma certa acalmia no processo houve que recompensar de algum modo os respetivos intervenientes: criaram-se prioridades discutíveis, compadrios de última hora, enfim e, lá foram surgindo em forma de condecorações, embora seguindo uma filosofia de que tudo fora espontâneo, sem querer por isso usufruir quais quer vantagens pessoais. Mas o processo seguiu, os anos foram passando, os critérios adaptados e, eu próprio nunca mais pensei nisso.
Mas eis que no ano da graça de 2021, isto é, passados mais de 47 (quarenta e sete) anos, sou contactado por quem de direito para receber as insígnias da Ordem da Liberdade.
Diz o povo que mais vale tarde que nunca e, sobre a justeza de tudo isto não me quero pronunciar. Tudo vale a pena se a alma não é pequena, também dizia o poeta, e, se calhar também, quem espera sempre alcança..., mas eu, confesso, já nada esperava, mas fico grato por quem se lembrou deste simples cidadão do mundo: - Bem Hajam! E acabo na nossa escola, naquele inolvidável Instituto e digo, Salvé, Salvé, Salvé!
de Abril no acto libertador, e pela sua capacidade de sensibilização do actual PR ,Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que merece os nossos encómios e o nosso reconhecimento pela sua vontade ,já expressa no principio do ano, de distinguir militares de Abril. Os Pilões agraciados, este ano e antes, como já aconteceu, recordam o Pilão e o seu lema “Querer é Poder”, factor adicional à nossa vontade da mudança iniciada em 25 de Abril de 1974.
     Foto Site da Presidência da República
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